No dia em que a Vuelta entrou na Galiza com calma (na estrada), Mads Pedersen teve a sua vitória
Tim de Waele
Era uma tirada posta a jeito de fugas e assim foi. Na chegada a Monforte de Lemos e com o pelotão tranquilo, bem longe dos pretendentes à etapa, Mads Pedersen foi buscar a quarta etapa da sua carreira na Volta a Espanha. Houve mais protestos em prol da Palestina e, na classificação geral, tudo na mesma: João Almeida ainda é segundo, a 48 segundos de Jonas Vingegaard
Vinham de dois dias de repetidas vergastadas montanhosas, primeiro Angliru seguido da La Farrapona, era impossível não sentirem cansaço, as pernas não estarem com músculos queimados pelo esforço. Os ciclistas terão sorrido de contentamento com a mais simpática 15.ª etapa da Vuelta, inclinada ao início logo uma subida de 1.ª categoria antes de sequer pedarem 20 quilómetros, mas, para a frente, mais amigável nos seus altos e baixos que pareciam pêra-doce se postos ao lado das inclinações recentes.
Tão posta à mercê, este domingo foi dia para fugas, dezenas de ciclistas fizeram-se à aventura, Ivo Oliveira entre eles, o aniversariante na véspera que com Jay Vine, companheiro da UAE Emirates, partiu para longe do pelotão e manteve a contradição velocipédica que é a sua equipa, liderada por um diretor que dois dias antes vendera o fim do interesse dos seus neste tipo de debandadas. A tirada decorreu tranquila, com fragrância já de descanso, uma premonição do segundo dia de paragem da Vuelta, na segunda-feira.
Houve uma exceção. Quando restavam pouco mais de 55 quilómetros e o pelotão, a uns 13 minutos da dianteira da corrida, pedalava tranquilamente, um homem apareceu à beira da estrada, com uma bandeira da Palestina nas mãos e, ao descer o pequeno socalco de vegetação à beira da estrada, escorregou, caiu e por um triz não resvalou para o alcatrão - contudo, dois ciclistas da Movistar, distraídos ou não pelo episódio, caíram das bicicletas.
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O protesto (não foi o único) surgiu no dia em que os elementos da Israel Primer Tech surgiram sem o nome de quem lhes paga no equipamento, por decisão da equipa, para tentarem atenuar a animosidade. Na meta estariam dezenas de bandeiras da Palestina, mas a organização, como o fez há dias, não sentiu necessidade de antecipar o fim da etapa. Soube-se, entretanto, que sofreu nas ondas radiofónicas: hackers entraram no sinal da rádio oficial da Vuelta durante a etapa de sábado e chegaram a transmitir mensagens pró-Palestina.
Lá na frente de tudo, Jay Vine ainda deu ao pedal para chegar ao destino sozinho ou com pouca companhia, mas feria alcançado pelo grupo maior de fugitivos, onde se incluía Mads Pedersen, o terminador implacável de etapas quando o terreno se deixa de saliências e proeminências. Eram nove os ciclistas a acelerarem Monforte de Lemos dentro, tão rápidos iam que um deles, Magnus Sheffield, escorregaria na última curva e o dinamarquês ficou com menos um adversário para bater.
O homem da Lidl-Trek rasgaria o seu sorriso na meta, a celebrar a quarta vitória da carreira na Vuelta e a 11.ª em etapas de grandes voltas. Depois abraçou, exuberante, os colegas de equipa, feliz da vida, um contraste com o compatriota Jonas Vingegaard, sem um esgar de reação à chegada, quase um quarto de hora volvida. Era uma jornada para os homens com mira na classificação geral pouparem forças, cingirem-se ao indispensável. João Almeida chegou vizinho do dinamarquês, manteve os 48 segundos de desvantagem para o camisola vermelha.
A verde está com Mads Pedersen e só a da UAE Emirates veste o corpo de Ivo Oliveira, 11.º de uma etapa que cravou um grosso punhal na diferença de chegada para o pelotão, tão larga que um dos fugitivos, o belga Junior Lecerf, da Soudal Quick-Step, subiu à 9.ª posição da geral graças aos seus esforços. Segunda-feira será dia de descanso, a terceira semana da Vuelta arrancará no dia seguinte.