Uribe, Otávio, Galeno, Evanilson ou Veron estavam de fora do FC Porto - Rio Ave. Eram Gonçalo Borges, Bernardo Folha ou Danny Namaso alguns dos nomes em campo nos últimos instantes do duelo, sinal claro do impacto das ausências nos planos de Sérgio Conceição. A noite tinha sido de falta de inspiração para os campeões nacionais, com o fantasma da escorregadela a parecer pairar sempre sobre o Dragão, qual perigo que não por ser previsível foi evitado.
Aos 96', um dos últimos ataque do Rio Ave levou a bola a sobrevoar a área dos locais. Boateng, agressivo, atacou a finalização perante a passividade de Marcano. Só com Diogo Costa pela frente, o cabeceamento do ganês foi ao lado, como desviado havia sido o seu remate, também isolado, aos 58'. Logo a seguir, aos 97', Boateng não foi lesto a aproveitar uma bola solta na área.
Do desperdício do Rio Ave, que na primeira parte também se encontrou com o acerto de Diogo Costa, partiu parte da vitória do FC Porto, assente na eficácia de um finalizador da qualidade de Toni Martínez. Numa noite de futebol pobre, com muitas ausências e em vésperas do regresso à Liga dos Campeões, os azuis e brancos conseguem a 10.ª vitória seguida. É, também, da capacidade de sair ileso de noites assim que se escrevem êxitos.
O momento em que Toni Martínez remata para o 1-0
MANUEL FERNANDO ARAÚJO/Lusa
O jogo começou com uma homenagem a Christian Atsu, horas depois de o ganês ter sido encontrado morto debaixo dos escombros do prédio onde vivia, na sequência do terramoto que abalou o sul da Turquia e o norte da Síria. O canhoto a quem em tempos chamaram “Ryan Giggs do Gana” representou, em Portugal, o FC Porto e o Rio Ave.
Sem os já citados nomes de peso, como Uribe, Otávio ou Galeno, além de Evanilson, Gabriel Veron ou Fábio Cardoso, o FC Porto fez uma primeira parte muito frouxa. Sem velocidade de jogo nem agressividade ofensiva, os campeões nacionais marcaram no único remate à baliza adversária que fizeram no primeiro tempo, vendo os visitantes criarem mais perigo.
Com o selo de qualidade da direção técnica de Luís Freire e com a interpretação do médio com a cabeça equipada com um GPS do campo que é Guga, o Rio Ave apresentou-se no Dragão capaz de se aproximar com perigo de Diogo Costa. Os vila-condenses até fizeram o 1-0, anulado por posição adiantada de Boateng, e não começaram a ganhar porque o guardião portista fez boas defesas a remates de Samaris e Guga.
Uma bandeira em homenagem a Christian Atsu, antigo jogador de FC Porto e Rio Ave
MANUEL FERNANDO ARAUJO/Lusa
Aos 33', numa altura em que os azuis e brancos ainda não tinham rematado à baliza, Sérgio Conceição deu um dos papelinhos mágicos táticos a Pepê, daqueles que os jogadores lêem como se de um plano de guerra ultra-secreto se tratasse. O documento, qual mapa da mina, passou pelos olhos de André Franco e Taremi antes de ser devolvido ao banco do FC Porto, não fosse cair em mãos alheias.
O primeiro disparo dos locais ao alvo até partiu de uma péssima decisão. Após recuperação em zona subida de Eustáquio, Toni Martínez optou por rematar de longe quando tinha o apoio de Taremi, para desespero do iraniano.
Talvez o lance tenha evidenciado as carências do espanhol, que não é homem de grande requinte fora da área nem criador de qualidade. Mas, quanto mais perto está da baliza, mais Martínez se agiganta. Na zona onde outros se precipitam, ele vive como se no conforto do lar. Perto do golo, executando em poucos toques, Toni Martínez é uma garantia de qualidade, um luxo para ter num plantel, um seguro de soma de pontos ao longo de uma temporada.
Em cima do descanso, a bola chegou a Wendell, sobre a esquerda, na sequência de um livre, encontrando o cruzamento do lateral Toni Martínez no coração da área. O espanhol finalizou com o exterior do pé, abrindo o ativo em nova demonstração da sua profícua relação com a baliza rival. Sempre longe de ser um titular habitual, fez oito golos na primeira época no FC Porto e sete na segunda. Nesta temporada, em 1268 minutos, marcou 10 vezes. Em noites de falta de magia, ter alguém com esta pontualidade na zona de penálti é uma benção.
Emmanuel Boateng
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A segunda parte não teve um guião muito diferente da primeira. O FC Porto teve sempre dificuldades em se aproximar de Jhonatan, que saiu do Dragão tendo feito somente duas defesas. Só em cima do apito final, já com o Rio Ave exposto na busca do 1-1, houve verdadeiro perigo por parte dos dragões, com Grujic e Namaso perto do 2-0.
Do outro lado, foi Boateng a falhar o empate em três ocasiões. Aos 73', após bola colocada na área do FC Porto, Diogo Costa largou a bola na sequência de um choque com Zaidu. Ruiz cabeceou para uma baliza que estava deserta, mas a tentativa do avançado foi frouxa e o lateral nigeriano aliviou o perigo para os campeões nacionais.
A personalidade e qualidade do Rio Ave levou os visitantes a tentarem a igualdade até quase ao minuto 100, sempre com critério e rigor. O 1-1 não chegou, talvez porque nem todos podem, numa noite cheia de ausências, ir à profundidade do plantel buscar um finalizador da valia de Toni Martínez, o tipo de atacante alheio ao contexto, à qualidade do futebol que se praticou, às sequências de jogos em poucos dias ou à proximidade da ida a Milão. O Benfica está, provisoriamente, a apenas dois pontos de distância.