Entrou pela primeira vez num clube da I Liga, o Marítimo, em 2016/17. Era muito diferente do que estava habituado?
Muita diferença pela positiva. Um clube bem organizado, com uma grande dimensão, muitos funcionários, um clube muito eclético. Fui muito bem recebido. Foi um passo ganho, claramente. O Marítimo estava em penúltimo lugar quando entrei e terminámos em classificação europeia (6.º lugar). Acho que foi marcante para um treinador estreante como eu.
O que mais contribuiu para esse sucesso?
Tive jogadores como o Fransérgio que me disseram coisas depois, que fiquei a pensar nelas. “Mister você entrou e disse ‘Estou a começar, estou a chegar à I Liga, queria muito chegar à I Liga, e preciso da vossa ajuda’. Quando o mister disse ‘preciso da vossa ajuda’, aquilo caiu bem em toda a gente”. Eu disse-lhes que precisava da ajuda deles, que queria ficar na I Liga vários anos, tinha assinado três anos com o Marítimo e não queria sair dali tão cedo. Disse-lhes mais: “Vou fazer as minhas escolhas, as minhas opções, mas todos para mim são importantes, vou tentar valorizar toda a gente, mas para isso preciso que me ajudem”. O Fransérgio disse-me que este lado humano, de saber lidar com o jogador, de ser frontal e sincero, caiu muito bem no grupo de trabalho. Houve logo uma recetividade muito grande pela forma humilde como entrei.
Também o ajudou o facto de ter jogadores com mais qualidade?
Sem dúvida. Com jogadores mais fracos fica tudo mais difícil. Foi muito importante ter jogadores bons.
Aí já tinha bem definida a sua ideia de jogo?
Já. A experiência da II e III divisões deram-me traquejo. Os sucessos no Famalicão e Santa Clara ajudaram-me muito. Vinha com confiança elevada naquilo que estávamos a fazer, na qualidade de jogo que estávamos a ter. Conseguimos implementar as nossas ideias, os jogadores foram muito recetivos. Tentei aumentar a velocidade de jogo, de raciocínio e de reação às ações, através de muito trabalho e foi bem-aceite. O lado estratégico também contou bastante, éramos das equipas que menos golos sofria, éramos fortes nas bolas paradas e eles tinham noção disso, trabalhávamos muito esse lado estratégico e tudo isso ajudou que a época fosse bem conseguida.
Qual ou quais os episódios mais marcantes?
O apito final no último jogo do campeonato em Paços de Ferreira. Foi brutal. Nós precisávamos de empatar esse jogo, era suficiente para ir às competições europeias. Empatámos 0-0, mas foi um sofrimento grande. Para quem começa em penúltimo e sabe que tem tudo a ganhar, mas tem também aquela sensação de que se deixar fugir uma classificação europeia por uma distração, por um momento… É terrível. Depois foi o descomprimir, uma sensação fantástica, tínhamos no regresso à ilha uma festa enorme à nossa espera. Chegámos à meia-noite, o aeroporto estava lotado à nossa espera, às duas da manhã tínhamos a câmara municipal e o governo à nossa espera numa receção enorme, e os maritimistas. Fantástico.