O regresso da Serie A, depois do Campeonato do Mundo num calendário bizarro, não trouxe apenas a primeira derrota do Napoli, mais um belo golo de Rafael Leão e um golaço de Arthur Cabral à Gabriel Omar Batistuta no Fiorentina-Monza. A Serie A voltou a mostrar a sua face mais miserável e intolerante quando os adeptos da Lazio vomitaram insultos racistas contra Lameck Banda e sobretudo Samuel Umtiti, futebolistas do Lecce.
Umtiti, emprestado pelo Barcelona e campeão do mundo em 2018 pela França, nasceu nos Camarões e terá saído do relvado a chorar. Antes disso, o árbitro parou o jogo na segunda parte devido às investidas racistas “no setor dos visitantes ocupado pelos adeptos da Lazio”, um clube que conta com adeptos ligados à extrema-direita.
De acordo com o presidente do Lecce, contou a “Gazzetta dello Sport”, Umtiti pediu para o jogo, a contar para a 16.ª jornada, ser retomado enquanto o speaker pedia aos adeptos visitantes para pararem com aquela atitude, que é tudo menos uma novidade no país e naquele clube.
“Ele queria responder aos insultos no campo”, revelou depois Saverio Sticchi Damiani. “Ele reagiu como um verdadeiro campeão.” O central, de 29 anos, acabaria por receber uma ovação de pé e a página oficial do clube mencionou, nas redes sociais, o papel dos adeptos locais, que gritaram por Umtiti.
O Lecce ganhou, mas o futebol voltou a perder. Na sequência do incidente, o presidente da FIFA surgiu nas redes sociais para apoiar os jogadores. “Vamos gritar bem alto: NÃO AO RACISMO! Que a maioria dos adeptos, que são boas pessoas, se levantem para calar os racistas de uma vez por todas”, escreveu Gianni Infantino.
Finalmente, também o jogador dedicou uma story no Instagram para o caso. Com a foto que também apresenta este artigo, escreveu: “Apenas futebol, diversão, alegria. O resto não importa”.
“Vieste num bote”
Em maio, durante um encontro da Lazio contra o Hellas Verona, vários adeptos romanos insultaram um homem que estava a trabalhar na segurança da partida. Disseram-lhe coisas como: “Vieste num bote, vieste num bote", em referência aos migrantes e refugiados que chegam a Itália e também “seu monte de merda, vamos mandar-te para casa num bote".
Quando os cânticos ofensivos começaram, o steward quis permanecer no campo, num ambiente que se foi tornando mais tenso. Vários colegas foram-se aproximando, até que o homem abandonou mesmo a zona onde estava a ser insultado. Ao sair do estádio, o steward apresentou queixa, contou então o "Corriere dello Sport".
Luigi di Maio, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, condenou o sucedido, uma história que parece não ter fim naquele país. O governante classificou os adeptos que insultaram como "cobardes", sublinhando que "em Itália não há lugar para esta discriminação e ódio". E acrescentou: "Nenhuma forma de racismo pode ser tolerada, precisamos da condenação firme de todos, sem hesitação".