Perfil

A casa às costas

“Se eu fosse o Sérgio Conceição, com mais de 20 expulsões, já estava na Sérvia. Ele acha que só ele é que não gosta de perder?”

Jokanovic, 54 anos, continua a viver na Madeira e, apesar de não ter nenhuma ocupação profissional, vai dando uma ajuda na intermediação de jogadores, quando lhe pedem. Os dias têm sido divididos entre umas braçadas na piscina, o apoio aos filhos e o convívio à volta de uma cervejinha gelada. Nesta segunda parte do Casa às Costas conta-nos como foi treinar o Nacional, em três momentos diferentes, o União da Madeira e os Bravos do Maquis, de Angola. Sempre bem disposto, tece ainda algumas considerações sobre o futebol português e esta época cujo título, considera, seria bem entregue ao Benfica

Alexandra Simões de Abreu

NurPhoto

Partilhar

Pelos vistos estava preparado para o final da carreira de jogador no final da segunda época no Nacional, em 2003. Sabia o que queria fazer a seguir?
Deixei andar. A pessoa mais importante no que aconteceu a seguir foi Rui Alves. Ele deu-me carta-branca para fazer tudo. No primeiro ano fui olheiro dele, viajava para o Brasil, Sérvia, para todo o lado para procurar jogadores para o Nacional, com ele. De repente, ele virou-se para mim: "Porque é que não começas a treinar juniores para ver com corre?". Comecei a treinar juniores, no primeiro ano subimos do regional para a liga nacional, juniores. Passado ano e meio, acharam que eu estava preparado para substituir o Carlos Brito na primeira equipa, a três ou quatro jornadas do final da época. A partir daí entrei e saí várias vezes, fui diretor, fui olheiro, fiz muita coisa no Nacional.

Já tinha habilitações como treinador?
No primeiro ano que treinei o Nacional ainda não podia porque só tinha nível 2 e no meu lugar como treinador ia outro com carteira profissional e eu ia como delegado ao jogo. Demorei oito anos para fazer os níveis do curso de treinador. Mas o meu relacionamento com o Rui Alves é muito mais do que eu ser treinador do Nacional. Isto é importante. Porque muitos negócios e muitos jogadores fizemos em conjunto, eu e ele. Eu viajava com ele e na brincadeira dizia-lhe: "Rui, vai lá dormir que eu vou ver jogos, tu não percebes nada disto"; "Mas quem paga?"; "Tu pagas, mas eu vou escolher, calma" [risos].

Nunca se sentiu mal em andar a saltar de treinador para olheiro e vice-versa?
Não. O Rui Alves diz: "Tu nunca foste obcecado por dinheiro. Parecia que era o dinheiro que andava atrás de ti" [risos]. Para mim era mais importante outras coisas. Eu levava os meus filhos todos os dias para a escola, eu ia a todas as competições deles, eu preferia muito mais isto do que ir para não sei onde e ficar sem ver os meus filhos.

Artigo Exclusivo para assinantes

No Expresso valorizamos o jornalismo livre e independente

Já é assinante?
Comprou o Expresso? Insira o código presente na Revista E para continuar a ler
  • “Uma vez atrasámos um jogo 10 minutos porque o Augusto Inácio mandou benzer duas camisolas na igreja e o motorista ficou preso no trânsito”
    A casa às costas

    Conversar com Predrag Jokanovic é como abrir um livro de histórias, quase todas bem divertidas, algumas impublicáveis. O sérvio, que se apaixonou pela Madeira há 30 anos, onde aterrou para jogar no União, faz-nos uma visita guiada aos momentos mais marcantes da sua vida de jogador e de treinador, onde revela episódios caricatos num português ainda carregado de sotaque, mas que lhe dá uma graça única. Joka, como é carinhosamente tratado, jogou nos três maiores clubes madeirenses depois do início de carreira, na antiga Jugoslávia. E na II parte deste Casa às Costas, no domingo, falaremos sobre o papel de treinador, o que faz agora, os filhos e o futebol, que continua a ser uma paixão