Nos últimos anos, Portugal tem vivido uma renovação do leque de opções à disposição da seleção principal, com qualidade jovem e abundante a surgir para todas as posições. Todas? Não, há uma posição que resiste à passagem do tempo, qual aldeia gaulesa a manter-se impenetrável perante o assédio romano.
Enquanto os talentos da segunda metade dos anos 90 e do início dos 2000 vão cimentando o seu estatuto às ordens de Fernando Santos, no centro da defesa tudo permanece mais ou menos imutável, com a honrosa e providencial exceção de Rúben Dias — que, ironicamente, não estará disponível para o play-off de acesso ao Mundial 2022.
Ora vamos ao factos: tendo em conta as baixas de Pepe (que teve entretanto um teste positivo à covid-19) e Rúben Dias, dos três centrais de raiz disponíveis para o duelo contra a Turquia, dois (Tiago Djaló e Gonçalo Inácio) não têm qualquer internacionalização pela seleção principal; nos últimos 10 anos, Portugal realizou 30 encontros em fases finais de Mundiais, Europeus, Taça das Confederações e Liga das Nações. Nessas três dezenas de jogos, o único central com menos de 29 anos a ser titular foi Rúben Dias, utilizado de início em seis deles; nos Mundiais de 2014 e 2018 e no Europeu de 2016, Portugal não alinhou com nenhum central com menos de 31 anos.
É legítimo dizer que, antes de Rúben Dias, o último central a afirmar-se na seleção nacional foi José Fonte, que cumpre este ano 39 voltas ao sol. Para vermos como Rúben Dias é um oásis no deserto, se tirarmos o central do Manchester City, os centrais com mais internacionalizações pela seleção principal com menos de 33 anos são Domingos Duarte e Rúben Semedo, com três desafios cada um - e nenhum dos dois está convocado.
Rúben Dias é a única opção minimamente consolidada para o centro do setor recuado de Portugal com menos de 38 anos — Pepe e José Fonte cumprirão quatro décadas de vida em 2023. Mas como chegámos aqui? Que razões há para esta diferença tão gritante entre a abundância de qualidade e talento jovem a surgir noutras posições e o deserto ao nível dos centrais?