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Crónica de Jogo

Sporting - Sporting de Braga. Cabaz de natal oferecido por Paulinho, Edwards e Trincão

A equipa de Rúben Amorim goleou com estrondo (5-0) nos quartos-de-final da Taça da Liga, resultado feito ainda no primeiro tempo. Os leões tiveram muito acerto, embalados por um inspirado trio ofensivo, em contraste com uma exibição desastrada dos homens de Artur Jorge, que aos 20' já perdiam por 3-0

Pedro Barata

Gualter Fatia/Getty

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Os últimos 15 anos deram aos duelos entre Sporting e Sporting de Braga contornos especiais. O crescimento do clube minhoto, aproximando-o dos tradicionais três grandes, levou-o a entrar em rota de colisão com alguns objetivos do emblema de Alvalade, num histórico que engloba disputas por lugares cimeiros da I Liga, finais de Taça, Supertaça e Taça da Liga e um gosto leonino em ir buscar jogadores e treinadores à pedreira.

Ainda assim, e apesar do entusiasmo que uma partida a eliminar pode gerar, este encontro entre lisboetas e bracarenses apresentava-se como menos apelativo que o normal no passado recente. O jogo era para a Taça da Liga, o menos cobiçado dos troféus nacionais, este ano encaixado estranhamente enquanto no Catar se disputava a mais importante das competições; a noite de segunda era chuvosa e fria; e até a sensação de estarmos na ressaca de um dia histórico de futebol levava a crer que tudo o que fosse diferente do vivido na jornada que consagrou Messi soaria a pouco, a irrelevante, a insignificativo. É bom que nos vamos habituando à realidade.

Ora bem, o Sporting empenhou-se em tornar a noite no mais entusiasmante possível. A equipa de Rúben Amorim, homem que enquanto jogador e treinador possui um fetiche especial com a Taça da Liga, entrou a todo o gás, com um futebol rápido, enleante, agressivo e vertical, capaz de marcar três golos nos primeiros 20 minutos e cinco nos 45 iniciais, selando muito cedo a presença nas meias-finais do torneio que vestiu de verde e branco nas duas derradeiras campanhas.

Qual dança em que o que um bailarino faz afeta diretamente a ação do outro, tudo o que os locais apresentaram de acerto e coordenação tiveram os visitantes de infelicidade, atrapalhação, desnorte. O primeiro tempo do Sporting de Braga foi um compêndio de falhas e erros — mais ou menos forçados — que ajudam a explicar a goleada.

TIAGO PETINGA/Lusa

Com Pedro Gonçalves no meio-campo, junto de Ugarte, e Paulinho, Edwards e Trincão na frente, o Sporting demonstrou uma fluidez e ocupação de espaços quase perfeita na etapa inicial. Paulinho recuava no terreno e caía nas alas, dando referências de apoio frontal e saída, Edwards partia com coragem e magia para o drible, Trincão, bem mais solto e confiante que no começo da época, parecia flutuar em campo, caindo entre os espaços deixados livres pelo Sporting de Braga.

Os instantes iniciais evidenciaram um Sporting muito rápido a roubar a bola, encostando os homens de Artur Jorge para perto da sua baliza e ganhando cantos de forma consecutiva. Na segunda dessas bolas paradas, Pedro Porro cruzou para Paulinho, que cabeceou ao primeiro poste para defesa de Matheus. Inácio, sozinho de baliza aberta, fez o 1-0.

Apostado em ligar o público ao jogo e dar fantasia e espetáculo à noite, o Sporting continuou a carregar, com Porro a ameaçar o 2-0. O duplicar da vantagem chegaria mesmo aos 7', com um passe longo do lateral espanhol a encontrar Trincão, que amorteceu para que Paulinho, com classe, marcasse à antiga equipa.

O estado de confiança do tantas vezes criticado ponta-de-lança verde e branco é uma das notas de destaque desta Taça da Liga. São já seis golos apontados e diversas ações de qualidade dando recursos e variabilidade ao futebol ofensivo dos leões.

Além do sorriso de Paulinho, outro destaque, por marcar uma diferença face ao passado, é a atitude sem bola de Marcus Edwards. O inglês esteve muito rápido a condicionar a construção do Sporting de Braga e de uma dessas ações de pressão saiu o 3-0. O canhoto roubou a bola a Tormena, partiu rumo à área com a sua passada curtinha e acabou derrubado pelo defesa que tinha acabado de desarmar. Penálti que Pote converteu no terceiro golo da noite.

Gualter Fatia/Getty

O Sporting de Braga foi quase sempre um conjunto de homens a perseguir sombras em Alvalade. Sem acerto técnico ou tático, só André Horta, com dois remates de fora da área à passagem da hora de jogo, incomodou um pouco Antonio Adán. Rúben Amorim começou a Taça da Liga a pedir que o Sporting recuperasse a consistência defensiva e, para já, os verde e brancos não sofreram qualquer golo em quatro jogos no torneio.

O 4-0, aos 41', foi um retrato do naufrágio bracarense e de algumas virtudes leoninas: o Sporting até parecia encurralado junto à direita da sua área, fruto da pressão dos visitantes. No entanto, Pedro Porro levantou a cabeça e deu para Paulinho, empenhado em dar uma lição sobre ser referência ofensiva. O internacional português tocou para Ugarte, que solicitou no espaço Nuno Santos. A razão para que o ala partisse sozinho desde a linha do meio-campo é desconhecida. Agradeceu Trincão, que sem oposição bateu Matheus, noutro golo de um ex-Sporting de Braga.

A primeira parte dos amores para o Sporting e dos horrores para o Sporting de Braga foi concluída com toques circenses de Marcus Edwards. O inglês parece, desde que chegou a Portugal, um jogador com potencial completo por descobrir, um copo sempre meio vazio, um “e se” feito de fintas e simulações. Rúben Amorim está apostado em transformá-lo na melhor versão possível. Ganhou um penálti e fez o 5-0 final.

A segunda parte até começou com mais números de classe de Porro e Edwards, mas a partida tornou-se num longo esperar pelo apito final, decididos que estavam estes quartos-de-final. Amorim deu minutos a Jovane, Arthur, Esgaio ou Essugo, Artur Jorge tentou fazer gestão de danos.

O Sporting entrou na Taça da Liga para respirar depois de um início de temporada que levou aos momentos mais difíceis da era Amorim, e o torneio tem dado de presente alegria e estabilidade. Seis vitórias seguidas, quatro jogos sem sofrer golos, meias-finais asseguradas. Rúben Amorim, que ergueu a tantas vezes mal-amada prova por três ocasiões como técnico e seis como jogador, viu os seus felizes atacantes servirem um cabaz de natal.