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Automobilismo

Um terródromo com 16,4 km de emoções

Conheça ao pormenor o traçado de 16,4 km onde há 24 anos se disputam as 24 Horas TT de Fronteira

Rui Cardoso

De noite todos os gatos são pardos, mas até os Renault 4 ousam passar as ribeiras

Mário Cardoso

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A pista das 24 Horas TT de Fronteira, cuja partida foi dada sábado dia 26 de Novembro às 14.00, é um perímetro de 16,4 km de subidas, descidas e encadeados de curvas, atravessando duas passagens de nível e quatro linhas de água. Aqui passava o antigo Ramal de Portalegre, construído em 1937 e desativado em 1990, substituído entre Fronteira e Cabeço de Vide por uma ecopista com 14 km de extensão.

A reta da meta situa-se junto à zona industrial de Fronteira e termina numa curva de 180º à esquerda. O piso é escorregadio e fica escavado na trajetória ideal, existindo talude inclinado à direita onde se dão frequentes capotanços.

Segue-se uma contracurva à direita, um sobe e desce e a descida para um pequeno troço de asfalto, muito cavada na sua zona final, tendendo a formar degrau na transição entre os dois tipos de piso. No alcatrão, estreito e com uma curva à direita, as ultrapassagens são fáceis, exceto se os dois carros andarem o mesmo. Termina numa zona estreita correspondente à antiga passagem de nível, agora asfaltada.

Olival a subir

O piso volta a ser de terra e o traçado durante os 2 km seguintes é rápido e a subir. As trajetórias ideais ficam rapidamente cavadas após os treinos. Atingido uma espécie de planalto, ainda mais rápido, embora com duas mudanças de direção, segue-se uma descida com três lombas e entre vedações feita sempre a fundo.

No final há uma curva para a esquerda que pode ficar bastante trilhada. Segue-se uma parte muito sinuosa que começa por contornar um silo e vai enrolando e desenrolando até cruzar a primeira ribeira. Mesmo que esta tenha pouca água, os rodados dos carros vão arrastá-la e transformar ao fim de poucas voltas a rampa seguinte e a curva à direita no alto num troço de “chapa ondulada”. Logo depois, umas centenas de metros planos mas sinuosos que são infernais de fazer durante a noite porque se torna difícil perceber onde estão as regueiras e as pedras. E as consequências de um erro podem ser fatais para a mecânica

Quinta a fundo

Após uma curva muito larga para a esquerda que se faz geralmente a fundo e onde antigamente havia espetadores acampados vem a zona mais divertida do circuito: plana, com bom piso e curvas relativamente suaves. É quinta a fundo mas cuidado que termina num estreito e numa lomba cega…

Esta lomba – e aqui está um dos mandamentos deste circuito – tal como as suas congéneres é sempre seguida de curva apertada à esquerda. O traçado volta a enrolar e a estreitar até descer para a segunda linha de água, neste caso o Rio Grande de Fronteira. O piso é de cimento mas convém não exagerar na curva fechada para a esquerda à saída da ribeira, sob pena de virar o armário, tanto mais que segue uma zona de piso degradado. Este bocado, nos anos de chuva, termina na zona mais ingrata do circuito: um sobe e desce muito esburacado e trilhado.

Segunda passagem de nível

A pista abandona as zonas baixas e volta a ser muito rápida, subindo para a segunda passagem de nível. Costuma ser por esta altura que me debato com um dilema, a saber qual deva amaldiçoar primeiro: se os escassos 110 cavalos do nosso Patrol GR ou as duas toneladas que pesa…

Se a travagem para a dita passagem de nível nunca está grande coisa, que dizer da saída? O melhor é deixar o carro fugir para a direita, a roçar pelo talude, o que tem a vantagem suplementar de abrir espaço para algum adversário que venha na ponta da unha e queira passar…

E aí estamos num novo planalto, quase à cota da reta da meta que vislumbramos ao longe. Mas para lá chegar é preciso voltar a cruzar o Rio Grande. Na nova variante, inaugurada o ano passado por causa da “arrumação” dos espetadores, há que ter cuidado com a primeira curva à direita, razoavelmente escavada e escorregadia e sobretudo com o gancho à esquerda que antecede a descida para a linha de água, tanto mais que a passagem da terra para o cimento cava sempre buraco. E grande…

Mesmo com o que choveu não há este ano muita água mas há a suficiente para as centenas de metros a subir que se seguem ficaram enlameadas e lentas.

Subida final

Daqui em diante é (quase) sempre a subir. A exceção é uma curva e contracurva em piso de cascalho que se vai degradando a cada volta e tem a característica de cada vez parecer ficar ainda pior.

Na subida para a reta da meta, quem não os tenha volta a lamentar a falta de cavalos, posto o que se atinge a altitude máxima do circuito, o que nos permite ver o mar de regueiras que nos separa da descida para a dita reta ou para a entrada das boxes, se for o caso.

Aqui está o que, conforme os carros, os pilotos e as alturas da corrida, se pode fazer em dez minutos (os mais rápidos na qualificação), em quinze se tudo estiver a correr bem e em 20 ou mais quando já faltarem as forças e a mecânica começar a gemer de forma mais ou menos audível e a aconselhar poucas maluqueiras.