Não há buraco na agulha que Galeno não encontre e FC Porto passa com autoridade no dilúvio de Portimão
Houve mais um golo glorioso do extremo na vitória bem trabalhada do FC Porto em casa do Portimonense, por 3-0. Marcaram ainda Nico e Pepê, perante um rival que defendeu com muitos, mas geralmente mal, e que praticamente não existiu no ataque depois de uma ténue reação ao primeiro golo dos dragões
Galeno tem um qualquer magnetismo por *aquele* poste. Ou melhor, pelo diminuto mas fatal espaço entre o guarda-redes e o seu poste mais afastado. Tira-lhe as medidas, avalia-lhe a possibilidade de felicidade. E atira. Frente ao Arsenal, deu um golo tão antológico quanto potencialmente essencial para o FC Porto continuar na Champions. Esta noite, num pouco habitual serão chuvoso de Portimão, ajudou a confirmar uma vitória que os dragões fizeram por celebrar - 3-0 diz o marcador, que talvez pudesse ser mais gordo.
Esse golo, diga-se, poderia ser publicado como um resumo Europa-América do jogo do FC Porto frente ao Portimonense: começa numa recuperação de Nico González (mais uma exhibición) num lance que parecia morto, segue com um cruzamento demasiado largo de João Mário da qual Wendell não desistiu, oferecendo a bola a Galeno como se já conhecedor do que o extremo consegue fazer dali, naquelas diagonais diabólicas e da mira para o buraco na agulha. O remate saiu rasteiro, colocadíssimo. Houve a obstinação, o afinco e, depois, também um toque de magia, porque não. A escalada até ao topo é complicada, mas o FC Porto ainda pode sonhar.
Sem grande vontade de meter muita gente no ataque frente aos grandes, o Portimonense também não esteve fino nas linhas defensivas bem acondicionadas de gente, mas não propriamente de acerto. Para a equipa de Sérgio Conceição, nunca foi trabalho hercúleo entrar pelo último terço dos algarvios, ainda que na 1.ª parte nem sempre com clareza na hora de atacar a baliza.
LUIS FORRA
O golo logo aos 7’, de Nico, ajudou a não aumentar os níveis de ansiedade da equipa, até porque a jogada foi um almanaque de como aproveitar um erro. Num momento ai-jesus da defesa do Portimonense, Gonçalo Costa aliviou para a área onde Evanilson, oportuno, deixou para Galeno, que com um pequeno toque ofereceu o tempo e o espaço para Nico rematar para a baliza. Poucos minutos depois, após novo desatino na defesa do Portimonense, Pepê picou com classe por cima de Nakamura, com a bola a bater na barra.
Houve reação do Portimonense, mas curta e geralmente com aproximações sempre mal resolvidas. O trio da frente pouco soube fazer com a bola, depois de Hélio Varela até ter tido a primeira oportunidade do jogo quando, isolado, puxou a culatra ao pé esquerdo, mas a bola bateu-lhe no pé direito, dando azo a um lance algo cómico. Quando quis atacar, a equipa de Paulo Sérgio fê-lo geralmente a lançar a bola para a frente, à procura da rapidez dos avançados. Mas quase nunca criou perigo.
Quanto ao domínio do FC Porto materializou-se ainda mais na 2.ª parte, com as ligações de Evanilson a permitirem linhas limpas e caminhos abertos para a baliza. Depois do remate glorioso de Galeno, em noite animada ainda que nem sempre eficiente - negou a lógica buraco na agulha ao colocar demais uma finalização pouco depois do 2-0 - sucederam-se as arrancadas de Francisco Conceição pela direita, com Seck e Gonçalo Costa em tarde/noite de pesadelo, a clarividência de Nico pelo meio, e Pepê, que parece aproximar-se a cada dia de jogo do nível da última época - não há nada como jogar na posição onde mais rende.
O 3-0 foi lance de classe, com Pepê a receber de Jorge Sánchez na área com o pé esquerdo e a rematar com o direito, que nem bailarino a saltitar em pontas. Se Galeno encontrou o buraco na agulha, Pepê fez crochê.
Boa sequência do FC Porto, depois da goleada infligida ao Benfica no domingo, com um onze consolidado e que, daqui até final, vai deixar a equipa de Sérgio Conceição mais perto de vencer. Ainda há campeonato.