Como surgiu a oportunidade de ser treinador no FC Tulsa, dos EUA, em 2018?
Foi no curso da UEFA A, nível III, onde conheci um dos diretores desse clube, que passado uns tempos fez-me a proposta. Fui e adorei os EUA.
Do que mais gostou?
Da cultura desportiva.
Em que aspeto?
Eles são extremamente competitivos. Os treinos eram maravilhosos. Gostei muito da alegria que põem no desporto, têm motivação de ganhar e de serem melhores todos os dias. É mesmo uma questão cultural e mental. Eles querem ser os melhores em tudo, seja no que for. Obviamente não há subidas nem descidas de divisão, mas há campeão. Há o querer ser o melhor da sua conferência, há a Taça.
Mas ao nível de competições internacionais…
De facto não é muito motivante. Há coisas a melhorar como há em todo o lado. Mais tarde ou mais cedo vão adotar um sistema parecido ao europeu. Eu adorei tudo, porque é diferente. Nem consigo explicar bem. Resumo a competitividade que eles têm dentro do balneário, nos jogos, a audiência. Eles vendem o produto como um espetáculo e és obrigado a dar espetáculo. Um treinador que vá para lá a querer ser demasiado defensivo não se vai dar bem.
O que alterava na competição norte-americana?
Aquilo que se calhar mudaria para tornar a coisa um pouco mais apimentada nos EUA seria mesmo as subidas e descidas de divisão porque tudo o resto têm. Sim, é verdade que se calhar precisam de mais know-how, principalmente europeu, no que diz respeito a treino. Para mim foi um choque, algumas coisas extra campo.
Como, por exemplo?
Não fazem refeições juntos. O nível de controlo de nutrição e o estarem juntos, não existe. Mesmo quando às vezes estávamos três semanas a jogar fora de casa, não havia o hábito de comerem juntos. Fui instituindo isso devagar, porque não queria provocar um choque cultural muito grande. Eles são pessoas abertas ao conhecimento, podem estranhar, mas não põe entraves. É uma sociedade ótima porque se baseia na meritocracia, mas se calhar também em demasiado, porque provoca desde uma tenra idade neles uma enorme tensão e pressão. Os jogadores são escolhidos por drafts, de análises feitas durante o ano aos jogadores que jogam nas faculdades. Isso é uma pressão enorme. É uma sociedade que também tem as suas imperfeições. Na Europa existe mais apoio da parte das academias, dos treinadores, dos psicólogos, de toda a gente. Nos EUA tens de ser tu a maioria das vezes a demonstrar que consegues lá chegar, com ou sem ajuda. É uma sociedade mais dura nesse sentido.