Talvez não fosse preciso ser tão literal. A viagem a Barcelos para jogo em atraso da 25.ª jornada acabou a atrasar mais o Sporting na luta pelo 3.º lugar, o último que dá acesso à Liga dos Campeões, num jogo em que os leões pareceram chegar sempre atrasados, no ritmo, nas ideias, e às vezes adiantados, tal a quantidade de foras de jogo assinalados em lances que poderiam ter trazido a tal felicidade aos leões.
O 0-0 penaliza um Sporting com várias alterações no onze, onde Diomande já parece fazer falta (ficou no banco), que interrompe assim um dos melhores momentos da temporada, com cinco vitórias seguidas para o campeonato e aquela eliminatória com o Arsenal pelo meio. Com o campeonato a aproximar-se perigosamente da reta final, cinco pontos começam a parecer uma distância difícil de escalar, até porque do lado do SC Braga não se vislumbram quebras.
O espectáculo em Barcelos foi parco em grandes emoções, apesar do jogo ter sido aberto durante boa parte dos 90 minutos. As duas equipas entraram com vontade de pressionar a saída do adversário, o que partiu o jogo, dividindo as oportunidades. Aos 7’, Murilo apareceu isolado, mas rematou por cima (estava também em fora de jogo) e aos 10’, Chermiti de calcanhar testou o guarda-redes Andrew. Teria sido um bonito golo. O jogo tornou-se então mais do Sporting, com vários lances seguidos de perigo, mas começaria também aí algo que seria uma constante ao longo de todo o encontro: as péssimas decisões dos avançados leoninos no último passe. Houve sempre um toque a mais, uma receção falhada, uma tentativa de entrar por onde, claramente, não havia espaço. Noite de quase total desinspiração.
Octavio Passos/Getty
E quando ela apareceu, não contou. Aos 54’, Chermiti, numa das poucas ações positivas ao longo do jogo, recebeu a meio-campo o lançamento de Adán, segurou três adversários e isolou Pedro Gonçalves que, com a saída de Andrew, deu para Edwards, que surgia sozinho. O inglês tocou para a baliza, mas Chermiti estava adiantado no início da jogada. Pouco depois, Pote, com um remate praticamente sem ângulo, voltou a colocar a bola na baliza do Gil Vicente, mas estava também em fora de jogo.
A partir daí, muito pouco. De ambas as equipas. O Gil Vicente fechou bem, com mérito para a defesa, principalmente para o jovem Tomás Araújo que até sair lesionado esteve imperial, nos cortes, no posicionamento, na forma como organizou os colegas. Nos últimos minutos, Coates saltou para a frente, sinal definitivo do desespero do Sporting, sem soluções credíveis de ataque no banco. O central uruguaio, diga-se, deu mais trabalho aos adversários do que alguns dos seus colegas com funções mais consentâneas com posição. Já nos descontos, Marcus Edwards ainda teve nos pés um golo caído do céu, mas o remate acabou cortado por Marín.
Fica assim, no pior momento, até porque há Juventus a meio da próxima semana e Casa Pia antes disso, mais uma exibição cinzenta do Sporting 2022/23, que definitivamente não consegue encontrar o ponto de rebuçado, a estabilidade necessária. E por esta altura, também já pouca diferença fará se a encontrar. A reflexão para a próxima época, sobre quem tem ali lugar, sobre o que falta e o que está a mais, bem pode começar já.