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Crónica de Jogo

Depois da traição de André, o Franco-atirador que pediu perdão, Taremi saiu do banco para dar a sofrida vitória ao FC Porto

A equipa de Sérgio Conceição derrotou (3-2) o Estoril, reduzindo, à condição, para cinco pontos a desvantagem face ao Benfica. André Franco, antigo jogador dos canarinhos, esteve no 1-0, marcou o 2-1 e pediu desculpa, mas uma noite com sobressaltos até final para os campeões nacionais só foi resolvida quando Taremi entrou

Pedro Barata

Quality Sport Images/Getty

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O que torna complicada uma noite que parecia bem encaminhada e simples? O golo de Grujic, logo aos 9', associado à crise do Estoril, que sai do Dragão tendo apenas dois triunfos nos últimos 20 jogos e sem qualquer ponto conquistado na segunda volta, pareciam pintar o cenário perfeito para uma sexta-feira serena, a quatro dias da receção ao Inter. Mas basta um lance confuso tornado perigoso por um talentoso jovem ou um braço aberto por parte de um veterano para dificultarem o que parecia sereno.

O encontro do FC Porto foi pleno de contradições, da agressividade inicial à apatia seguinte, da capacidade de fazer o 2-1 somente quatro minutos depois do 1-1 e o 3-2 só seis minutos após o 2-2 aos sobressaltos que criaram os poucos momentos em que os visitantes se aproximaram de Diogo Costa. Com apenas três remates à baliza dos dragões e poucos ataques de perigo, o Estoril incomodou muito os locais, marcando duas vezes e lamentando-se de um falhanço, com a baliza praticamente aberta, de Gamboa aos 89'.

O sofrimento do FC Porto pareceu expressar-se pela intranquilidade do público ou dos jogadores. Alheio ao carrossel da noite esteve André Franco, que se vai consolidando entre as opções principais de Sérgio Conceição. A primeira parte foi do canhoto, móvel e fino, presente no 1-0 e marcando o 2-1, pedindo depois desculpa à antiga equipa.

Após o 2-2, o técnico dos azuis e brancos foi ao banco buscar Taremi e Galeno, qual mostra de profundidade de opções. Se na cabeça de alguns poderia estar a segunda mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões, já na terça-feira, esse pensamento desapareceria ali, com um empate à entrada dos 20 minutos finais. Mas Galeno lançou Taremi, Mexer derrubou o iraniano e este não tremeu no penálti. 3-2, noite salva e o Benfica, à condição, a cinco pontos de distância.

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Sérgio Conceição apostou nos nomes que garantiram o triunfo em Chaves, depois das muitas baixas que a derrota contra o Gil Vicente provocou. Assim, Taremi, Galeno, Uribe ou Pepê ficaram no banco e, talvez querendo justificar as opções do técnico, os jogadores dos campeões nacionais entraram cheios de energia e agressividade, empurrando o Estoril para perto da sua baliza.

Logo aos 3’, Grujic, num remate de longe, deu o primeiro sinal de perigo. Sem surpresa face às dificuldades dos visitantes em saírem de perto de Dani Figueira, o 1-0 chegou aos 9’, através da conhecida força do FC Porto nas bolas paradas. O delicado pé esquerdo de André Franco cruzou, Toni Martínez desviou ao primeiro poste e Grujic confirmou o golo ao segundo.

O Estoril, abalado por ter perdido sete dos últimos oito duelos antes desta partida, parecia não ter bem definido se queria pressionar mais em cima ou esperar organizado atrás, acabando por não fazer nenhuma das coisas. No entanto, no primeiro remate da equipa de Ricardo Soares, chegou o empate.

Após um lance algo confuso à entrada do FC Porto, vários ressaltos levaram a bola até Tiago Gouveia, que tornou o incerto em contundente, o confuso em claro, a atrapalhação em definição certeira. Receção orientada, remate, 1-1.

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A igualdade durou somente quatro minutos, antecipando a virtude que o FC Porto voltaria a revelar, reagindo bem à inesperada adversidade. Zaidu explodiu na esquerda e cruzou, não conseguindo Tiago Araújo desfazer o perigo. Toni Martínez recolheu a bola e serviu Danny Namaso, o físico e incómodo dianteiro que atirou ao poste. Mais rápido do que os demais, André Franco fez-se ao ressalto, vivo no lance como esteve quase sempre ativo no encontro, juntando mobilidade ao perfume na canhota. Atirou sem problemas para o 2-1 e pediu desculpa ao emblema que o lançou na I Liga.

O primeiro tempo não terminou sem que o segundo lance de perigo do Estoril fizesse lembrar o golo da igualdade. Após nova hesitação da defesa dos dragões, primeiro entre Fábio Cardoso e Pepe e depois de André Franco, Tiago Gouveia voltou a ter a oportunidade para rematar dentro da área. O disparo do extremo a quem Roger Schmidt já prometeu uma oportunidade em 2023/24 foi cortado por Fábio Cardoso.

O FC Porto entrou na segunda parte algo apático, sem agredir o adversário. Otávio e André Franco continuavam muito móveis, procurando sempre a zona da bola como dois amigos unidos pelo passa e vai, mas faltava agressividade ofensiva.

No meio desta falta de contundência dos dragões, talvez com a cabeça no Inter, chegou novo empate do Estoril sem ter ameaçado muito o golo antes. Foi a estranha tendência da noite, o complicar das coisas para o FC Porto quando tudo poderia parecer simples, qual armadilha escondida no caminho, encoberta entre as nuances de uma sexta-feira com algo de chuva no Porto.

Após canto da esquerda, a bola chegou a João Carvalho, cujo cruzamento foi intercetado pelo braço de Pepe. Francisco Geraldes não tremeu na cobrança do penálti e fez o 2-2.

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Foi então que Galeno e Taremi entraram ao resgate dos três pontos. Já não era hora de dar continuidade a quem tinha estado bem em Chaves ou de pensar no Inter.

Praticamente no primeiro lance que uniu o extremo e o avançado, Galeno lançou Taremi na corrida. Para alegria do FC Porto, Mexer abordou o lance com a suavidade de um elefante numa loja de porcelanas. O golo nem anda muito amigo de Mehdi, que só festejara uma vez nos seis compromissos anteriores. Mas o castigo máximo foi batido sem acusar a pressão do momento, fazendo o 3-2.

Até final, o Estoril só se aproximou duas ou três vezes de Diogo Costa. Mas, tal como em todo o desafio, quando o fez, o Dragão tremeu. Aos 89', uma saída do guardião português deixou-o fora da baliza. Tiago Gouveia rematou, Gamboa desviou para uma baliza desprotegida, mas saiu ao lado.

Logo a seguir, o jovem extremo do futebol elétrico testou novamente a atenção de Diogo Costa, que foi mais seguro. Triunfo garantido, sobressalto superado. O que tornou uma noite que poderia ser tranquila num serão cheio de preocupações? O futebol é isto, diz-nos o baú das frases feitas. O FC Porto volta a pisar o Dragão contra o Inter, terça-feira, para tentar estar entre as oito melhores equipas da Europa.