Crónica de Jogo

O United foi ao outro lado de Manchester prolongar o pesadelo de Ruben Amorim

O United foi ao outro lado de Manchester prolongar o pesadelo de Ruben Amorim
Simon Stacpoole/Offside

Os reds devils foram duramente derrotados (3-0) no dérbi contra o City, seguindo apenas com um triunfo em cinco encontros na época. Haaland, com um bis, foi a figura de uma partida em que o United poderia ter sido humilhado

O United foi ao outro lado de Manchester prolongar o pesadelo de Ruben Amorim

Pedro Barata

Jornalista

Se o ano passado foi o ano zero de Ruben Amorim no Manchester United, este é o ano um. O recomeço, a reconstrução. Novas formas, esperanças renovadas, um edifício fresco e estimulante a ser construído, longe dos traumas do passado recente.

Vamos a isso. Bem, vamos? A baliza continua a ser do inseguro Altay Bayindir. No meio-campo continuam Bruno Fernandes e Ugarte, na esquerda há o impreciso Dorgu. Na frente há novidade, eis Šeško. Adeus Højlund, ponta de lança com dificuldades para marcar golos, olá Šeško, ponta de lança com dificuldades para marcar golos.

Na segunda parte sai do banco Maguire, mais para ser herói no desespero do que para dar segurança na defesa. O edifício talvez não seja tão renovado, fresco ou estimulante.

Cinco jogos na época, apenas uma vitória, surgida quase por milagre contra o Burnley. Houve o choque da queda contra o Grimsby, da quarta divisão, que eliminou os red devils da Taça da Liga. Houve uma derrota contra o Arsenal, um empate no Fulham.

Quatro rondas, quatro pontos. E isto porque a época 1.0., o recomeço, trouxe mais pesadelos. Dérbi de Manchester: City 3-0 United.

O cabeceamento de Foden para o 1-0
Alex Livesey - Danehouse

Talvez o pior para Ruben Amorim seja a sensação de que a derrota foi suave. Que podia ter sido pior, que poderíamos ter assistido a uma humilhação histórica. Foram três, houve um momento em que parecia que seriam quatro ou cinco.

O problema são muitos problemas. É preciso muito para sacar algo dos jogos, muito para marcar e ser feliz. É preciso pouco para sofrer, para ter de remar contra a maré.

O dérbi de Manchester tem sido uma rivalidade em constante mutação. Começou por ser o desafio entre a força que dominava o futebol inglês e o "vizinho ruidoso", como lhe chamou Ferguson, um embate entre o poder estabelecido e quem tentava chegar lá acima; tornou-se, depois, num embate entre um império e um caos, entre um modelo de êxito financiado por petrodólares, coerente e brutalmente vencedor, e um clube recheado de fantasmas e problemas estruturais.

Por estas alturas, o City-United é um embate mais indefinido. Guardiola tenta reconstruir, enterrando uma equipa campeã e procurando construir outra, Amorim tenta sobreviver com um olho no futuro e outro no presente, crescendo para o que aí vem sem permitir que o agora não seja tão desastroso como em 2024/25.

A questão para o United é que cada ataque faz lembrar um aluno a realizar um exame para o qual só estudou na véspera, tentando relembrar-se das fórmulas, das soluções, dos atalhos. Não é fluido, é como tentar falar uma língua estrangeira pensando sempre no idioma nativo, um permanente exercício de será que é assim que se faz?

O 1-0 surgiu aos 18', marcado por Foden, um rapaz da área de Manchester que sente o dérbi como poucos. Doku desequilibrou como se fosse um desenho animado, driblando em velocidade acelerada e passando entre Shaw e Dorgu. O cruzamento encontrou o canhoto, que marcou de cabeça.

Alex Livesey - Danehouse

Bruno Fernandes e Bernardo Silva foram os capitães, Ruben Dias também foi titular. A certa altura do primeiro tempo, Pep, de capuz a tapar a cabeça, parecia um vilão do Star Wars, pronto a colocar em prática os planos da estrela da morte. Ruben Amorim fazia a sua coreografia particular, ora olhando para o céu em descrença, ora levando a mão à boca, por vezes tentando ser ouvidos pelos alunos que se lembravam como se fazia o exame.

O melhor em campo foi Haaland. Se, por vezes, o norueguês parece preso no futebol de espaços curtos de Guardiola, como um viking sem espaço para navegar, esta tarde pareceu o Haaland do Dortmund, sprintando e correndo livremente. Poderia ter marcado logo aos 20 segundos, chegaria ao bis no segundo tempo.

Erlind concluiu um excelente lance entre Foden e Doku aos 53', aproveitou um erro dos visitantes aos 68'. Não chegou ao hat-trick devido a um falhanço escandaloso. No final, o United, já com o City desligado, poderia ter maquilhado o marcador, mas esta equipa precisa de fazer muito para obter pouco. E fazem-lhe pouco e obtêm muito. O edifício renovado cheira a passado recente.

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