As jornadas felizes não têm história. Jornadas felizes são aquelas em que, com maior ou menor dificuldade, como se diz em futebolês, os três grandes ganham os seus jogos, sem grande dispêndio de energia, sem nota artística, sem um golo para a história. São jornadas em que os grandes cumprem o dever histórico e financeiro da vitória. Desta vez, o Benfica ganhou em casa e a única história digna de registo foi a primeira volta de Roger Schmidt no carrossel da rotatividade. O Porto fez o passeio anual a Portimão que, mesmo no outono e neste outubro atípico, costuma ter temperaturas mais agradáveis do que o resto do país. Já o Sporting deslocou-se aos Açores para reabilitar Adán, que tinha saído chamuscado da visita ao Vélodrome.
Falemos, então, do guarda-redes espanhol. O problema de Adán em Marselha foi não ter dado um frango monumental, um daqueles frangos históricos. Fez uma exibição horripilante, sem dúvida, mas nos dois primeiros golos falhou com os pés e no lance da expulsão usou as mãos onde não devia. Repito: não houve um frango. E um frango, na sua comicidade, no seu carácter inusitado, é perdoado com rapidez. Até pode entrar para o anedotário dos adeptos, uma memória partilhada anos depois com um sorriso nostálgico e indulgente. Porém, uma exibição desastrosa sem um frango, sem um acidente (ou com tantos acidentes que nada parece acidental), é muito mais preocupante.
Um súbito declínio das capacidades de Antonio Adán seria preocupante por duas razões: 1) pela memória ainda fresca da importância das exibições do guarda-redes na temporada do título e 2) por o eventual substituto do espanhol ser um novato que, depois de entrar, teve uma daquelas saídas “ricardianas” que podem não destruir uma carreira mas que em nada a ajudam. Por estas razões, Rúben Amorim precisava de uma resposta rápida. De ele, enquanto treinador, ser capaz de a dar, pondo Adán a titular contra o Santa Clara sabendo que no próximo jogo da Liga dos Campeões terá de jogar Franco Israel. E de Adán dar a resposta em campo. Ambos, treinador e jogador, responderam afirmativamente, com valentia e talento. Problema resolvido. Para já.