Os dias das grandes decisões no universo dos desportos motorizados ainda não acabaram. Desta vez entra em cena a Extreme E, que tem palco montado em Dorset, no Reino Unido, localização que veio substituir o X Prix da Argentina devido à situação pandémica na América do Sul.
E porque este é o ano das grandes rivalidades, os principais candidatos ao título são as equipas Rosberg X Racing e X44, fundadas por Nico Rosberg e Lewis Hamilton, respetivamente. A equipa de Rosberg, da qual fazem parte os pilotos Molly Taylor e Johan Kristoffersson, segue na primeira posição com 129 pontos. Logo atrás, com 113 pontos, está a equipa de Hamilton, que conta com Cristina Gutiérrez e Sébastien Loeb.
Para a final foram já anunciadas algumas mudanças, como tem sido habitual para que tudo esteja adaptado a cada localização, sendo que a principal se prende com a ordem de utilização de cada piloto. Até aqui cada equipa poderia escolher que piloto utilizar primeiro, mas no evento em Dorset ficou determinado que o piloto masculino seria o primeiro a entrar no SUV na sessão de treinos livres e que as mulheres sejam as primeiras a conduzir durante a final.
“A julgar pelos vídeos que vi, será um grande desafio. A pista está lamacenta, como é claro temos o típico tempo britânico com chuva todos os dias. Isso será definitivamente um desafio para os pilotos”, garante, em declarações à Tribuna Expresso, Izabella Rekiel, correspondente da Extreme E que tem acompanhado todo o percurso do barco St. Helena que transporta a estrutura e carros necessários para as corridas.
Depois do foco em temas como o aquecimento global, poluição dos oceanos ou desflorestação, a Extreme E vira agora as atenções para a biodiversidade.
“Estamos a trabalhar para reintroduzir os castores no ambiente. Os castores não existem nesta área em particular e isso deve-se em grande parte aos homens e às alterações climáticas. Eles são como os engenheiros naturais do ecossistema, por isso esperamos ajudar a área reintroduzindo-os, para ajudar a biodiversidade. Esta é realmente a questão principal aqui em Dorset, é a biodiversidade”, explica Izabella.
Desde que a viagem começou, também no Reino Unido, até ao dia em que o St. Helena regressou, o barco percorreu cerca de 19 mil milhas náuticas. As primeiras milhas foram em direção à Arábia Saudita. Seguiram-se Senegal, Gronelândia, Sardenha e o regresso ao Reino Unido, além de todos os locais onde o barco parou pelo caminho. Como é o caso de Lisboa, altura em que a Tribuna Expresso teve oportunidade de o visitar.
“É difícil acreditar que a Extreme E está agora a preparar-se para o seu último X Prix da época inaugural e que o St. Helena está de volta ao Reino Unido, de onde partiu há quase um ano. Estamos tão entusiasmados por terminar a nossa primeira temporada em Dorset, no Reino Unido. Apesar dos lugares incríveis que visitámos até agora, a paisagem aqui é igualmente espantosa e não há dúvida de que vai ser certamente um desafio para os carros e pilotos”, disse Alejandro Agag, diretor executivo e fundador da competição, em comunicado.
Mas mais do que dar a conhecer os lugares que visitaram, a viagem a bordo do St. Helena foi desenhada a pensar no ambiente - assim como toda a competição - e, no final, acabou por deixar uma lição a outras modalidades.
“Ao viajar de navio, reduzimos definitivamente uma enorme pegada de carbono”, diz Izabella. Mas há outras vantagens: “O facto de tudo ter de estar já no navio, tudo tem de ser previamente planeado. Há uma grande quantidade de organização e logística a ser feita nesse sentido, e quando se está preparado, reduz-se o desperdício e as coisas desnecessárias. Leva-se só realmente o que se precisa”.
Sendo assim, a correspondente da Extreme E não tem qualquer dúvida quando diz que a competição, mesmo que tenha apenas um ano de idade, pode ser um exemplo para outras modalidades, pelo menos do ponto de vista da preocupação com o ambiente.
“É claro que temos muitas lições a aprender, mas penso que os outros desportos podem certamente olhar para nós e talvez ver-nos como um exemplo, definitivamente do ponto de vista da navegação”, afirma.
A conclusão da competição está marcada para domingo, mas com o barco já ancorado no Reino Unido, Izabella já consegue refletir sobre tudo o que aprendeu e viu ao longo de todos os meses que esteve a bordo do St. Helena. E a mensagem que deixa é clara.
“Penso que as pessoas precisam de compreender que tudo está ligado. Não há ação no mundo sem uma consequência e infelizmente a ação humana está a ter consequências negativas. Vimos por exemplo que no Senegal o aumento da poluição significa a perda da biodiversidade, o que significa a perda do turismo de uma perspetiva humana e a perda da segurança alimentar. Penso que esse é o tema corrente da minha perspetiva de estar no navio, é que tudo no ambiente está ligado e se não tratarmos dele, então essa cadeia irá quebrar-se e há enormes consequências para isso”, concluiu.