Esteve agora uns meses sem trabalhar e, hoje em dia, já se veem bastantes treinadores a tirarem períodos sabátivos, como o Pep Guardiola ou o Carlo Ancelotti fizeram, para desligarem um bocado da bola. Foi isso que fez?
Foi um misto entre o aproveitar para estar com a família e usufruir do tempo disponível. E, ao mesmo tempo, não digo que foi constante, mas também aproveitámos para ver jogos e estarmos dentro do processo. Ver jogos com uma visão um bocadinho despreocupada, ver as coisas de um outro prisma. E foi muito interessante porque, como não havia o stress da competição e via de forma mais desligada, juntamente com o ir falando com pessoas do futebol nas várias vertentes. Foi um período muito bem aproveitado. Além disso e principalmente, foi usufruir um bocadinho do que, às vezes não temos nesta carreira, que é muito stressante. Mesmo durante as férias, um treinador nunca está de férias.
Um jogador ainda vai podendo desligar.
Desliga a ficha e pronto, mas um treinador, mal acaba o campeonato, começa logo a pensar nas coisas e mesmo que vá com a família nunca está 100% disponível, nem de perto, nem de longe. Por isso, estes períodos servem exatamente para isto e é curioso como cada vez mais gente está a sentir esta necessidade, porque isto é stressante e há a necessidade de reequilibrar a nossa mente.
Prefere ver futebol assim de forma mais lúdica, refastelado no sofá, ou gosta mais de analisá-lo em contexto de trabalho?
Gosto das duas maneiras, a sério. Há momentos em que ligo o chip para analisar e pensar, como treinador, o que podemos fazer; e noutras gosto, de forma despreocupada, de sentir a emoção quase como adepto e sem estar a puxar pela cabeça. Faço estes dois exercícios.
Ao fim de 20 anos de carreira decidiu entrar numa seleção e ficar com outro ritmo de vida. Porquê?
Houve um momento nesta fase em que parei em que comecei a pensar. Não sou um treinador velho nem nada que se pareça e faltava um pouco isto no meu currículo. Claro que se não acontecesse, não acontecia, porque é o que se passa com muitos treinadores, e pensei: “Porque não acrescentar esta parte da preparação e sentir o que é esta experiência?”. Na realidade, desde que comecei, enquanto jogador passei por uma série de treinadores, divisões e zonas do país, e como treinador passei praticamente por tudo. Desde começar numa II divisão e trabalhar com miúdos, depois lutar para não descer, lutar para subir, depois Liga Europa, ser campeão, taças disto e taças daquilo, ir para o estrangeiro... Portanto, faltava-me aqui esta vivência. Estou nesta altura, ainda um jovem, e acabo por ter este manancial, este menu quase completo. Foi um bocado isso que me aliciou. Depois, o Egito ser uma nação enorme com 120 milhões de pessoas e um desafio diferente, com aspetos organizativos, o que me motivo para estar neste projeto e ver as coisas de outra maneira. Não estar tão focado com jogos, mas pensar o futebol de outra forma e por a mão na massa naquilo que é a organização do futebol, pensar o jogo e o jogador, ter mais tempo para essas questões. Foi isso que me aliciou.