Perfil

Crónica de Jogo

Otávio vintage entre o realismo e o bombo do FC Porto

O médio voltou a ser essencial na vitória do FC Porto em Chaves, por 3-1. Para além do golo de Otávio, Namaso fez um golaço e, quando o Desportivo já estava reduzido a 9 jogadores, Toni Martínez fechou a contagem. Equipa da casa reagiu bem no início da segunda parte, mas campeões nacionais acabaram por ser melhores

Hugo Tavares da Silva

Octavio Passos

Partilhar

Danny Namaso dá-se bem com os ares de Chaves. O inglês, natural de Reading, já tinha metido dois golos, em dezembro, no Estádio Municipal Engenheiro Manuel Branco Teixeira, para a Taça da Liga. O hat-trick chegou através do verbo: foi à flash interview falar em português. Desabafou sobre a felicidade, confirmou que marcar golos é sempre uma ambição e que, tal como prega o treinador Sérgio Conceição, todos os jogos são importantes para ganhar. Esta noite, Namaso voltou a meter uma bola na baliza do Desportivo, em Chaves, e ajudou o Porto a vencer ali outra vez (3-1).

O banco do FC Porto recebeu a visita dos excelsos Mehdi Taremi e Pepê (problema num pé durante a semana), o que denuncia a ambição de Conceição para a a segunda mão da Liga dos Campeões contra o Inter. Toni Martínez liderou o ataque, ao lado de Danny Namaso. Atrás estavam os quatro médios: Grujic, Eustáquio, Otávio e André Franco. Estes dois últimos, sempre que se juntam, são a promessa de boas notícias e bom futebol. Como admitiria no final da partida Conceição, foi necessário convocar o “realismo" para um jogo complicado, então por vezes tocou-se mais “bombo" do que “violino". As palavras são do técnico.

O Desportivo de Chaves entrou bem, disponível para olhar para a frente, tentando criar problemas para Diogo Costa e companhia. Apesar desse bom arranque caseiro, foi Franco, o ex-Estoril, que esteve muito perto do golo. Depois, foi o calcanhar de Martínez, um avançado com detalhes de avançado a sério, que prometeu qualquer coisa malandra. Rodrigo Moura defendeu com segurança.

Do outro lado ia aparecendo João Mendes (seria expulso aos 87’), um médio que tem no toque de bola, no atrevimento e no jeito arrastado com que se desloca o seu charme. O cruzamento da canhota de Bruno Langa descobriu Mendes. A bola, caprichosa, saiu pouco por cima.

Quando Otávio, um faz-tudo com uma inteligência útil e uma picardia indesmentível, decidiu acelerar com um só toque, um passe que foi desaguar nas botas de Namaso. O britânico, gingão, enganou Ricardo Guima com uma dança fugaz e colocou a bola rente ao poste esquerdo de Moura. Golaço.

Octavio Passos

O Chaves voltou a ameaçar cabalmente quando Diogo Costa e Otávio não se entenderam numa saída de bola curta a partir da baliza. A desconexão foi aproveitada pelos homens da casa, que colocaram a bola na cabeça de Jô. Diogo Costa, bem esticadinho no ar, defendeu e corrigiu o erro. Na ressaca, Euller tentou a sorte, mas o poste voltou a soprar a bola para outros caminhos.

Otávio, o tal faz-tudo que teima em fazer coisas belas com uma bola de futebol, decidiu a certa altura colocar o seu nome no livro de honra da festa. Recebeu a bola junto à linha. Esperou um rival e, como um feitiço, enviou o candidato a recuperador de bola para um lado, enquanto ele foi para o outro. Tocou para um colega e o colega (Eustáquio), num passo astariano, devolveu a gentileza. O internacional português, que é também muitíssimo solidário na hora de ir atrás dos outros (10 recuperações), inclinou-se como quem faz uma curva no MotoGP e meteu a ferramenta mais bonita deste desporto no poste mais distante, 2-0.

O encontro anunciou então um sossego para os forasteiros. Pepe até ia controlando e dominando os seus duelos, mas a equipa não acompanhou e permitiu o crescimento do desassossego e do adversário. O Chaves, com sete ausências, continuou a tentar uma ou outra saída com qualidade. O Porto tinha mais bola, mas os senhores de Chaves tinham mais remates, vincando o inconformismo.

O segundo tempo começou com Iván Marcano a tirar quase dentro da baliza uma bolinha redonda e picada por Euller. Pouco depois, uma falta imprudente de Zaidu permitiu a Steven Vitória, de penálti, reduzir. O canadiano, que esteve no Mundial e que surgiu no futebol profissional saído dos juniores do FC Porto, meteu a bola no meio da baliza, uma espécie de doutrina que pertence aos craques.

O jogo entrou numa fase mais acidentada. Os 5.568 adeptos acabariam por testemunhar a amostragem de 12 amarelos e duas expulsões, ambas para futebolistas do Desportivo de Chaves (o VAR teve de intervir para mudar o destinatário do segundo amarelo, de Longa para Jô Batista). Foi nessa fase que Taremi, lançado por Otávio (pois claro), inventou um golo para o companheiro de ofício, Toni Martinez, que em peixinho meteu a bola de cabeça na baliza. Duas derrotas depois, o FC Porto regressa às vitórias e crava agora os olhos no Inter.