Evanilson foge ao desperdício para devolver as vitórias ao FC Porto
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As lesões deram uma trégua ao brasileiro que faz lembrar Derlei, autor do único golo do triunfo (1-0) frente ao Portimonense. A equipa de Sérgio Conceição criou muitas oportunidades, mas esbarrou na falta de pontaria ou na grande exibição do guardião Vinícius. David Carmo foi expulso
O último ano da carreira de Evanilson foi uma luta do avançado contra o seu corpo. O dianteiro cujo jogar faz lembrar Derlei, fundamental no título de 2021/22, somou seis lesões na derradeira volta ao sol, um constante entra e sai da equipa, acelerando e travando constantemente.
Nas duas últimas vezes em que o brasileiro fora titular, as partidas do goleador terminaram em lágrimas. Em junho, na final da Taça, saiu aos 43' do embate contra o Sporting de Braga a chorar, cenário que se repetiu a 15 de setembro, na Amadora, quando abandonou o desafio, também por lesão, aos 14'.
A insistência de Sérgio Conceição em ir devolvendo Evanilson ao onze evidencia as qualidades que o técnico vê no jogador. No entanto, desde maio que o ex-Fluminense não conseguia estar em campo durante mais de 45 minutos. Quando esse cenário se alterou, Evanilson — que, tal como Derlei, parece condenado a lutar contra o próprio corpo — deu a vitória (1-0) ao FC Porto contra o Portimonense.
Numa tarde cheia de desperdício azul e branco, Vinícius Silvestre brilhou com seis defesas, várias de grande nível. Continuando a saga de problemas na defesa, David Carmo foi expulso e os vice-campeões nacionais acabaram com uma defesa com Jorge Sánchez à direita, Zé Pedro e Wendell no meio e João Mário na esquerda.
O confronto entre os dois treinadores há mais tempo nos bancos das respetivas equipas na I Liga trouxe um paradoxo que ajuda a entender o momento de FC Porto e Portimonense. Sérgio Conceição está nos dragões desde 2017/18, mas Otávio estava na bancada e não no campo, Marcano e Pepe estão na enfermaria, Uribe é outra constante do passado recente que já não veste de azul e branco; Paulo Sérgio orienta os algarvios desde 2019/20, mas a cada janela de transferências tem de montar uma equipa nova, juntando os cacos entre o que a direção desportiva lhe vai dando.
Assim, um embate entre dois homens com muito tempo de trabalho continuado não deixa de ter toques de novidade, de primeiras vezes. No FC Porto, Zé Pedro estreou-se a titular na I Liga, Nico González atuou de início pela primeira vez desde 3 de setembro, Jorge Sánchez também debutou no campeonato.
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O atacante brasileiro, perseguido pelas lesões, vai mostrando o seu talento nos intervalos dos problemas físicos que o atormentam. Logo aos 4', ameaçou o 1-0, que viria mesmo a marcar cinco minutos depois.
Um dos pecados do FC Porto neste arranque de época tem sido a perda de capacidade de pressão alta e de roubo de bola no meio-campo adversário. Foi assim, nesse capítulo que costumava ser uma especialidade da equipa de Conceição, que Wendell intercetou um passe de Alemão e Pepê serviu Evanilson, cujo remate foi desviado em Relvas e traiu Vinícius. Um oásis de eficácia numa exibição cheia de golos falhados por parte dos locais.
Os algarvios demoraram uma hora até criarem uma oportunidade de golo. Até lá, os azuis e brancos, feridos na confiança pelas derrotas contra Benfica e Inter e por um arranque de campanha de exibições pouco convincentes, foram somando desperdícios na área adversária.
Até ao descanso, os azuis e brancos foram vendo Vinícius Silvestre brilhar. Wendell e Pepê atiraram para boas defesas do guardião dos visitantes. Num dos melhores lances, Evanilson despiu a pele de goleador e vestiu a de assistente, de Derlei para Laudrup, mas o passe a rasgar que fez não encontrou continuidade em Taremi.
Mais atrás, Zé Pedro parecia o central mais estável do eixo defensivo. Com David Carmo errático, na antecâmara do vermelho que veria perto do fim, o defesa de 26 anos — que até à jornada passada nunca atuara na I Liga e até este embate nunca fora titular no principal campeonato — somava cortes com segurança e ganhava aplausos do Dragão. No segundo tempo, até teve direito a bater um livre direto, que esbarrou na barreira, num cenário que até há 10 dias seria do campo do impensável para o vimaranense.
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A segunda parte trouxe mais desperdício. Pepê foi um dos que mais falhou no remate. Disparou quatro vezes, sempre sem êxito. Evanilson também roçou o bis, mas Vinícius ia-se agigantando.
Jogando com os poucos recursos que tem, o Portimonense teve uma soberana oportunidade para empatar à hora de jogo. Hélio Varela, um dos futebolistas que há pouco estava nos sub-23 do clube de Portimão, ex-Sintrense ou Amora, isolou-se perante Diogo Costa num lance de contra-ataque. O golo parecia estar ao alcance de um simples passe para o lado, para Carrillo, mas a opção foi o remate. O capitão do FC Porto defendeu.
Com o avançar dos minutos, o nervosismo e a ânsia iam-se apoderando dos locais, desejosos de voltar aos triunfos. Aos 83', David Carmo viu o segundo amarelo e foi expulso, o que significava que, nos instantes finais do encontro, os quatro teóricos centrais do plantel estavam de fora. Carmo expulso, Fábio Cardoso castigado, Marcano e Pepe lesionados. Ninguém diria que uma defesa Jorge Sánchez - Zé Pedro - Wendell - João Mário seria vista no Dragão.
Apesar da insistência nos instantes finais, o Portimonense só assustou num livre perigoso de Carlinhos. O FC Porto voltaria a colocar a bola no fundo da baliza, mas Toni Martínez estava em fora de jogo. Os dragões vão para a paragem com apenas 11 golos marcados em oito jornadas. Contar com Evanilson mais tempo disponível será, certamente, uma maneira de aumentar esta média.