O sorteio que o Sporting teve no caminho para a fase de grupos da Liga Europa não foi propriamente simpático: se, num primeiro momento, o adversário foi o modesto Aberdeen, no passo seguinte os leões calharam em sorte com um velho conhecido que, na última edição, terminou o grupo à frente da equipa portuguesa e chegou aos oitavos de final, caindo apenas perante o Manchester United.
É claro que não se trata de um adversário imbatível, fora do alcance do Sporting nem sequer com o qual o conjunto de Rúben Amorim não seja favorito – até porque joga em casa, embora sem público –, afinal de contas falamos do último 4.º classificado da liga austríaca. Mas que era um dos mais duros ossos de roer que podia calhar nesta fase, era.
Treinador diferente, mas o mesmo 3-4-3
Tal como na época passada quando o Lask enfrentou o Sporting, também agora o adversário dos leões vai apresentar-se em 3-4-3. Apesar da mudança de técnico relativamente a esse duplo encontro com os verdes e brancos (na altura ainda era o francês Valérien Ismaël, mas ainda na época passada o clube apostou no austríaco Dominik Thalhammer), o sistema tático do Lask manteve-se e os princípios base de jogo também não se alteraram.

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Assim, as duas equipas vão apresentar-se em 3-4-3 e há alguma curiosidade para perceber se isso não vai levar a uma série de encaixes individuais de parte a parte. Na época passada, Silas entrou em 3-5-2 para o jogo em Alvalade, mas a perder ao intervalo mudou para 4-3-3 e foi assim que conseguiu a reviravolta no segundo tempo. Já na Áustria, a partida (3-0 para o Lask) acabou por ser muito condicionada pela expulsão precoce de Renan, pelo que seria despropositado tirar grandes conclusões a partir das decisões táticas desse encontro, até porque o Sporting já entrou apurado nesse jogo.
A verdade é que, independentemente do sistema utilizado por Silas nos dois jogos, o Sporting sentiu muitas dificuldades contra o seu próximo adversário. Mesmo quando ganhou, em Alvalade, não o fez de forma convincente: concedeu 22 remates (contra 12 seus), teve menos posse de bola e os austríacos desperdiçaram várias oportunidades na ponta final. É certo que, aos dias de hoje, os leões parecem mais fortes, tanto individual como coletivamente, mas se há cerca de um ano podem ter sido surpreendidos, hoje não há razões para não entrar em campo em alerta máximo.
Pressão constante e um jogo sem pausa
Um pouco como mostrou na época passada, ainda hoje o Lask é uma equipa que faz da sua pressão a campo inteiro a sua principal arma: em 3-4-3, o expetável é que os visitantes tentem condicionar a construção dos leões e queiram roubar a bola o mais alto possível no campo. Para isso, devem integrar os 3 avançados, mas também os dois médios nessa pressão alta, e o mais provável é que, em muitos momentos do jogo, o façam com referências individuais bem vincadas, ou seja, marcando praticamente homem a homem.
Assim, Rúben Amorim e a sua equipa técnica terão de escolher entre enfrentar e tentar bater esta pressão ou tentar saltá-la através de uma primeira bola mais longa, impossibilitando o Lask de fazer aquilo que mais gosta, que é manter o jogo perto da baliza do seu adversário.
Ainda assim, esta urgência em recuperar a bola que a equipa de Dominik Thalhammer mostra pode levar a que seja mais fácil para a equipa lisboeta atrair e manipular o seu adversário. Por exemplo, baixando os seus médios, o mais provável é que os centrocampistas do Lask, Holland e Michorl, subam para os bloquear e abram espaço nas suas costas.
Aí, será fundamental o papel de Vietto (e/ou Pedro Gonçalves, já disponível após teste negativo à Covid-19) para conseguir receber nas costas da linha média. Importante também será que haja sempre movimentos de ataque à profundidade, que Tiago Tomás ou Jovane (em dúvida) fazem bem, para que a linha defensiva não esteja confortável em subir e anular esse espaço entrelinhas.
Já com bola, os leões enfrentarão um conjunto que procura rapidamente a baliza, que não adorna em demasia as suas jogadas, e particularmente forte nas bolas paradas: cantos, livres laterais e… lançamentos longos. São uma constante e obrigarão o Sporting a estar sempre bastante concentrado e com os índices de agressividade em alta para os duelos no ar.

REINHARD EISENBAUER
Marko Raguz marcou nos dois jogos e é o nome a ter em conta
Individualmente falando, o Lask apresenta alguns jogadores interessantes: o central e capitão Gernot Trauner é o líder da defesa, destacando-se pela imponência nos duelos e capacidade nas bolas paradas, tanto ofensivas (marcou no último jogo) como defensivas; o médio Peter Michorl é acima da média na equipa; o extremo Husein Balic aparece bem em zonas de finalização da esquerda para dentro, mas a maior ameaça da equipa é mesmo o ponta-de-lança Marko Raguz.
Com 22 anos e 1.86m, é a referência ofensiva da equipa e o destinatário de todas as bolas mais longas ou cruzamentos dos colegas porque segura bem de costas e é forte nos duelos. Além disso, tem técnica suficiente para dar seguimento aos ataques, mexe-se bem nas costas da defesa e, por isso, será alguém a quem (sobretudo) Coates terá de dar bastante atenção.
Nos dois jogos com o Sporting fez dois golos e leva, neste arranque de temporada, cinco em cinco partidas oficiais. Confiança não lhe falta, como de resto a toda a equipa, uma vez que somam quatro vitórias e apenas um empate nestes cinco embates, tendo ganho (3-1) no passado fim-de-semana ao Wolfsberger, equipa que terminou a última liga um lugar à sua frente.
Em suma, o Lask é uma equipa que mantém as linhas gerais relativamente ao que mostrou na época passada. Do 11 titular que apresentou nesse último jogo com o Sporting, só dois jogadores saíram (o extremo Dominik Frieser e o avançado João Klauss) e, apesar da mudança de técnico, as intenções coletivas pouco mudaram. O que terá de mudar, forçosamente, é a prestação dos leões relativamente a esses dois jogos da época passada, mas também tendo como comparação o encontro frente ao Aberdeen. Diante de um adversário mais forte e com convicções muito vincadas, não subir o nível poderá custar caro.