Entre a largada das 24 Horas TT de Fronteira, às 14 horas de sábado e o anoitecer vão pouco mais de três horas. Daí em diante são trevas, nesta prova, fundada por José Megre e organizada pelo Automóvel Clube de Portugal. E as trevas só se dissiparão ao terceiro cantar do galo, ou seja lá para as seis e meia da manhã.
Até lá, os jogos de luz e de sombras podem pregar partidas aos pilotos e acabar-lhes com a corrida, seja num voo inopinado numa lomba, seja numa traseirada ou num despiste. O essencial é fazer como a formiga da fábula: amealhar voltas, rodar sempre, mesmo à defesa, para evitar surpresas. As contas são fáceis de fazer: Mesmo fazendo 20 minutos por volta, isso significa três voltas por hora o que, multiplicado por 14 horas de escuridão, dá 42 voltas: a espinha dorsal da corrida e o suficiente para decidir uma classificação, quer se lute por ganhar, quer se lute apenas por chegar ao fim, como é o meu caso.
Recordemos que mesmo com a pista muito rápida, o primeiro classificado nunca cumprirá mais de 110 voltas, logo 42 voltas nocturnas é a base para chegar ao fim classificado (fazer pelo menos 40% das voltas do vencedor ou seja 44 para os veículos 4x4 e menos ainda para os 4x2).
Delícias nocturnas
Nem todos gostam de guiar de noite mas não é o caso do autor destas linhas. Quando se pega no carro a partir das 11 da noite há menos trânsito e consegue-se rodar com algum à vontade. A aproximação dos concorrentes mais rápidos é muito mais nítida porque o clarão dos projectores os anuncia a grande distância. Nestes últimos anos o advento das baterias de luzes led é uma dupla boa notícia: alumiam mais e não dão cabo de alternadores, aterias e afins
Só quando o dia começa a nascer, um dos momentos mais bonitos da corrida, é que começamos a ver que metade das valas tenebrosas que passámos a noite a evitar eram meros fantasmas, enquanto outras se mostram na sua verdadeira e tenebrosa fundura, batidas pelos primeiros raios de sol.
Crónicas do gelo
Em contrapartida, as temperaturas extremamente baixas que se fizeram sentir durante a noite fizeram com que, de cada vez que se atravessava o Rio Grande, as gotas de água que caíam no para-brisas congelavam imediatamente. Para quem vai ao volante é como se uma mão invisível de repente tivesse corrido um lençol branco à nossa frente. Verdadeiramente arrepiante, posso garantir-vos. Tanto como fazer uma curva que vira a nascente e levar com os raios do sol baixo de frente…
Igualmente arrepiante foi quando o nosso Nissan Patrol começou a perder potência. Consegui arrastar-me até um posto de controlo onde foi providenciado um reboque que nos trouxe de arrasto até à box. Era mais um problema relacionado com a alimentação do combustível que nos atormentaram desde o começo da corrida e que neste caso se resumia a uma ficha desligada…
Durante quase toda a noite os SSV (vulgo aranhiços) intrometeram-se na luta pelos primeiros lugares e chegaram a bater os buggies franceses. Contudo, à medida que as horas passavam e o dia nascia, a experiência da equipa luso-francesa de Alexandre Andrade foi levando a melhor