Gabinete de Boris Johnson pediu aos adeptos do Chelsea para não cantarem por Abramovich. “Há temas mais urgentes”, respondeu Tuchel
Alex Caparros - UEFA/Getty
Um porta-voz do primeiro-ministro britânico apelou a que os apoiantes do clube londrino parem com os cânticos "inapropriados" sobre o oligarca russo, o que levou o treinador do Chelsea a interrogar sobre as "prioridades" das "discussões" no parlamento. O Chelsea está impedido de vender bilhetes para as partidas que disputar (os ativos de Abramovich estão congelados) e solicitou à Federação Inglesa que o jogo contra o Middlesbrough, para a Taça, fosse à porta fechada para preservar a "integridade desportiva" — pedido que, depois, retirou
As últimas semanas têm trazido grande agitação à vida do Chelsea. A partir do momento em que a Rússia invadiu a Ucrânia, as atenções voltaram-se para Roman Abramovich, o oligarca que em 2003 comprou o clube e, com os muitos milhões que nele injetou, colocou os londrinos no topo do futebol mundial. Após concluir que Abramovich — que também tem passaporte português — tinha "ligação próxima" a Vladimir Putin, o governo britânico colocou-o entre os oligarcas alvos de sanções, tendo as suas contas e ativos sido congelados. Entretanto, também a União Europeia aplicou sanções que afetam Abramovich.
Ao ser um ativo de Abramovich, o Chelsea passou a ter a sua ação altamente limitada. O clube não pode gerar receitas — por exemplo, está impedido de vender bilhetes para jogos, só podendo assistir às partidas detentores de lugar anual —, está proibido de contratar ou renovar jogadores e até as despesas para viajar para disputar desafios fora de casa ficaram limitadas a cerca de 23 mil euros. Também o processo de venda do clube foi colocado em pausa, tendo os interessados de abordar diretamente o governo britânico.
Apesar de toda esta turbulência, os adeptos do Chelsea parecem continuar devotos ao homem que comprou o êxito do clube nos últimos 20 anos. Nas mais recentes partidas dos londrinos, o nome de Roman Abramovich tem sido entoado pelos apoiantes dos campeões da Europa e do mundo. Em Stamford Bridge, estádio do Chelsea, continua a estar bem visível uma faixa em que se lê "The Roman Empire" ("O Império de Roman", num jogo de palavras com o império romano), com a cara do oligarca russo.
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Perante estas demonstrações de apoio, um porta-voz de Boris Johnson veio pedir que os adeptos do Chelsea parassem com os cânticos "inapropriados": "Reconhecemos a força do sentimento que as pessoas têm pelos seus clubes, mas isso não desculpa o comportamento absolutamente inapropriado nesta altura. Acho que é possível mostrar paixão e apoio pelo clube sem recorrer a esse tipo de coisas", afirmou uma pessoa do gabinete do primeiro-ministro britânico.
Segundo o governo liderado por Boris Johnson, os "laços fortes" entre Abramovich e Putin levaram a que, ao longo dos anos, o ainda dono do Chelsea tivesse "recebido tratamento preferencial" por parte do Kremlin. De acordo com a justificação das sanções impostas, Abramovich teve um papel fundamental na candidatura russa para o Mundial 2018 e, através dos seus negócios, contribuiu para "destabilizar a Ucrânia e ameaçar a sua integridade territorial, soberania e independência".
O executivo britânico acusa Roman Abramovich de, através da empresa Evraz plc — da qual o oligarca tinha uma "significativa percentagem das ações, mas cujo controlo efetivo exercia" —, ter fornecido aço ao exército russo, com vista à construção de tanques. Uma investigação da "BBC" revelou indícios de corrupção nos negócios de Abramovich.
Confrontado com as palavras do porta-voz de Boris Johson, Thomas Tuchel, treinador do Chelsea, considerou haver "temas mais urgentes para discutir e tratar" neste momento. "Não sei se essa é a matéria mais importante para ser discutida no parlamento. Se for, talvez nos tenhamos que preocupar com a prioridade das discussões que lá decorrem", atirou o alemão. Na antevisão à segunda mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, frente ao Lille, Tuchel voltou a garantir que "enquanto a equipa tiver camisolas", irá "lutar de forma árdua pelo êxito".
Entretanto, o Chelsea reagiu à impossibilidade de vender bilhetes para a deslocação ao terreno do Middlesbrough, marcada para sábado e a contar para a Taça de Inglaterra. Os londrinos pediram à direção da Federação Inglesa para que o duelo fosse realizado à porta fechada para preservar a "integridade desportiva". Ao não poder vender mais bilhetes para os seus adeptos — cerca de 300 foram comprados antes das restrições —, o Chelsea considera que impedir que os apoiantes da equipa da casa se desloquem ao estádio é "o mais justo".
Mark Bullingham, CEO da Federação Inglesa, disse que a sua "opinião" é que o Middlesbrough-Chelsea não deveria ser disputado à porta fechada. No entanto, Mark Bullingham sublinhou que a decisão não passa apenas por si, mas por um "comité". O clube anfitrião do jogo, também em comunicado, classificou a sugestão de "bizarra" e "sem qualquer tipo de mérito", acrescentando que é também "extremamente irónica". Mais tarde e ainda esta terça-feira, a FA informou que o Chelsea abdicou do pedido para o encontro decorrer à porta fechada, revelando que "há uma discussão em curso" para "ser encontrada uma solução".