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Francisco Santos

Francisco Santos

Nadador olímpico

O treino conciliado com os estudos - a experiência do nadador olímpico Francisco Santos

O atleta olímpico de 24 anos fala da sua experiência como estudante e nadador, num contexto de mudança de país de Portugal para os Países Baixos

Francisco Santos

OLI SCARFF/Getty

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Quando decidi deixar Portugal e mudar-me para os Países Baixos sabia que me estaria a colocar numa situação desafiadora, mas também cheia de oportunidades. Os Países Baixos são conhecidos pelas suas condições de vida avançadas, infraestruturas e oportunidades de emprego em diversas áreas e eu estava ansioso por experimentar tudo isso.

Estou a terminar o mestrado em Engenharia Eletrotécnica e Computadores e as ofertas de emprego e estágios em Portugal pareceram pouco aliciantes. Por outro lado, nos Países Baixos o setor está em expansão e as oportunidades para um jovem recém-formado são muitas.

A ideia de viver fora de Portugal começou a ganhar forma durante a minha licenciatura. Queria ter feito Erasmus mas nunca consegui por querer continuar a minha carreira como nadador. Tinha as minhas prioridades bem definidas. Só que era ingénuo por não perceber que o treino pode ser feito em qualquer lado. Tornar-me olímpico abriu-me algumas portas, e se já tinha conseguido mudar-me para Lisboa e para o Sporting, porque razão não conseguiria fazê-lo de novo noutro país?

Então, em setembro de 2022, no início da presente época, a 2 anos dos próximos Jogos Olímpicos e na reta final do curso, decidi mudar-me para Amesterdão. Eu tinha um plano bem definido: treinar com os Dolfijns e entregar a minha tese em outubro. Depois começaria a procurar emprego e iniciar a minha carreira como Engenheiro.

Chego no primeiro dia, voo atrasado, sem jantar, e com uma mala de 15 kg às costas. Sinto desde logo que era um país organizado (não lhes vou atribuir os atrasos dos aviões pois já é tão comum em Lisboa) e seguro pois apesar de ser tarde quando cheguei a casa, nunca me senti inseguro (até me ajudaram nos transportes!). No dia seguinte, sou surpreendido com as belíssimas paisagens urbanas dos Países Baixos, mais precisamente Leiden, uma pequena cidade universitária, assim como uma Coimbra perto do mar. Pessoas na rua a andar de bicicleta, muitos espaços verdes, canais, os reflexos desses canais. Até os transportes públicos eram eficientes e fáceis de usar. Tudo parecia simples e lindo (talvez por ser novidade)!

Diversos episódios se passam, mas finalmente chegamos ao tão aguardado outubro. Quando me dei conta de que não seria capaz de entregar a tese na data prevista tive de alterar o meu plano inicial. Tentei procurar estágios que me permitissem conciliar a minha vida académica, desportiva e profissional. No entanto, a carga horária exigida nesses estágios era demasiado elevada e o meu foco continua a ser terminar a tese. Decidi, portanto, que me iria focar somente em treinar e concluir o meu mestrado durante os três meses seguintes.

Fazer a tese em casa ao meu ritmo parece que tem tudo para dar certo, mas na verdade tem tudo para dar errado também. Houve momentos tensos durante este processo em que tudo parecia incerto e sem sentido. Quando começas a pensar porque estás a fazer o que estás a fazer e se faz sentido continuar a fazê-lo. Será que deveria desistir e procurar outro caminho? Estas são algumas das questões que um jovem adulto levanta ao realizar uma tese de mestrado em casa. Mas a verdade é que momentos tensos são essenciais para o processo de crescimento e é aí que podemos aprender mais sobre nós mesmos e sobre a nossa capacidade de superação.

Agora continuo a trabalhar na minha tese e a cada dia que passa gosto mais do meu trabalho e não me arrependo nada da área que escolhi estudar. Cada vez mais perto de terminar uma grande aventura. Esta é a minha perspetiva dos Países Baixos em 5 meses. Uma versão resumida e condensada.