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Numa seleção nacional cheia de talento jovem, o eixo da defesa é a exceção. Temos um problema na formação de centrais em Portugal?

Contra a Turquia, dois dos três centrais de raiz à disposição de Fernando Santos não têm qualquer internacionalização. Tirando Rúben Dias, não houve nenhum titular no eixo da defesa da seleção numa fase final na última década com menos de 29 anos — e o jogador do City é o único central português com menos de 33 voltas ao sol e mais de três encontros por Portugal. Falámos com um treinador, um diretor desportivo e um analista de dados para perceber esta dificuldade numa seleção que, noutras posições, se destaca pela abundância de talento

Pedro Barata

TF-Images/Getty

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Nos últimos anos, Portugal tem vivido uma renovação do leque de opções à disposição da seleção principal, com qualidade jovem e abundante a surgir para todas as posições. Todas? Não, há uma posição que resiste à passagem do tempo, qual aldeia gaulesa a manter-se impenetrável perante o assédio romano.

Enquanto os talentos da segunda metade dos anos 90 e do início dos 2000 vão cimentando o seu estatuto às ordens de Fernando Santos, no centro da defesa tudo permanece mais ou menos imutável, com a honrosa e providencial exceção de Rúben Dias — que, ironicamente, não estará disponível para o play-off de acesso ao Mundial 2022.

Ora vamos ao factos: tendo em conta as baixas de Pepe (que teve entretanto um teste positivo à covid-19) e Rúben Dias, dos três centrais de raiz disponíveis para o duelo contra a Turquia, dois (Tiago Djaló e Gonçalo Inácio) não têm qualquer internacionalização pela seleção principal; nos últimos 10 anos, Portugal realizou 30 encontros em fases finais de Mundiais, Europeus, Taça das Confederações e Liga das Nações. Nessas três dezenas de jogos, o único central com menos de 29 anos a ser titular foi Rúben Dias, utilizado de início em seis deles; nos Mundiais de 2014 e 2018 e no Europeu de 2016, Portugal não alinhou com nenhum central com menos de 31 anos.

É legítimo dizer que, antes de Rúben Dias, o último central a afirmar-se na seleção nacional foi José Fonte, que cumpre este ano 39 voltas ao sol. Para vermos como Rúben Dias é um oásis no deserto, se tirarmos o central do Manchester City, os centrais com mais internacionalizações pela seleção principal com menos de 33 anos são Domingos Duarte e Rúben Semedo, com três desafios cada um - e nenhum dos dois está convocado.

Rúben Dias é a única opção minimamente consolidada para o centro do setor recuado de Portugal com menos de 38 anos — Pepe e José Fonte cumprirão quatro décadas de vida em 2023. Mas como chegámos aqui? Que razões há para esta diferença tão gritante entre a abundância de qualidade e talento jovem a surgir noutras posições e o deserto ao nível dos centrais?

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