Como é que é aquela citação das famílias felizes e das famílias infelizes? Agora não me lembro. Do que me lembro bem é das loas que se cantaram à família e ao amor filial quando, há coisa de um ano, pai treinador e filho jogador se abraçaram com os rostos banhados de lágrimas para grande comoção de adeptos que não costumam ser tão sensíveis a estes instantes. Aquilo é que era, a pureza do futebol, o orgulho paternal, a união do sangue. Só faltou um poema de Manuel Alegre para imortalizar a cena: Dragão com filhote ao colo, óleo sobre tela, estádio do Dragão, 2021.
Como qualquer bom cínico teria visto, estavam aqui os ingredientes essenciais para uma tragédia. E ela veio. Em tons cómicos, como grande parte das tragédias futebolísticas. Francisco Conceição, um dos protagonistas daquela cena enternecedora que derreteu corações de pedra, ganhava míseros dois mil euros mensais no Futebol Clube do Porto e após longos meses de negociações (dizem eles) não chegou a acordo para a renovação do contrato, nem sequer para a alteração da cláusula de rescisão, na ordem de uns igualmente míseros (à escala futebolística) cinco milhões de euros e parece que vai prosseguir a carreira nos Países Baixos, no Ajax de Amesterdão.