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Aos 50 anos, Kelly Slater diz que vai disputar “todas as etapas” do Mundial de surf. Mas para entrar na Austrália tem de estar vacinado – e ele dá a entender que está

O surfista norte-americano ganhou em Pipeline e é líder do circuito mundial. Para sonhar com o título, estar em todas as provas será essencial e Slater diz que o quer fazer, mesmo que a sua entrada na Austrália esteja em dúvida, depois de se posicionar como cético da vacina da covid-19. Mas recentes declarações fazem crer que Slater poderá mesmo ter optado por se vacinar, apesar do veterano não abrir completamente o jogo

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Há muitas maneiras, umas mais ativas que outras, de um cidadão da espécie humana ultrapassar a barreira do meio século de vida. Kelly Slater terá escolhido uma inédita: manter-se como um dos melhores do seu desporto, a ganhar, ao lado de rapazes com idade para serem seus filhos. Poucos dias antes de completar 50 anos, o surfista norte-americano venceu pela oitava vez na mítica onda de Pipeline, no Havai, colocando-se oito anos depois de novo na liderança do circuito mundial de surf.

Onze vezes campeão mundial, a facilidade com que domou as vagas de Pipeline, uma das ondas mais difíceis que os mares oferecem aos surfistas, trouxe a questão: poderá Kelly Slater, aos 50 anos, feitos na última sexta-feira, atacar a dúzia completa de títulos?

A pergunta tem em si muito mais do que a idade do surfista, um estado de forma, um momento, uma força mental. Num campeonato tão curto, com apenas 11 etapas (uma delas em Portugal, em Peniche, já no início de março), faltar a um evento pode significar desde logo perder o comboio. Numa entrevista ao site da World Surf League (WSL) publicada no dia do seu aniversário, Slater anunciou que planeia “ir a todas as etapas” de 2022, algo que não tem conseguido fazer nos últimos cinco anos. “Tenho esse compromisso”, sublinhou.

Mas Kelly Slater, muito mais do que as 50 primaveras e das dores que a idade traz, terá um suposto handicap na hora de cumprir esse compromisso: o surfista já se posicionou como um cético da vacina contra a covid-19 e para se entrar na Austrália é obrigatório estar vacinado. Austrália que vai receber não uma mas sim duas etapas do circuito mundial, em Bells Beach e Margaret River, em abril.

Slater na Austrália, em 2019 (FOTO: Matt Dunbar/World Surf League via Getty Images)

Slater na Austrália, em 2019 (FOTO: Matt Dunbar/World Surf League via Getty Images)

Como se viu com o circo do caso Novak Djokovic, que no mês passado foi deportado da Austrália, não podendo assim disputar o primeiro torneio do Grand Slam do calendário, lá nos antípodas não se olha a nomes e Slater, se não estiver vacinado, poderá mesmo ser impedido de disputar as provas. Contudo, numa outra entrevista, desta vez à agência Reuters, o surfista deixou no ar a possibilidade de já ter sido inoculado, quando questionado sobre se já estaria vacinado.

“É uma questão importante e há uma razão pela qual eu não falo disso, que é pessoal. Eu acredito na privacidade médica. Mas eu acho que o meu ‘vejo-vos na Austrália’ responde a isso”, atirou Slater.

Título mundial no horizonte. E depois?

Ao site da WSL, Kelly Slater foi comedido na hora de se colocar como candidato ao título de 2022, que aconteceria 11 anos depois do seu último triunfo. “Sei que tenho trabalho a fazer, não estou nem perto disso. Tenho de trabalhar muito desde agora até ao fim do ano. Tenho de agarrar aquele top 5”, sublinhou.

Slater diz que o objetivo passa por “tentar ganhar algumas etapas este ano”, agora que recuperou os níveis de confiança que qualquer vitória em Pipeline dá. Na mesma entrevista ficou no ar a possível retirada, quando o surfista falou sobre o final da época, que terá lugar em Trestles, a praia californiana que é especial para Kelly. “Ir a Trestles é – será – um final agridoce para mim. Isto eventualmente terá de acabar. Haverá alguma tristeza quando isso acontecer, mas também alívio. Foi em Trestles que ganhei a minha primeira prova depois de me tornar profissional, em 1990. Ainda estava na escola secundária. Ganhei 30 mil dólares”, relembrou.

Para lá chegar, Slater terá de ser um dos cinco melhores atletas da temporada. “Se chegar ao top 5, seria um belo sítio para acabar, se eu escolher que essa seja a minha última prova”, afirmou, antes de sublinhar que é “o desejo, aquele desejo” aquilo que o faz continuar com a mesma fome de sempre aos 50 anos.

“Há também o desafio, se consegues chegar fisicamente ou mentalmente a esse desafio e confrontá-lo. Isso também me dá força. E além disso tenho um irmão mais velho e tive de competir com muitos tipos mais velhos do que eu quando era miúdo”, brincou, antes de revelar a mensagem que dias antes tinha enviado ao irmão mais velho.

“Disse-lhe: ‘Acho que o monstro que ajudaste a criar finalmente foi domado’”, atirou. Ao ponto de Slater ter colocado para trás as suas convicções para tentar um novo título? Em abril, na hora de viajar para a Austrália, essa resposta ficará mais clara.