Crónica de Jogo

A Atalanta fez jus à mitologia e foi à caça do Sporting, mas decisões só em Bérgamo

A Atalanta fez jus à mitologia e foi à caça do Sporting, mas decisões só em Bérgamo
Carlos Rodrigues

O Sporting colocou-se em vantagem cedo na 1.ª mão dos oitavos de final da Liga Europa, mas a pressão intensa da equipa transalpina pouco mais permitiu aos leões, que viram a Atalanta atirar várias bolas aos ferros antes de empatar. O 1-1 é lisonjeiro e leva as decisões para o segundo jogo

Conhecer bem uma equipa não significa necessariamente que esteja ao alcance do rival desmontá-la melhor. No jogo da 1.ª mão dos oitavos de final da Liga Europa, o terceiro entre Sporting e Atalanta esta temporada, não fica a sensação que Rúben Amorim tenha sido surpreendido, que não tenha tentado ou aprendido. Às vezes, o puzzle é simplesmente complicado.

A pressão dura de uma equipa habituada a duelos intensos, homens a caçar homens, fazendo jus à princesa da mitologia grega que lhe dá o nome, conhecida por ser a melhor caçadora das redondezas etéreas dos deuses, deixou o Sporting mudo, mais do que nos dois primeiro jogos com os italianos, e por isso o empate 1-1 em Alvalade talvez seja um resultado lisonjeiro para aquilo que os leões não conseguiram fazer e para o que a Atalanta falhou.

Isto depois de um bom arranque, em que o Sporting soube chamar a pressão dos italianos, tentando depois ataques rápidos. Aos 7’, uma arrancada de Edwards pela direita, com o passe atrasado na linha a não encontrar correspondência no centro da área. Dez minutos depois, Matheus Reis desenvencilhou-se eficazmente de uma série de italianos esfaimados para lhe tirar a bola, encontrando Trincão no miolo, com espaço. O vianense encontrou depois Paulinho pela esquerda com um passe preciso, com o pé canhoto do avançado a fazer o resto. Um bom golo, seguido de uma boa estratégia, longe das bolas longas para Gyokeres do primeiro jogo - o sueco, aliás, começou o jogo no banco.

Gualter Fatia

Só que a partir daí a Atalanta afogou os leões em pressão. Nos minutos que se seguiram, as oportunidades dos italianos rebentaram nos ouvidos da defesa leonina, por vezes nervosa, outras vezes obrigada a errar, face à quantidade de recuperações altas do adversário. Aos 24’, o lateral Emil Holm passou por Matheus Reis e rematou colocado, com a bola a bater na parte interior do poste de Israel e caprichosamente a lutar contra as leis da física e não entrar. E ainda dentro do mesmo minuto, uma reposição pobre do guarda-redes leonino permitiu a Scamacca rematar de meia-distância, de novo ao poste.

Aos 26’, logo ali ao virar da esquina, portanto, mais uma reposição no mínimo arriscada de Israel ajudou Éderson a ganhar o lance, com o uruguaio a redimir-se depois no final da jogada, lançando-se ao chão para roubar a bola ao avançado que se preparava para marcar. Israel que brilharia novamente à meia-hora de jogo, com uma palmada gloriosa ao um remate igualmente portentoso de De Roon, capitão da Atalante e homem mais engraçado do Twitter, ou do X, ou lá como se chama agora. Posto isto, o Sporting estava a sofrer uma blitzkrieg transalpina sem misericórdia.

E por isso o empate da Atalanta não foi exatamente uma surpresa, embora tivesse aparecido numa fase em que o Sporting parecia estar mais em controlo das suas linhas defensivas. Aos 35’, um atraso de Quaresma saiu curto, Coates e Israel hesitaram e o guardião ainda saiu de sola para desarmar Lookman. Só que a bola seguiu para Scamacca, que sem ninguém bem colocado na baliza pode até escolher o lado. Israel ainda salvaria a reviravolta já perto do intervalo, com uma defesa são cirúrgica quanto difícil a um cabeceamento de Scamacca.

JOSÉ SENA GOULÃO

Ao intervalo, Rúben Amorim lançou Gyokeres e Hjulmand, dois habituais titulares, esperando que o corpanzil do sueco e a precisão do dinamarquês ajudassem a quebrar as linhas bem organizadas da Atalanta. Tal não aconteceu. Das poucas vezes que as linhas mais recuadas do Sporting conseguiram que a bola avançasse para o último terço, o nórdico foi engolido, cruelmente travado. Taticamente, num jogo que foi muito tático, a batalha de Gasperini contra Amorim teve um vencedor - a diferença de andamento de quem vem da Serie A ajuda, também, a explicar.

Aos 60’, Lookman fez um túnel a Quaresma e depois fez tombar Coates para rematar ao poste de Israel (contagem de postes: 3) e do outro lado um cruzamento de Trincão terminou também com ida ao poste de uma bola cabeceada por Coates. E esse seria o único sinal de perigo do Sporting na 2.ª parte, manietado, com pouco ritmo para mais soluções.

A Atalanta, diga-se, não teve muito mais oportunidades flagrantes depois da quase obra-prima de Lookman, umas vezes por falta de definição, outras por atenção da defesa do Sporting que, ainda assim, nunca perdeu por completo a compostura. E por isso a eliminatória só se vai definir em Bérgamo, entre duas equipas que, olhando para os dois onzes e para o ritmo a que por vezes se jogou, estarão na verdade mais preocupadas com o que se passa dentro de portas do que exatamente com a Liga Europa. Mas o enigma lançado por Gasperini continua a ser demasiado complicado para as soluções de Rúben.

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