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Crónica de Jogo

Sporting - Midtjylland. A arte de sofrer com equipas de nome complicado

Exibição paupérrima do Sporting frente ao 7.º classificado do campeonato dinamarquês para o playoff da Liga Europa, a fazer lembrar outros jogos que, para mal dos pecados do clube, entraram no folclore leonino pelas piores razões. Salvou Coates, a fazer o empate (1-1) na derradeira jogada do encontro

Lídia Paralta Gomes

Gualter Fatia

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O Midtjylland chegou a Alvalade para fazer o primeiro jogo oficial desde novembro. No mercado de inverno perdeu as duas referências do ataque, o brasileiro Evander e Dreyer. É 7.º na poderosa liga dinamarquesa, a 12 pontos do líder. Tem um valor de mercado na ordem dos 34,50 milhões de euros, seis vezes menos que o Sporting.

A derrota não a chegou a ser, porque tal como em tempos idos apareceu Coates para salvar a equipa no último, literalmente último lance do encontro. Mas quão humilhante seria uma derrota do Sporting frente ao Midtjylland para a Liga Europa? Seria isto de humilhante. Só mesmo a cabeçada sôfrega, urgente do capitão, que apareceu para o resgate na área, evita que o jogo desta quinta-feira entre nos cânones do folclore leonino, ao lado de noites gloriosas contra outras equipas de nome igualmente esdrúxulo e difícil de pronunciar, o Sporting não é anónimo a isso, afinal toda a gente ainda se lembra da derrota por 3-0 frente ao Gençlerbirligi, em 2005, ou com o Skenderbeu (quem?) na Albânia em 2015.

O 1-1 no marcador deixa o Sporting com tudo em aberto para seguir em frente na prova europeia, a única coisa que lhe resta, mas a exibição sofrida, desesperada, é ela própria, em si, uma derrota espectacular para uma equipa assombrada por erros individuais, por falta de eficácia e em permanente desconforto consigo e com a sua identidade. Ou pelo menos com a identidade que apresentou nesta noite de cadeiras vazias em Alvalade - e nem o frio é desculpa, que o tempo está bem ameno.

Gualter Fatia

O nervoso, esse, foi constante, surgiu logo de início, com várias bolas perdidas em zona perigosa e Coates a salvar. A tentar sair de trás, o Sporting, para lá de tremeliquento, raramente conseguiu tirar partido de atrair o adversário, sucedendo-se os passes errados. E não funcionando assim, apareceu o futebol mais direto e os sucessivos cruzamentos, marca de água das equipas em ebulição. Foram 24 no total e talvez nem uma mão-cheia deles criaram perigo. O regresso de Paulinho ao onze pedia outro jogo, outra abordagem, mais apoios e menos correria.

À meia-hora de jogo apareceram as duas melhores oportunidades do Sporting na 1.ª parte, ambas por Pedro Gonçalves, ambos remates por cima na grande área. Pouco antes do intervalo, mais uma jogada paradigmática: Paulinho trabalhou na área, mas não estava ninguém para receber o passe.

A entrada forte dos leões na 2.ª parte fez por momentos crer que tudo seria diferente daí até final mas o ímpeto pouco durou e em menos de nada voltaram os cruzamentos. Marcus Edwards tentou cavar um penálti aos 56’ e as alterações de Rúben Amorim que se seguiram, com a entrada de Trincão e Bellerín, pouco ou nada deram a uma exibição que foi pobre na 1.ª parte e pobre se manteve.

Do outro lado, o jovem Isaksen começava a dar problemas sérios a Nuno Santos. E aos 77 minutos apareceu o inevitável erro: uma péssima reposição de Adán, cujos erros vão custando pontos e vitórias ao Sporting, deixou a baliza quase à mercê do egípcio Eman Ashour, que com um remate rasteiro, ainda longe da baliza, fez o 1-0 para o Midtjylland.

Zed Jameson/MB Media

Não é que não se estivesse a ver. É a história do Sporting esta temporada.

O golo dos dinamarqueses deveria ter despertado o Sporting mas só exacerbou a crise de uma equipa incapaz de encontrar o equilíbrio esta temporada - e lembremos que o Sporting já ganhou ao Eintracht Frankfurt e ao Tottenham esta época. O golo do empate é um daqueles lances para os quais a expressão “caído do céu” foi inventada: mais um dos incontáveis cruzamentos, que desta vez encontrou primeiro Gonçalo Inácio e depois Coates, que precisou de dois toques para marcar.

Não será esse último lance um balão de oxigénio que mantém o Sporting vivo. Mesmo perdendo, os leões poderiam perfeitamente ir à Dinamarca arrumar a eliminatória, frente a uma equipa pouco poderosa no ataque, mas que soube preparar e cheirar os pontos mais débeis dos leões. Tiveram mais tempo para o fazer, claro está, mas o ritmo competitivo e a qualidade do Sporting deveria ter sido suficiente para vencer. Agora é sofrer.