Foi sozinho para o Chipre?
No primeiro ano fui sozinho. O primeiro impacto foi incrível, estavam 45.° dentro do táxi que me levou do aeroporto ao clube, com o ar-condicionado ligado. Estava muito calor, a paisagem toda seca, são 40 km até Nicósia. Nessa altura assustei-me, pensei, onde é que me vim meter? Isto não tem nada. Mas depois não foi assim. Nicósia é uma cidade boa. Na equipa estavam o Rafa Lopes e o Renato Margaça e estávamos sempre os três juntos, normalmente em casa do Renato. Foi uma boa experiência. Em termos desportivos nem tanto porque não atingimos os objetivos.
Quais eram os objetivos?
Eles disseram que fizeram uma equipa para sermos campeões. Mas depois não pagavam. Nós tínhamos uma cláusula, em que tínhamos um período de carência de 60 dias. E eles só pagavam ali a bater nos 60 dias.
Alguma vez teve de ir às poupanças?
Eu recebi um prémio de assinatura e foi mais que suficiente, até porque acabava por ir recebendo.
No segundo ano em Chipre continuou a viver sozinho?
Não, eu depois casei no final desse ano e no 2.º ano a minha mulher foi viver comigo e adorou Chipre. Depois foi comigo para a Grécia também, mas diz que o Chipre deixou uma marca. Tinha muita segurança, podíamos deixar a porta de casa aberta. Isso dá conforto.
Do que mais gostou em Chipre?
Em Larnaca, onde eu vivia, era muito seguro, o clima era ótimo. O clube é de Nicósia, onde toda a gente é adepta do Omonia, mas em Larnaca estávamos mais à vontade para ir ao café, ir beber um copo, jantar fora. Nunca fomos abordados. Depois houve outras questões, como, por exemplo, chegaram a entrar pelo centro de estágios adentro porque não tínhamos bons resultados, furaram os pneus dos carros, etc.. Eram um bocado malucos nesse aspeto.
Apanhou algum susto maior?
Apanhei uma vez no final de um treino. Mas o que me custou mais foi que nós fomos avisados de que os adeptos iam lá. Nem sequer se preocuparam em fechar as portas, disseram que se fechassem era pior porque eles rebentavam tudo. Foram uns 100 ou 200 que entraram no campo de treinos, a mandar vir connosco em grego, ninguém percebia nada. Eles tinham um bocado de razão no que estavam a dizer, não na maneira como diziam. O Renato Margaça, como já estava lá há muitos anos, foi bastante visado. Foi uma situação desagradável. E sentimos que não tivemos o apoio do clube porque não fez nada para nos proteger, até preferiam abrir as portas do que terem de trocar um portão, ou chamar a polícia. Houve outra situação, após um jogo em que foram ao centro de estágio furar os pneus dos carros, partir vidros...
Também foi vítima disso?
Não, eu tinha levado o meu carro para o campo para depois ir direto para casa, foi a minha sorte. É um grau de fanatismo que, na minha opinião, não faz muito sentido.
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