Pedro Martins: "Nós, treinadores, temos a mania de controlar tudo e todos. Tivemos que mudar. Praticamente não trabalhámos o processo"
É o treinador com maior longevidade no Olympiacos este século e falta pouco para bater o recorde de vitórias no clube. À terceira época na Grécia, Pedro Martins está, também, perto de ser o português com mais títulos conquistados no país. Isto no ano em que teve jogos a cada 72 horas, como muitos clubes com andanças europeias, mas apenas 15 dias de pré-época: "Se não fosse o mesmo treinador e, na grande maioria, os mesmos jogadores, que conhecem o processo e sabem como trabalhamos e o que é pretendido, as coisas seriam muito mais difíceis"
02.04.2021 às 8h30

Sebastian Frej/MB Media
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Sem querer agoirar, tem pensado nesta paragem de seleções que está a encaminhar-se para ser o treinador português com mais título conquistados na Grécia?
Não, as coisas têm vindo a acontecer com naturalidade, não pensei nisso. O facto de termos esta vantagem e, progressivamente, termos ganhado esta almofada ao longo da época, com uma consistência exibicional muito boa, condizendo com os resultados, sinceramente não fui pensando nisso. Essas coisas acontecem posteriormente, sobretudo estamos focado no que fazemos diariamente. Até porque ainda está muita coisa em jogo, o campeonato e a Taça da Grécia, mais as competições europeias. Este ano praticamente não parámos para respirar. Foi um ano difícil, com muita competição, muito deslocamento, muitos quilómetros de estrada, horas de estágio... enfim, foi um ano difícil. Mas quando se conjuga com resultados positivos, as coisas tornam-se mais fáceis.
Como tem sido trabalhar nestas épocas com pandemia, em que há jogos de três em três dias e tem de se pensar em microciclos em que praticamente só entra recuperação?
Temos de ter uma flexibilidade tremenda. Deixámos de fazer aquilo a que estávamos habituados. Com regularidade, nós, treinadores profissionais, temos tendência a tentar controlar tudo e todos, desde o treino até à competição, e nestes momentos tivemos que mudar. Tem sido uma experiência difícil, mas gratificante, particularmente a do Olympiacos e vou explicar porquê. Quem participou sempre nas competições europeias praticamente não teve tempo para recuperação. Foi sempre competir, competir, competir. Mas, no Olympiacos, acabámos a época, tivemos uma semana de férias e, em 15 dias, praticamente já estávamos a competir na final da Taça da Grécia [12 de setembro]. Por isso é que digo que no Olympiacos, particularmente, foi mais difícil - não tivemos, como a grande maioria dos clubes, no mínimo 20 dias de férias, ou um mês de preparação. Foi ainda mais atípico no Olympiacos e depois jogámos continuadamente até ao Natal, quando dei uma semana de férias ao grupo de trabalho e depois, até agora, não parámos. Foi sempre jogos ao domingo e à quarta-feira. Preparar uma época para a outra em 15 dias e o que nos permite ter este sucesso foi a continuidade do treinador e da grande maioria dos jogadores. Se houvesse muitas mudanças, temo que iria ser muito mais difícil.
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