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Crónica de Jogo

Taremi, o homem que junta a ilusão e a 'ilusión' (o FC Porto ganhou e adiou a festa do Benfica)

Iraniano marcou quatro golos - o primeiro póquer da carreira - na vitória em casa do Famalicão por 4-2, num jogo em que o avançado não só teve magia no corpo como deixou os dragões agarrados à esperança de ainda lutar pelo campeonato durante, pelo menos, mais 24 horas

Lídia Paralta Gomes

MIGUEL RIOPA

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Ilusión é um falso amigo que nos foi trazido pelos nossos por vezes inimigos espanhóis e no qual, nós portugueses, muito gostamos de cair. Criar-nos “muita ilusão” dificilmente é o equivalente ao mucha ilusión castelhano, porque do outro lado da fronteira a ilusión remete-nos para uma esperança que pode ser real, enquanto o ilusão, português como o bacalhau à brás, tanto nos leva para o engano como para uma esperança que, ao contrário do que acontece em Espanha, não se pode realizar.

Por alguma razão nos chamam nostálgicos, melancólicos, gente para baixo e aos espanhóis tudo o que é antónimo disto.

O que não quer dizer que, por vezes, ambos os termos não se possam, como que feericamente, juntar-se.

Olhemos para Mehdi Taremi, o homem que ao mesmo tempo trouxe ilusão e ilusión ao FC Porto. Porque aquele segundo golo, o segundo dos quatro que marcou frente ao Famalicão, pertence ao mundo do engano, do bom engano, não se chateiem já comigo, na forma como recebe aquele passe de Otávio, e aproveita a trajetória da bola e temporiza o remate, não *naquele* momento como 99% dos jogadores faria, mas uns centésimos de segundo mais tarde, desarmando o guarda-redes, enganado com a comunicação daquele corpo. Como um piloto de Fórmula 1 que trava mais tarde do que os outros numa curva, conseguindo assim aquela ultrapassagem que outros não conseguiriam.

Estávamos ao minuto 10, antes disso já Taremi havia marcado de penálti, à segunda, e marcaria ainda mais duas vezes, mais dois penáltis, na 2.ª parte. Um póquer, coisa nunca antes vista na carreira do avançado, que chegou também ao golo 100 em Portugal, divididos entre Rio Ave e FC Porto.

E com isto, depois da ilusão, Taremi trouxe também ilusión à sua equipa, aos seus adeptos, porque, pelo menos por mais umas horas, o FC Porto terá a esperança realizável de poder ainda ser campeão, uma esperança que poderá estender-se uma semana caso o Benfica não vença o Sporting no domingo.

DeFodi Images

Uma esperança que não é de desdenhar porque, em várias fases do jogo em Famalicão, o FC Porto tremeu, nervoso com a reação do Famalicão aos dois golos sofridos logo a começar. Com Colombatto e Zaydou num adulto meio-campo, a equipa da casa foi crescendo da 1.ª parte e aproveitou o relaxamento do FC Porto para empatar o jogo ainda antes do intervalo, com golos de Ivan Jaime e de Colombatto.

No arranque da 2.ª parte, o Famalicão continuou a criar perigo, mas o 3-2 do FC Porto, em novo penálti, por mão na bola de Zaydou que a equipa de arbitragem levou longos cinco minutos a analisar, quebrou de forma que seria definitiva o embalo do Famalicão, que ainda sofreria novo golo de pontapé de penálti aos 75’.

O jogo já se tinha tornado então menos interessante, depois da frenética 1.ª parte, com muitas paragens, casos, muitos lances duros, algo que, para mal dos nossos pecados futebolísticos, já seria de esperar depois do último rendez-vous entre estas duas equipas. Mas ao Famalicão há que tirar o chapéu por, durante largos minutos, ter deixado o FC Porto muito desconfortável no jogo, com poucas soluções. Com os golos e a quebra física do meio-campo dos minhotos, nova reação seria muito mais complicada.