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A “agulha” era uma costela fraturada: Rafael Nadal vai parar durante oito semanas e perder o arranque da terra batida

A “agulha” era uma costela fraturada: Rafael Nadal vai parar durante oito semanas e perder o arranque da terra batida
Clive Brunskill/Getty

O tenista queixara-se que sentiu muito desconforto e dor ao respirar após a meia-final e a final em Indian Wells, sem saber a razão. Os exames médicos descobriram qual é: uma fratura de stress numa costela, que poderá tirar Rafael Nadal dos courts durante um mês e meio. O espanhol vai falhar os primeiros torneios onde tinha planeado participar na terra batida, a superfície onde é rei e senhor

A “agulha” era uma costela fraturada: Rafael Nadal vai parar durante oito semanas e perder o arranque da terra batida

Diogo Pombo

Editor de Desporto

Apesar do laranja berrante do boné e do casaco a entrar-nos campo de visão dentro, Rafael Nadal estava taciturno na feição. Quase sempre de pose fechado e com cada mão assente no braço contrário, os dedos ainda sustidos por fita adesiva nas articulações, o espanhol, na sua versão mais forreta de sorrisos, estava sentado na cadeira do finalista derrotado que é um poiso tão estranho para ele, seja em Indian Wells ou em outro lugar qualquer onde haja um torneio de ténis para conquistar. Às tantas, perguntaram-lhe sobre a dor.

Não no geral, porque disso o tenista é catedrático por anos de agruras nos joelhos, nos pés, nas costas ou nos cotovelos, mas nas costelas, em particular. Quando Nadal estava a dividir a final do primeiro Masters 1000 do ano contra Taylor Fritz, levou repetidamente as mãos ao peito, queixou-se das dores e chegou a pedir assistência médica, parando o encontro e exibindo um esgar de sofrimento. Alcunhado de touro, o espanhol prevaleceria com esforço, mas acabaria derrotado (3-6, 6-7) pelo americano estreante em vitórias na categoria do andar debaixo dos Grand Slams.

O espanhol a quem este 2021 exibia um sorriso mais do que esbranquiçado — até à final, ia com o registo de 20 vitórias em igual número de jogos feitos este ano — e cuja carreira é ainda mais risonha em ocasiões como a de Indian Wells — em 128 finais jogadas, só tinha perdido 37 — foi empurrado para uma rara conferência de imprensa de finalista vencido, o que só aí explicaria a cara fechada. Mas cedo o questionaram sobre as mãos levadas ao peito e a resposta deu outra razão para essa postura.

“Honestamente”, Nadal não sabia que dor era aquela. Já a sentira durante a batalha com Carlos Alcaraz na meia-final, onde o titã feito foi puxado ao limite pelo titã que já está bem no forno e “nem [teve] tempo para verificar o que era”. Na final contra Taylor Fritz, sentiu-se “como se estivesse uma agulha” dentro do corpo e “tudo o que [podia] dizer é que é difícil respirar”. O espanhol resumiu como era “doloroso e muito desconfortável” cada inspiração que dava, tentando logo arrumar o assunto à pressa, com o seu brio de vencido: “Não é o momento para falarmos do que se passa. Foi uma final, eu tentei, perdi contra um grande jogador e o dia é dele e não precisamos de esconder isso nos meus problemas”.

O tempo que entretanto houve para examinar o corpo do vencedor de 21 torneios do Grand Slam, que já cá anda há 35 anos, serviu para despistar qual era o problema. “Uma fratura de stress no terceiro arco costal” que “se produziu no jogo da meia-final de sábado, em Indian Wells”, lê-se no comunicado emitido pelo tenista, no qual admite estar “arrasado e triste” devido ao “início de temporada tão bom” e à “parte importante do ano” a que estava a chegar “com muito boas sensações”. Era uma parte da época ressonante com a cor do equipamento de Nadal quando apareceu na tal conferência de imprensa.

A temporada ia entrar no pó de tijolo, essa matéria onde não existe outro humano tão omnipotente a jogar ténis como o espanhol, vencedor de 13 edições do torneio que distingue os especialistas em terra batida. Sendo o “tempo para o retorno à atividade desportiva” estimado entre “as quatro e as seis semanas”, Rafael Nadal os primeiros torneios do ano nessa superfície, que lhe serviriam para se aprontar rumo ao Grand Slam francês: é certo que não jogará em Monte Carlo (10 a 17 de abril), em Barcelona (18 a 24 de abril) e em Madrid (1 a 8 de maio).

Dependendo de como o seu corpo se for curando, Nadal poderá trocar os torneios que tinha planeados pela participação no Masters de Roma (8 a 15 de maio). A prova da capital italiana poderá servir de única preparação para Roland Garros, que tem início a 22 de maio. “Sempre tive esse espírito de luta e superação e o que farei é ter paciência e trabalhar no duro após a minha recuperação”, garantiu quem, este ano, teve o segundo melhor arranque de temporada da história do ténis após ter superado uma lesão que o afastou dos courts durante cerca de seis meses.

Feita a vintena de vitórias seguidas que estavam a mostrar um Rafael Nadal em modo supremo, quando já está a meio caminho entre os 30 e os 40, são assim interrompidos por mais uma manifestação do tipo de problemas que a idade costuma tornar mais frequente. A lesão na costela surge quando o espanhol se preparava para atacar a terra alaranjada e batida onde mais reforçou a sua lenda com a raquete. A cara preocupada de Nadal, vestido de laranja, era de quem, porventura, já vaticinava vir daí uma mazela que lhe poderia encurtar o tempo de convívio com a sua cor preferida de piso para jogar ténis.

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