Perfil

A casa às costas

“Fiz coisas das quais tenho vergonha. Roubei, andei à porrada até com a polícia. Era um adolescente revoltado. Portugal ajudou-me muito”

Yohan Tavares, central de 34 anos a jogar na II divisão francesa, confessa que na adolescência foi um rebelde e os pais chegaram a ter de ir buscá-lo à polícia. Portugal foi uma espécie de tábua de salvação, mas acabou por partir, para jogar na Tailândia, em Chipre e em França, embora tenha regressado sempre pelo meio, para jogar em Setúbal, Tondela e na B SAD. Pronto para estrear-se no papel de pai, dentro de aproximadamente um mês, diz-se um cidadão do mundo, que ama viajar não olhando a gastos nessas alturas e que gosta muito de ler, desde os clássicos como Hemingway, até livros de futebol

Alexandra Simões de Abreu

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Em 2016/17 não renovou com o Estoril Praia e foi jogar para a Tailândia. Porquê?
O Estoril fez-me uma proposta, mas eu achava que o meu ciclo no clube já tinha acabado e que não ia renovar. Recebi muitas propostas, fui ter com muitas pessoas e de repente há uma pessoa, com quem trabalhei no Beira-Mar, que diz que vai integrar o staff de um treinador brasileiro no Bangkok United, da Tailândia, e que queria contar comigo.

Foi só isso que o levou a aceitar?
Eu gosto muito de viajar, muito, muito. Comecei a pensar que, em termos de experiência cultural, ia ser incrível, muito enriquecedor. Se calhar ao nível de futebol não tanto, mas financeiramente também era interessante e resolvi aceitar.

Foi sozinho?
Não, a Anne Sophie foi comigo para todo o lado.

Já conhecia Banguecoque? Quais foram as primeiras impressões?
Não conhecia e o primeiro choque foi o calor. A minha namorada perguntava se eu conseguiria jogar com aquele calor [risos]. Havia muita humidade e ainda por cima os jogos eram à tarde. Até eu duvidei. Mas estava tudo bem organizado. Em termos culturais foi brutal, as pessoas são muito acolhedoras, abertas.

Do que gostou mais e menos desse ano na Tailândia?
Mais foi conhecer outra cultura, pessoas budistas com uma mentalidade diferente, uma alegria de viver sem ter nada de nada. Também consegui viajar bastante na Ásia, porque é tudo mais perto. Estive na ilha de Koh Tao, conhecida por Ilha das Tartarugas, e é incrível. Passámos três dias inteiros na água, nadámos com os peixes. O menos, se calhar a distância que estava da família e dos amigos.

Houve algo que o tivesse marcado muito nessa época no Bangkok United?
No fim de cada jogo recebíamos prendas dos adeptos. Eles ofereciam comida, bolos, fruta, etc. Uma vez pedi desculpa a uma família e disse que não gostava muito de bolos, perguntaram-me do que eu gostava, eu disse chocolates e a partir daí parece que passaram a palavra porque cada vez que finalizava um jogo eu voltava para casa cheio de chocolates e bolos de chocolate [risos]. Mas o mais incrível foi quando vim embora: perguntaram a que horas era o meu voo, foram ter comigo ao aeroporto e começaram a chorar. Eu e a minha namorada ficamos sem saber o que fazer. Aliás, quando íamos a sair do prédio para ir para o aeroporto, os rececionistas fizeram questão de chamar os managers, que vieram abraçar-se a nós a chorar, a dizer que gostavam muito de nós. São pessoas com um coração enorme. E tenho outro episódio incrível com eles.

Conte.
Quando saí da Tailândia e vim jogar para o V. Setúbal, um dos adeptos de lá perguntou à minha namorada através do Instagram qual era a nossa morada. Ela deu, pensando que se calhar vinham visitar Portugal e queriam ver-nos. Mas, nos nossos anos - eu faço anos dia 2 e a minha namorada três dias depois - recebemos bolos da Tailândia, a dizer "Parabéns, nós não nos esquecemos de vocês, esperamos que voltem rapidamente a Banguecoque". Achamos isso incrível. Repare, não é enviar do Porto para Setúbal, é da Tailândia para Setúbal.

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