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João Almeida Rosa

João Almeida Rosa

Treinador de futebol

No Dragão há Champions, mas também Carnaval: como vai o FC Porto equilibrar face à Juventus de Ronaldo

O FC Porto recebe a Juventus (20h, TVI), que conta com melhores jogadores, mais estatuto, um orçamento muito maior e, por tudo isto, tem um favoritismo claro. Não será surpreendente, contudo, ver os portistas a equilibrar a partida e Sérgio Conceição deu algumas dicas: o segredo pode ser um sistema… mascarado

João Almeida Rosa

MIGUEL MEDINA

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Todos os que têm interesse pelo lado tático do jogo, e talvez até alguns daqueles que não têm assim tanto, já ouviram vários treinadores dizer isto vezes sem conta: o que interessa não é o sistema, são as dinâmicas. O FC Porto-Juventus desta noite, a contar para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, vai passar muito por aqui.

Os italianos, mais experientes nestas andanças, com jogadores de maior gabarito e qualidade, bem como outra responsabilidade e pressão para seguir em frente, são os favoritos. Mas como joga esta equipa liderada pelo estreante Andrea Pirlo, que não tem tido vida fácil neste primeiro ano como treinador?

A Juventus começou a época em 3-4-3, mas, talvez devido aos maus resultados iniciais, ou quiçá para facilitar a compatibilidade entre Cristiano Ronaldo, que teve alguns problemas físicos no arranque da temporada, e Morata, um dos destaques nesse período, os transalpinos adotaram o 4-4-2 no qual jogam atualmente. Contudo, o que interessa são as dinâmicas e não o sistema, lembram-se?

O onze provável da Juventus

O onze provável da Juventus

Tribuna Expresso

Olhando para essas dinâmicas, a Juventus continua a construir muitas vezes com três jogadores na primeira fase de construção, tal como fazia no seu sistema inicial, juntando um lateral (à partida Danilo) aos dois centrais (Chiellini e Bonucci) e fazendo Alex Sandro, na esquerda, subir. À direita será Chiesa, o extremo mais desequilibrador da equipa, a jogar bem aberto no corredor.

A intenção é ter superioridade na fase inicial do ataque e Pirlo não deverá abdicar disso, até porque o FC Porto costuma jogar em 4-4-2 e ter dois avançados na frente.

Bonucci constrói, Chiesa desequilibra, Ronaldo finaliza

A equipa de Ronaldo e companhia gosta, a partir dessa construção a três, de jogar por dentro, obrigar o adversário a fechar e, aí, aberto o espaço nos corredores, atacar o último terço do adversário junto às linhas laterais: atenção a Chiesa, já o referi, que é muito forte no um contra um, mas, antes deles, também a Bonucci, que é o maior construtor de jogo da equipa. Sim, é defesa central, mas prima pela capacidade de passar, curto ou longo, e se não for bem pressionado será um problema. Mas, melhor do que ninguém, Sérgio Conceição sabê-lo-á e não será de estranhar se virmos Taremi (ou Marega?) muito próximo do italiano.

Na frente, claro, não vale a pena perder tempo a falar de Cristiano Ronaldo. Seja a responder a cruzamentos ou a atacar o espaço nas costas da defesa, qualquer desatenção, milimétrica que seja ou por um mísero segundo, pode custar golo. Pepe, um dos seus melhores amigos no futebol, companheiro de seleção e outrora no Real Madrid, travará um duelo em tudo interessante com o ex-colega.

Identificados os padrões principais no jogo da Juventus e os destaques individuais da equipa de Andrea Pirlo, resta perceber: como se contrariam estas armas e respetivo favoritismo da Vecchia Signora?

No Carnaval, um 4-4-2 mascarado pode ser a arma de Conceição

MIGUEL RIOPA

Perante uma equipa que constrói a três, procura a largura total no ataque e usa dois bons avançados, não será de estranhar ver o treinador do FC Porto a optar por uma fórmula semelhante à que foi utilizada nos dois jogos com o Manchester City (e na Taça da Liga, frente ao Sporting CP): um sistema com 3 centrais.

Talvez até mais do que em 3-4-3, o FC Porto pode surpreender ao adotar um 3-5-2 (ou um 4-4-2 mascarado, um pouco como a própria Juventus faz). Na conferência de imprensa, o técnico dos dragões falou precisamente da forma como os sistemas se desdobram e deixou algumas dicas:

“Não jogando em 3-4-3 posso provocar isso no jogo também, com alas por dentro, um avançado mais baixo, com um lateral a projetar-se muito e o outro a ficar mais baixo, com um ala do lado contrário a ficar mais por dentro e o outro não... Depende daquilo que se trabalha”, explicou o treinador do FC Porto.

Defensivamente, essa possibilidade facilita o aparecimento de uma linha de 5 atrás, mais capaz de controlar a largura que a Juventus tanto procura, e cria uma superioridade de 3 vs 2 no eixo da defesa, o que pode ser importante para tentar controlar Cristiano Ronaldo e Morata. Por outro lado, o tal 3-5-2 facilita os encaixes no meio-campo (o 3-4-3 seria mais propício, no papel, a uma pressão forte, visto promover os encaixes com a fase de construção da Juventus).

A dúvida poderá ser entre utilizar declaradamente três centrais (Pepe, Mbemba e Diogo Leite/Sarr) e dois alas (Manafa e Zaidu) ou fazê-lo com 3 centrais, mas apenas um lateral de um lado e Corona a fechar o corredor do outro. Seja como for, espera-se um FC Porto com a tarefa bem estudada – Sérgio Conceição é um técnico que se destaca pela sua capacidade estratégica –, a fechar os caminhos para a sua baliza e a apostar nas transições rápidas, bem como na especialidade da casa: as bolas paradas.

P.S.: No último treino da equipa italiana, cumprido após a realização desta antevisão, Bonucci lesionou-se e está, assim, de fora do embate com o FC Porto. De Ligt deverá ser o seu substituto, e embora todas as dinâmicas se devam manter, a capacidade do holandês no passe não é a mesma da de Bonucci. Poderá ser uma boa notícia para o FC Porto.