Os centrais do Sporting tiveram uma noite balakoviana. A convocatória do mago tresanda a um gesto manifestamente exagerado, mas vejamos: em apenas 19 minutos, Sebastián Coates isolou Paulinho e Francisco Trincão, enquanto Gonçalo Inácio isolou Trincão. Golos nem vê-los, mas os defesas com giz nas botas tratavam do dossier “criação”, então os nervos que normalmente assolam um 0-0 não apareceram.
Quando Rúben Amorim esqueceu a ideia original, ao intervalo, e transformou o discreto médio Pedro Gonçalves numa besta faminta que olha a baliza como um puma foca a sua presa, tudo mudou. O Sporting chegou ao golo depois de uma arrancada de Arthur Gomes, que já entrara pelo apagado Francisco Trincão. O brasileiro lançou Matheus Reis – lá está, mais um central a tratar de ser um desequilibrador — e o canhoto cruzou. Fabijan Buntic não afastou, Pedro Porro aproveitou para meter a bola para o meio onde estava Pedro Gonçalves. Golo e goleada nos suspiros de alívio.
Foi uma boa primeira parte. O Vizela, com jogadores admiravelmente habilidosos, não se enfiou no buraco (mesmo defendendo em 5-4-1) e, organizados a travar os senhores da casa, tentavam jogar quando tinham a bola. A técnica de futebolistas como Raphael Guzzo, Samu e Kiko Bondoso é tão satisfatória como uma brisa num dia de terrível calor. Na frente estava o possante e incómodo Milutin Osmajic, que falhou um golo cantado entre as oportunidades desperdiçadas do Sporting, naqueles delirantes 19 minutos iniciais.
Até ao 1-0, os leões tentaram variar o jogo, ora procurando o espaço na retaguarda da defesa do Vizela, ora com variações de flanco, ora piscando o olho a Pedro Gonçalves para receber nas costas dos médios ou até com uma subida ou outra de Matheus Reis pela esquerda. Pedro Porro, normalmente o porta-estandarte do inconformismo, surgiu com menos fúria, mais manso.

PATRICIA DE MELO MOREIRA
O Sporting, depois de tanto vencer, chegava de empate com Benfica e derrota com Marítimo, que o Vizela bateu por 3-0 na última jornada. Osmajic marcou dois e o outro foi de Anderson Jesus, que esta noite esteve em bom nível em Alvalade, ao lado do neto do senhor Mário Wilson, Bruno Wilson.
As estatísticas, no descanso, diziam que ambas as equipas acertaram menos de 70% dos passes que tentaram, o que indicava muito risco (ou demasiado desacerto) ou muito boa pressão. Ou ambos. O jogo estava bom, esteticamente agradável e competitivo.
Depois do intervalo, Amorim sacou Edwards para dar lugar a Hidemasa Morita, empurrando Pedro Gonçalves para a frente. Depois do 1-0, Paulinho atirou uma bola ao poste. O ritmo baixara, mas a desvantagem atirou mais homens de azul-do-céu para a frente.
Como a justiça nada deve ao futebol, e as oportunidades falhadas são factos inúteis, o Vizela acabou mesmo por empatar, aos 75’, por Alex Méndez, acabadinho de entrar. Os jogadores do Sporting queixaram-se porque a bola, durante a jogada, tocou no árbitro, Rui Costa.
Mateo Tanlongo, uma estreia para o rosarino de 19 anos, e Youssef Chermiti saltaram para o relvado para tentar mudar o fado do jogo. As boas ideias e o giz há muito tinham abandonado o estádio, onde estavam 23.358 adeptos a assistir a mais um duelo da Liga Portuguesa. Coates voltou a saborear a fantasia de jogar a avançado, cavando mais funda a teimosia do treinador.
Mas talvez a justiça queira, afinal, uma conversa com o futebol, então, já depois da hora, o árbitro, após uma ida ao ecrã, detectou uma falta de Igor Julião sobre Paulinho na área. Pedro Porro, tão badalado como supostamente futuro reforço do Tottenham, injetou a fúria do costume na gaveta da serena coragem e meteu a bola na baliza. E resolveu tudo.