Leio algures que David Neres esteve apagado, fez o pior jogo desde que chegou ao Benfica, foi alvo de uma marcação impiedosa. E fico contente. Porquê? No Benfica, qualquer bom jogador corre o risco de se afogar num mar de elogios extemporâneos. Ainda mal tocou com a ponta dos dedos na água e já lhe adivinham braçadas olímpicas, fenomenais. Um passe de calcanhar, um nó cego, um pontapé de bicicleta, um põe-de-um-lado-e-vai-buscar-do-outro e está encontrado o ai-Jesus do Terceiro Anel.
“O menino é ouro!” deve ser a segunda frase de Béla Guttmann mais conhecida dos benfiquistas que ainda hoje suspiram pela repetição desse momento de Arquimedes aplicado ao futebol. O instante alquímico que não oferece dúvidas, a descoberta do génio que dá sentido a tudo. Embora saiba reconhecer e adotar os que demonstram virtudes guerreiras ou laborais, o que o benfiquista mais deseja é ver aquele jogador que não engana, o génio nato, o artista.