Perdoem-me as gentes suecas pelo termo utilizado no título, particularmente os que estão ligados ao futebol e à seleção orientada por Janne Andersson, que têm sido competitivos e têm colocado dificuldades a França, Portugal e Croácia, apesar das três derrotas. No entanto, olhando para a composição do grupo 3 da Liga das Nações, a Suécia é, pelo valor absoluto dos seus jogadores e pelos resultados até ao momento conseguidos, a equipa mais fraca das quatro. E isso pode ser uma boa notícia para Portugal, mas também pode não ser.
Afinal, depois de um empate com sabor positivo no jogo teoricamente mais difícil dos seis deste grupo, frente à França (0-0), Portugal enfrenta precisamente aquele em que é mais claramente favorito. É uma linha de raciocínio simples, provavelmente até demasiado simples para antever o que será o embate de hoje entre a equipa portuguesa e a sueca.
Ao longo da última década, a seleção nacional conseguiu tornar-se cada vez mais competitiva quando encontra os maiores rivais: desde 2018, por exemplo, a equipa lusitana não voltou a perder com equipas do top-20 do ranking internacional, nomeadamente com a Espanha, a França, a Itália, a Holanda ou a Croácia.

Baptiste Fernandez
Não obstante, também tem sido comum ver os portugueses com dificuldades frente a adversários teoricamente mais fracos, que não têm problema em entregar a bola e que se destacam sobretudo pela sua capacidade para fechar espaços. E é isso que se espera da Suécia, até porque foi o que a Suécia apresentou em Estocolmo, aquando da vitória portuguesa por 2-0, mas na qual os golos foram alcançados apenas após a expulsão de Gustav Svensson.
Assim, é previsível que a Suécia volte a enveredar por uma estratégia pragmática e não muito ofensiva, procurando apresentar um bloco compacto, com linhas próximas, e depois sair em contra-ataque ou apostar nas bolas paradas. Portugal terá de mostrar criatividade. Mais do que até então.
Cristiano ausente = futebol mais atraente?
Foi quase debate nacional após a grande exibição de Portugal frente à Croácia (vitória por 4-1), na estreia desta edição da Liga das Nações, mas dias mais tarde a Seleção bateu esta mesma Suécia por 2-0… com dois golos do seu capitão. Em que ficamos?

MARIO CRUZ
Parece-me justo considerar que, sem Cristiano Ronaldo, Portugal apresenta um jogo mais fluido e imprevisível, porque todos os jogadores deixam de ter uma referência clara na frente de ataque, com as vantagens e desvantagens que isso acarreta.
Deixa de haver um homem capaz de transformar quase todas as situações de finalização em golo, mas também deixa de haver um condicionamento natural que os restantes jogadores sentem no último terço, próprio de quem sabe que ali está alguém mais capacitado para atirar à baliza, por isso o melhor é entregar-lhe a bola.
Foi o que aconteceu num dos últimos lances do jogo com a França, em que Francisco Trincão tinha a bola ao jeito do seu grande pé esquerdo, mas preferiu passá-la a Cristiano, que quase bateu Lloris.

MIGUEL RIOPA
Em suma, é muito arriscado afirmar que Portugal – ou qualquer outra equipa ou país – ganha probabilidades de vencer ao deixar Cristiano Ronaldo de fora das suas opções, mas também considero legítimo dizer que, desta forma, a seleção nacional será um coletivo mais capacitado para desmontar um bloco baixo através de uma organização ofensiva mais fluida, criativa e com maior variabilidade.
Assim, a fórmula adotada frente à Croácia deverá voltar a ser utilizada por Fernando Santos: João Félix como falso 9, a baixar e retirar referências aos centrais suecos; Bernardo Silva e Diogo Jota nos corredores, respetivamente à direita e à esquerda, oferecendo sempre bastante mobilidade; apoiados por Bruno Fernandes como médio de maior chegada, e pelos laterais, responsáveis por dar largura ofensiva à equipa.