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O devastador Fulham de Marco Silva: “No início, as pessoas estavam hesitantes. Depois foi o que foi, os adeptos voltaram a ter um sorriso”

Os londrinos garantiram o regresso à Premier League a quatro jornadas do fecho do campeonato, escapando a angústias desavindas. Com 98 golos marcados, 40 deles de Mitrovic, o Fulham está a voar no Championship e pode ganhar o título já este sábado. Em conversa com a Tribuna Expresso, Fabiano Soares (ex-adjunto), Gonçalo Santos (ex-jogador) e Júlio Costa (cientista de dados do clube) explicam quem é Marco Silva e o que foi testemunhado este ano no Craven Cottage

Hugo Tavares da Silva

Clive Rose

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E nos ombros de outros homens, dedicados servos que dão carne aos espíritos do estádio Craven Cottage, lá se aproximou do céu. Quarenta e dois jogos e 98 golos depois, Marco Silva devolveu o Fulham à Premier League e vice-versa.

O clube londrino, que descera de divisão na temporada passada ao lado de Sheffield United e West Bromwich, tem vivido num elevador que ora abre a porta num jardim perfumado e belo, ora num beco sombrio sem esperança. Depois da despromoção e saída de Scott Parker para o Bournemouth — curiosamente, a equipa com quem Marco Silva pode confirmar o título do Championship, no sábado —, o treinador português foi o sucessor escolhido e a tarefa era uma e só uma: promoção à Premier League. Ao seu lado estaria Luís Boa Morte, um canhoto que exibiu aquela camisola branca em 250 ocasiões e que já o acompanhara na aventura no Everton.

Na altura das mudanças, em julho de 2021, o chairman do Fulham, Shahid Khan, explicou a escolha: “Conheci o Marco Silva em Portugal, na semana passada, e fiquei inspirado. A capacidade de trabalho no futebol era evidente, mas ouvi-lo a detalhar as suas experiências em cada paragem como treinador foi profundamente impressionante. O Marco veio preparado para a conversa, com um total conhecimento dos jogadores que temos e ideias para melhorarmos nesta época. Amei a energia dele e o otimismo”.

Apesar de tudo, essa brisa de contentamento não foi automática, pelo menos nos corredores da academia e do estádio do clube londrino. Sentiam-se, adeptos e funcionários, sovados pelo passado recente, com descida de categoria e saída de futebolistas. Era como “uma espiral negativa”. Quem o conta é Júlio Costa, que entrou no Fulham duas semanas antes de Marco Silva, desempenhando o papel de cientista de dados. Há seis anos em Londres, este português, de 30 anos, vive precisamente em Fulham e viu como o sol começou a brilhar e a aquecer de outra maneira após um começo hesitante. Afinal, havia que introduzir uma ideia nova e confiar nela, ainda por cima algo antagónica da que foi implementada por Scott Parker, e isso merece um elogio deste ex-treinador e ex-scout.

“Não me cruzei muitas vezes com o mister Marco, mas com alguns membros do staff, sim. Sou um privilegiado, tenho acesso e consigo ver os treinos. O mister definiu o caminho: um futebol de posse, de controlar o jogo, explorar as alas, atrair as equipas para um lado e jogar pelo outro”, explica resumidamente.

Os números da plataforma WhoScored, na ressaca dos sorrisos e gargalhadas que enchem estádios inteiros, confirmam: melhor ataque (98 golos), mais remates por jogo (16.2), segunda equipa com mais posse de bola (60.4%) e mais acerto no passe (84.1%), só atrás do Swansea (63.9% e 85.6%). Curiosamente, o Fulham é a segunda equipa com menos duelos aéreos conquistados: 15.5 por jogo. O Swansea, talvez inspirado nos tempos de Michael Laudrup, também aqui apresenta uma alergia às bolas que voam, com apenas 10.5 duelos aéreos ganhos por 90 minutos. Já na disciplina, a equipa de Marco Silva apresenta o melhor registo do Championship (58 amarelos e dois vermelhos), confirmando assim as teorias de que chegou a Londres para jogar um futebol atrativo.

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