“No primeiro treino, pegava na bola e ia para cima, pá, pá, chuto e golo. O Caneira ficou numa azia grande: ‘Ó miúdo, quem pensas que és?’”

Jornalista
Como reagiu quando o seu empresário lhe falou na hipótese de ir para o Videoton, da Hungria, hoje MOL Fehérvár FC?
Eu não conhecia o Videoton. Como disse, estava na minha zona de conforto, estava na cidade do Porto, não conhecia muito. Não conhecia os clubes da Hungria. Nem pensar. Mas depois fui ver os jogadores que estavam no Videoton e estavam lá o Filipe Oliveira, o Marco Caneira, jogadores com nome.
Quando aterrou na Hungria, quais foram as primeiras impressões?
Fui fazer testes, não assinei logo. As primeiras impressões foram boas e os portugueses receberam-me muito bem.
Que tal era o seu inglês?
Muito fraco [risos]. Foi uma sorte ter lá jogadores portugueses e o treinador, José Gomes, ser português, assim como os adjuntos. No primeiro treino, fazemos o aquecimento e depois houve aquele joguinho de cinco contra cinco, com baliza, no meio-campo. Cada vez que pegava na bola, ia para cima deles, pá, pá, pá, chuto e golo. Pá, pá, pá, chuto, golo. À terceira, quando peguei na bola, quem estava à minha frente? O Marco Caneira. Eu peguei na bola, esquerda, direita, meto a bola na frente, chuto e o guarda-redes faz grande defesa. O Marco Caneira ficou numa azia tão grande que se virou para mim: “Ó miúdo, mas quem é que tu pensas que és? Jogaste onde?” Eu a tremer [risos]. Deu-me uma dura, Jesus. Naquela altura eu era muito rápido, passei por ele com muita facilidade. Depois lá veio o José Gomes dizer para não me preocupar, que estava tudo bem. Depois disto, eu e o Marco sempre nos demos bem, deu-me bons conselhos, uma grande pessoa.
Qual foi o valor do seu primeiro ordenado?
Julgo que foram €3.500 nos primeiros três meses e depois foi entre €4.000 e €5.000.
Comprou alguma coisa em especial com os primeiros ordenados como profissional?
Ajudava muito a minha família.
Ficou a viver onde e com quem?
Fiquei a viver sozinho, num apartamento na cidade de Székesfehérvár. Foi muito bom, o que eu queria era estar sozinho, tranquilo, sem preocupações, a fazer o que gostava. Ia muito ao cinema, gostava muito de ir a Budapeste, que ficava a 30 minutos. Nessa altura não conduzia, então pedia ao Stopira, chamava-o “cota Stopi” [risos].
Aproveitou a noite na Hungria?
Não, na Hungria não saía muito. Aí já era profissional e, vindo da escola do FC Porto, já tinha aprendido. O Videoton era uma equipa grande e era muito fácil reconhecerem-me, mesmo sendo novo e não jogando muito, porque conheciam o plantel todo.
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