Perfil

Crónica de Jogo

FC Porto - Vizela. E a bola voltou a obedecer a Mehdi

O iraniano não marcava há quatro jogos e o momento de forma parece estar longe do de outros tempos, mas o golo que marcou na segunda parte, com a sua calma olímpica e um toque de bola admirável, serenou o Estádio do Dragão, em sentido perante o competente mas pouco venenoso Vizela. FC Porto conquista três pontos antes do clássico de Alvalade (pelo meio há Taça de Portugal contra o Académico de Viseu)

Hugo Tavares da Silva

MIGUEL RIOPA

Partilhar

Toda a gente sabe que os treinadores sabem tudo e mais alguma coisa sobre o rival do próximo jogo. Talvez saibam até, para além dos movimentos padrão e das qualidades de cada um, como gostam do café pela fresca. Quando esses treinadores escolhem fazer, numa conferência de imprensa, uma raio-x ao adversário, com nomes próprios e tendências, isso cheira a gabação. É uma escolha. Todos sabem que Sérgio Conceição sabe como joga o Vizela. Mas ele escolheu explicar o Vizela. É um elogio.

E havia razões para tal. A equipa de Tulipa, outrora de Álvaro Pacheco, tem argumentos especiais. Certamente há quem goste da organização e da harmonia evidentes no relvado, outros valorizam admirados a qualidade técnica de gente como Raphael Guzzo, Samu ou Kiko Bondoso. As saídas de bola, às vezes tão graciosamente inventadas, serão um consenso. Apesar de tudo, todo e qualquer grupo vive dos homens e das suas ações. E os homens erram. É o futebol (e a vida).

O FC Porto beneficiou de uma aventura normal de Igor Julião, que investiu com a bola para o centro do campo, aos 41’. Galeno roubou-lha bola e tocou para Evanilson. O avançado brasileiro foi finalmente venenoso e certeiro e meteu a bola milimetricamente no segundo poste. Pepê, rápido e irresistível como um relâmpago perfeito e ziguezagueante, encostou para a baliza deserta.

Esta noite viu-se, desde o início, um Porto mais agressivo do que contra o Marítimo, um jogo em que Bernardo Folha, titular pela primeira vez, foi expulso ainda na primeira parte. Essa viagem ao Funchal resultou ainda na expulsão e suspensão de Sérgio Conceição e Vítor Bruno, o fiel adjunto. A dor de cabeça de ambos não será pequena, pois esta noite não podiam contar com gente como Otávio, Gabriel Veron e Stephen Eustaquio.

A primeira ameaça à baliza de Fabijan Buntic foi logo aos 5’. Mateus Uribe cabeceou por cima, depois de um canto de Wendell em que a bola, durante o voo, chorava de alegria. O Porto entrou bem e o Vizela, que nem começou a morder atrás, acabou por recuar. Essa opção ou necessidade transformou o campo num terreno baldio imenso para os visitantes. Claudemir ficou perto dos centrais. Guzzo baixou ainda mais. A ousadia levou uma sova, embora uma ou outra saída para o ataque tenha dado gosto de ver. As correrias de Milutin Osmajic, com o pé cheio de giz desde que chegou Tulipa, poderiam ter outro desfecho, era prometedoras e ambiciosas, mas a decisão não foi a melhor. A disponibilidade do montenegrino, comprovava um protocolar penso na testa, é um valor seguro.

MIGUEL RIOPA

Embora controlador e dominador, com o orgulho inchado pela vitória na Taça da Liga, o FC Porto não se exibe a um nível importante nesta fase. Medhi Taremi, que continua a mostrar-se naquelas zonas em que pisa tão bem, não vai descobrindo as melhores rotas para a bola durante o jogo. A exceção foi um momento em que fez uma sábia pausa, pouco depois do meio-campo, e lançou Galeno com a canhota. Valeu Bruno Wilson, com um excelente corte. Evanilson está ainda a tentar encontrar a melhor forma.

Pepê, sempre competitivo e competente, talvez sofra com as constantes mudanças de posição, o que na verdade o tornam num jogador total e totalmente útil, sem que deixe de mirar a baliza e o sangue alheio. João Mário, embora se dê muito ao jogo, revela-se por vezes intermitente. Ainda assim não deixa de somar boas decisões. O problema está, quem sabe, na fineza atual do meio-campo, onde exercem a profissão Uribe e Grujic, um médio que fica muito, muito longe do que se via em Vitinha. Talvez André Franco ganhe espaço nos próximos tempos. A ausência de Otávio, um operário que na verdade é um mago discreto, acelera estas conclusões porventura precipitadas.

Nos segundos 45 minutos, após a entrada de um Porto mais seguro (que continuou sem conceder oportunidades ao adversário), não se viu um jogo especialmente cativante, pelo menos do ponto de vista das oportunidades de golo e momentos virtuosos. Pepe e Iván Marcano iam controlando Osmajic. Nuno Moreira era talvez o mais endiabrado. Faltava criatividade. Dos dois lados. Por isso os treinadores iam reagindo: Toni Martínez no Porto, Friday Etim e Tomás Silva no Vizela. Tulipa mudou o desenho para 4-4-2 e meteu mais peças perto da baliza de Diogo Costa.

Quando os 41.211 espectadores estavam prestes a testemunhar a entrada de André Franco, Gonçalo Borges e Vasco Sousa, um menino de 19 anos da equipa B, o golo aliviador aterrou no Dragão. Taremi tocou no meio-campo para João Mário e ambos correram nas direções que era suposto correrem. Um para a linha, com a bola, outro para o coração da área. O passe foi bom, o toque de bola do iraniano, que não marcava há quatro jogos, foi o mesmo de sempre. É um futebolista especial, que já marcou 20 golos nesta temporada.

O FC Porto, que nos últimos 12 jogos sofreu apenas dois golos, amealhou mais três pontos e não deixa Benfica e Sp. Braga cavarem mais a diferença pontual. Segue-se agora o jogo dos quartos de final da Taça, contra o Académico de Viseu, antes do clássico em Alvalade.