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Chelsea de Abramovich com contas congeladas e patrocinadores em risco, mas interessados na aquisição podem abordar Governo britânico

Chelsea de Abramovich com contas congeladas e patrocinadores em risco, mas interessados na aquisição podem abordar Governo britânico
Catherine Ivill - AMA
O clube londrino é o tesouro de Roman Abramovich, um dos sete oligarcas russos alvos das sanções do Governo britânico, na sequência da invasão russa à Ucrânia. Se os bloqueios ameaçam o futuro do Chelsea, o proprietário viu-lhe serem congelados bens valiosos como uma mansão e uma penthouse, avaliadas em cerca de 180 e 35 milhões de euros, respetivamente

A certa altura, no verão de 2004, dois enormes iates estacionaram à frente das praias do Estoril. Diziam as bocas populares, num irresistível e inocente passa-palavra, que eram de Roman Abramovich ("um deles é para os funcionários"), o patrão do Chelsea, então novo clube de José Mourinho. Jogava-se ou estava prestes a começar o Campeonato da Europa, em Portugal, e as peças do FC Porto campeão europeu eram tremendamente apetitosas. Faziam sentido, os rumores.

É que, na época anterior, o russo de quem se sabia pouco já desembolsara uma quantidade importante de notas para contratar muitos futebolistas que ousaram vestir de azul para agitar a hegemonia do Manchester United de Alex Ferguson e as estéticas e gloriosas aventuras do Arsenal do senhor Wenger – Glen Johnson [escutar som de caixa registadora a cada nome], Geremi, Damien Duff, Wayne Bridge, Juan Sebastián Verón, Joe Cole, Adrian Mutu, Alexei Smertin, Hernán Crespo, Claude Makelele e Scott Parker. Se Claudio Ranieri logrou um excelente segundo lugar, só atrás dos Invencíveis, e uma magnífica viagem até às ‘meias’ da Liga dos Campeões, José Mourinho, cujo nome soava tão bem quando entoado no Stamford Bridge, conquistou a prata que tantos ansiavam há demasiado tempo.

Phil Cole

Foi assim o arranque da era Abramovich no Chelsea, atual campeão europeu. Agora, com a invasão da Rússia na Ucrânia, foi tudo por água abaixo, com as sanções de sete oligarcas russos no Reino Unido. O dono do Chelsea é um deles, que se apressou a tentar vender o clube, mas o Governo de Boris Johnson bloqueou as operações do emblema de Londres, nomeadamente as transferências, vendas de bilhetes e de merchandising e até a própria venda em si, concedendo apenas uma licença especial para os blues funcionaram de forma regular, ou seja, garantindo a organização de jogos e o pagamento de salários aos funcionários.

Esta sexta-feira ficou a saber-se que os interessados em comprar o clube inglês podem abordar o Governo nesse sentido. Segundo o “The Guardian”, estarão interessados na aquisição homens como Nick Candy, um magnata britânico, Hansjörg Wyss, um bilionário suíço, John Harris, um norte-americano milionário que é acionista do Crystal Palace, e ainda Todd Boehly, um dos proprietários dos LA Dodgers,

Mas por estes dias, em Londres, as más notícias caem do céu como os mísseis nas cidades ucranianas. De acordo com o “The Times”, as contas bancárias do Chelsea estão a ser congeladas, o que poderá paralisar o clube economicamente. A tal licença especial para operar poderá ser severamente afetada, colocando um grande ponto de interrogação no futuro da entidade londrina. As receitas das transmissões televisivas e de prémios, por exemplo, também serão impossíveis de movimentar.

Na quinta-feira, o principal patrocinador do clube, pelo menos o que era transportado pelos jogadores a cada jogo, suspendeu a parceria. A Three, uma companhia telefónica que pagaria perto de 50 milhões por ano para viajar no torso dos futebolistas, exigiu mesmo que o seu logotipo fosse retirado da farda azul. “Reconhecemos que esta decisão terá impacto nos muitos adeptos do Chelsea que seguem a equipa apaixonadamente. Contudo, sentimos que, dadas as circunstâncias e a sanção do Governo em vigor, é a coisa certa a fazer”, pode ler-se num comunicado da telefónica.

Mas a debacle pode ser muito pior, escreveu ainda o “The Guardian”, mencionando que a Hyundai, que paga quase 12 milhões por ano ao clube, também está a analisar a situação, o que pode culminar num rompimento de contrato. A Nike, com quem o Chelsea assinou um contrato de 15 anos em 2016, no valor de pouco mais de mil milhões de euros, optou por retardar a reação, mantendo o futuro numa zona cinzenta. Rob Harris, jornalista da Associated Press, informou ainda esta sexta-feira que a Trivago está empenhada em colaborar na transição para outros donos, concluindo-se assim que não estará interessada em romper o vínculo.

É inevitável e parece irrecuperável: a vida de Roman Abramovich, com ligações importantes a Vladimir Putin, o Presidente da Rússia, mudou muito desde que aqueles dois iates encheram o horizonte de quem se banhava nas praias da linha de Cascais. Além do esfumar da sua influência no Reino Unido, a carteira também está num processo de encolhimento avassalador, já que, depois da impossibilidade de vender o Chelsea, o russo viu outros valiosos bens congelados, como uma mansão, avaliada em 180 milhões de euros, perto do Palácio de Kensington, e ainda uma penthouse, que custa qualquer coisa como 35 milhões de euros, e que fica perto do Stamford Bridge, um lugar onde o oligarca dificilmente voltará nos próximos tempos.

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