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Nikola Jokic: o miúdo sérvio que não gostava de atividade física volta a ser o jogador mais valioso da NBA

Nikola Jokic: o miúdo sérvio que não gostava de atividade física volta a ser o jogador mais valioso da NBA
Ethan Mito/Clarkson Creative

Em criança, Nikola Jokic era alto, tinha peso a mais e já como profissional ninguém esperaria que se viesse a tornar num dos melhores basquetebolistas do mundo. Mas o sérvio é novamente o MVP da temporada regular da NBA, pelo segundo ano consecutivo. É impossível ignorar o impacto e as estatísticas do jogador nos Denver Nuggets e a época 2021/22 foi mais um exemplo disso

Se ainda não o sabiam, no ano passado os portugueses que esperaram pelo nome de Neemias Queta ficaram a saber que a noite do draft da NBA é muito longa para quem assiste do lado de cá do Atlântico. Sendo assim, o único sentimento possível quando se trata da noite do draft de Nikola Jokic é de solidariedade. É que no momento em que o seu nome foi anunciado como a longínqua 41.ª escolha dos Denver Nuggets em 2014, o jogador sérvio estava em casa a dormir. Jokic foi escolhido tão no fundo do draft, numa posição de onde não se espera que brotem estrelas, que quando o seu nome surgiu passava uma publicidade a uma cadeia de fast food na televisão norte-americana. Foi Nemanja, o irmão mais velho, que o acordou gritando ao telefone: “Foste escolhido no draft da NBA, como é que estás a dormir agora?”.

Os anos que se seguiram a esse dia, em 2014, foram obviamente de muito trabalho. Se assim não fosse, Jokic não teria vencido pela segunda vez consecutiva o prémio de MVP (jogador mais valioso) da temporada, anunciou a NBA na última quarta-feira.

O título chega após uma temporada histórica. Foram mais de 2 mil pontos, 1000 ressaltos e 500 assistências. Foi esse domínio que convenceu quem votou e fez com que o sérvio se tornasse o 13.º membro do “clube” de jogadores que conseguiu o título por duas vezes consecutivas. Os outros jogadores do grupo são Giannis Antetokounmpo, Stephen Curry, LeBron James (duas vezes), Steve Nash, Tim Duncan, Michael Jordan, Magic Johnson, Moses Malone e Kareem Abdul-Jabbar (duas vezes). Larry Bird, Wilt Chamberlain e Bill Russell ganharam cada um o prémio em três épocas consecutivas.

Mais impressionante ainda é o facto de Jokic ter chegado a uma média de 27,1 pontos, 13,8 ressaltos e 7,9 assistências numa época em que os Nuggets praticamente não contaram com duas das suas outras estrelas devido a lesões: Jamal Murray e Michael Porter Jr. Numa altura em que várias outras equipas colocaram as culpas dos resultados desportivos nas lesões, Jokic respondeu à chamada e guiou a equipa ao longo das 48 vitórias da temporada. Os Nuggets chegaram à fase do play-off, mas caíram na primeira ronda frente aos Golden State Warriors (4-1).

Talvez isso explique as diferenças nas votações: Jokic recebeu 875 pontos e o segundo mais votado foi o camaronês Joel Embiid, dos 76ers, com 706 pontos. Giannis Antetokounmpo (Bucks) acabou em 3.º, com 595 pontos.

Ethan Mito/Clarkson Creative

"É simplesmente notável o que ele fez. Sei que sou muito tendencioso, mas admito sinceramente que o MVP não é sequer uma competição. Há outros grandes jogadores, não estou a dizer que não sejam grandes jogadores, mas o que Nikola Jokic fez este ano, com esta equipa, com tudo o que tivemos de passar, é incrível”, disse Michael Malone, treinador dos Nuggets, recentemente aos jornalistas.

Jokic sagra-se de novo MVP numa altura em que os Nuggets se preparam para fazer tudo o que conseguirem para segurar o jogador em Denver. Neste momento o sérvio é elegível para uma extensão de contrato que lhe poderia garantir quase 254 milhões de dólares (cerca de 240 milhões de euros) ao longo de cinco épocas a partir de 2023/24.

Quem não ficou muito surpreendido com o resultado da votação foram os restantes jogadores dos Nuggets, que ao longo da temporada acompanharam de perto o seu trabalho. Bones Hyland foi um dos que recorreu ao Twitter para dar os parabéns ao colega. “Estou tão orgulhoso do meu rapaz! Um grande jogador, mas ainda melhor líder e um grande exemplo!”, lê-se.

Houve uma altura em que Jokic e o exercício físico não eram os melhores amigos. "Todos os professores da escola primária me adoravam porque eu andava sempre a brincar. Eu era mais alto que a maioria dos rapazes e raparigas e mais gordo também. Adorava algumas disciplinas como matemática, história, mais ou menos isso. Mas não adorava atividades físicas. No liceu, não conseguia fazer uma flexão", contou em entrevista ao “Bleacher Report”. Mas o basquetebol esteve sempre presente.

A carreira do jogador começou num cesto de brincar que partilhava com os irmãos. Aos 16 anos saiu de casa, em Sombor, uma cidade do norte da Sérvia, para jogar no Mega Leks, onde chegou a vencer o título de MVP, após três anos no clube. Nessa altura já tinha sido escolhido pelos Nuggets, em junho de 2014, mas optou por permanecer na Europa para uma época extra. Em 2015, Jokic chegou finalmente a Denver, onde jogou logo muitos minutos, mesmo como rookie.

Ainda assim, houve uma altura em que o jogo de Jokic não era visto com os melhores olhos. Particularmente a defesa ou a dificuldade que tinha em saltar. O peso também foi uma questão que nem sempre jogou a seu favor. Mas quando a imprensa lhe perguntou se o incomodava não ser tão respeitado como outros jogadores, o sérvio tinha a resposta pronta: “Não quero saber”.

Sete anos e dois troféus de MVP depois, o foco continua a ser a equipa e vencer jogos. Há algumas semanas, o jogador admitiu não saber exatamente onde estava o seu troféu de MVP da época passada, depois de ter mudado de casa. O que se sabe ao certo é onde está Jokic agora que venceu o segundo troféu. "Provavelmente com alguma música, cerveja, amigos por perto, família. Como se deve fazer”, foi assim que o jogador respondeu à questão sobre como iria festejar caso fosse o vencedor.

E foi isso mesmo que aconteceu. O poste soube da vitória depois da sua equipa o surpreender no estábulo em Sombor, onde treina o seu cavalo de corrida, o "Dream Catcher". Junto da família e amigos, o gigante de 2,11m, que em miúdo não gostava de exercício físico, chorou.

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