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A casa às costas

“Passei um momento difícil, estive alguns meses sem receber do V. Setúbal e sem saber como ia ser o futuro. Tive depressão e ganhei peso”

O avançado do Casa Pia, Rafael Martins, de 34 anos, revela nesta II parte da entrevista que colocou o sonho de jogar na La Liga à frente da hipótese de ir para o Sporting ou Benfica, fala da melhor época da sua carreira, no Moreirense, dos anos que passou no V. Guimarães e da aventura pela China onde, um dia, ao saber que estava a comer carne de tartaruga em vez de frango, teve de ir a correr para a casa de banho. O brasileiro conversa ainda sobre as imensas tatuagens que fez e confessa ser apaixonado por Cristiano Ronaldo

Alexandra Simões de Abreu

NUNO BOTELHO

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Em 2014/15 regressou a Espanha. Como foi jogar na La Liga?
Foi diferente. Naquela época era um futebol que encantava o mundo inteiro. Acho que toda a gente parava para assistir ao campeonato espanhol, pelas estrelas que o compunham. Não vou dizer que não me custou, custou-me um pouco, porque o ritmo de jogo era muito mais intenso, jogavam a um, dois toques, sempre. Mas foi uma experiência fantástica e a realização de um sonho.

Assinou por três anos, mas só ficou um. Por quê?
Poucas pessoas sabem, mas passei um momento difícil quando saí de Portugal, estive alguns meses sem receber do V. Setúbal e tinha dois filhos em casa. Muitas vezes tive de trazer dinheiro do Brasil para Portugal para poder viver. Foi um momento difícil. Passei por um momento de depressão, porque eu não sabia como ia ser o futuro. Vinha de quatro meses sem receber, já todos os clubes tinham feito pré-temporada e eu não sabia ainda o que ia ser do meu futuro, porque tinha um vínculo até dezembro com o clube do Brasil, o Audax - eu fui emprestado para o V. Setúbal -, e para transferir-me de qualquer clube eu tinha de desvincular-me deles. Acabei por ganhar um pouco de peso.

Quando terminava o vínculo? O Audax não quis libertá-lo?
Tinha contrato com o Audax até 30 de novembro. O clube não queria libertar-me, queria dinheiro, uma compensação. Passei por dois meses muito complicados, em que não sabia o que ia ser da minha vida. Quando a situação se desbloqueou, acabei por chegar ao Levante, não na melhor forma. Ainda contratei um personal trainer, quis correr contra o tempo, mas acabei por ter uma lesão na coxa, depois quis voltar antes do tempo e tive uma recaída. Ou seja, no primeiro ano no Levante acabei por fazer poucos jogos. E, no segundo ano, o Levante contratou outro treinador, Lucas Alcaraz, que me disse que no sistema de jogo dele eu ia ser pouca opção, teria de jogar fora de posição. Entretanto, surgiu a possibilidade de ser emprestado a clubes espanhóis, mas os meus filhos também estavam com um pouco de dificuldades na adaptação ao colégio, devido à língua e quando apareceu a hipótese de ser emprestado ao Moreirense, aceitei.

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    A casa às costas

    O primeiro nome é Clecildo, mas como não marcava golos resolveram passar a chamá-lo pelo segundo e terceiro nomes, Rafael Martins, e tornou-se goleador. A história do avançado do Casa Pia AC, começa em Santos, mas salta rapidamente para Porto Alegre, onde jogou no Grêmio, antes de estrear-se na Europa, no Zaragoza. Uma gravidez de risco, de gémeos, devolveu-o ao Brasil. Foi jogador do Audax, de São Paulo, mas acabou por se aventurar de novo na Europa em 2013/14, desta vez em Portugal, no V. Setúbal, onde teve ordenados em atraso e receou pelo futuro, antes de voltar a Espanha, de que falaremos na segunda parte deste Casa às Costas, onde abordamos ainda os anos no V. Guimarães, China e Moreirense