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Crónica
João Allen

João Allen

Skateboarder

Carrinha atolada na neve? Não há problema, está ali um corrimão numa ponte para saltar a reboque de uma moto

Ao quarto dia nos Montes Kaçkar, na Turquia, o surfista Filipe Jervis, o skater João Allen e o snowboarder Ricardo Araújo ainda não conseguiram dar grande uso às pranchas. Quando o último viu um corrimão na rua perto do sítio onde o seu veículo ficou preso durante três horas, pôs-se a criar rampas na neve para tentar uma acrobacia

João Allen

Pedro Mestre

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Pela primeira vez em quatro dias, vimos o sol.

Parecia estar tudo encaminhado para termos um dia normal. Quase. Começou com um dos momentos mais bonitos da minha vida, saímos do hotel na moto de neve e fomos até à carrinha a ver o nascer do sol na tranquilidade de uma montanha sem ninguém. Lindo. Mas chegámos à carrinha e, uns 400 metros depois de arrancarmos, afundámos a carrinha na neve. Clássico. A partir daí começou uma luta de três horas para a tirar que não foi bem sucedida e tivemos que chamar um limpa-neves para nos ir desatolar.

No meio desta espera, reparei que havia um corrimão numa ponte ali ao lado que dava para dar uma manobra fixe e comecei a preparar a neve para o tentar fazer antes da ajuda chegar. Não fui a tempo, mas deu para perceber que a minha ideia era possível e ficou guardado para mais tarde. Entretanto, lá conseguimos tirar a carrinha e arrancámos com destino a Petran, uma povoação onde foram feitas as primeiras ‘pranchas’ de snowboard. O nosso objetivo: entrevistar um local que continua a fazer réplicas dessas pranchas usadas antigamente para descer da povoação. Mas a estrada para Petran estava cortada e, então, este plano foi passado para sexta-feira.

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Pedro Mestre

Como não conseguíamos subir a Petran e já era demasiado tarde para tentar outro pico, decidimos voltar para o sítio onde tínhamos atolado a carrinha para eu tentar dar a minha manobra. Mais uma horinha a dar à pá e estava pronto para tentar. Para ganhar velocidade para o corrimão, estava a ser puxado por uma moto de neve e a saída do corrimão era para um patamar abaixo da ponte e depois tinha outro lá para baixo. O problema é que a neve estava demasiado mole e a rampa de aterragem abatia, em vez de me deixar aguentar o impacto e continuar para a outra parte.

Long story short, não funcinou, mas deixei as rampas preparadas para gelarem e endurecerem durante a noite para voltar lá amanhã ou depois e conseguir acertar. No meio disto tudo, o resto do pessoal estava todo a congelar por estar parado e quando percebemos que não ia dar, toca a arrancar para o hotel. Mais uma voltinha nas motos. Desta vez, não fui só com o driver, mas com mais dois, o que fazia a viagem mais lenta. Vinte minutos com -17.ºC na motinha foi uma maravilha. Posto isto, chegámos ao hotel e cá estamos a beber uma cervejinha e a preparar o amanhã.

* Este texto faz parte de uma série de crónicas escritas por um surfista (Filipe Jervis), um skater (João Allen) e um snowboarder (Ricardo Araújo) profissionais durante uma viagem à Turquia em busca de ondas, neve e ruas para rolar, fruto de uma parceria entre a Tribuna Expresso e a Dakine Expedition.