Nasceu na França. Os seus pais são ambos portugueses? Fale-nos um pouco da família.
O meu pai, Miguel Tavares, é português, a minha mãe é francesa e chama-se Véronique. O meu pai emigrou para França, trabalhava na loja FNAC e conheceu a minha mãe através de amigos. Quando eu era pequeno, a minha mãe trabalhava como costureira. Tenho dois irmãos, eu sou o do meio.
Deu muitas dores de cabeça aos seus pais?
[Risos] Demasiadas. Nós os três éramos terríveis, sobretudo eu e o meu irmão mais velho, fazíamos muitas partidas.
Conte-nos uma história que ainda hoje recordem nos almoços de família.
No verão, íamos de autocarro de Tours para o Porto, com os meus avós paternos, porque a família do meu pai é de Castelo de Paiva. Uma vez, eu e o meu irmão estávamos a brincar com uns primos e o meu irmão andava a saltar e acabou por partir a língua em dois. Teve de ir para o hospital e ser cozido. Quando os meus pais chegaram a minha mãe perguntou se estávamos bem, eu respondi “sim” e o meu irmão começou a responder “hum, hum” [risos]. Falava mal, por causa da língua e a minha mãe, que não sabia de nada ainda: “Fala como deve ser, se não falares bem vais apanhar” [risos]. Ainda hoje nos rimos da situação.
Quando vinha passar férias a Portugal, do que mais gostava?
Quando somos crianças achamos a vida em Portugal a melhor do mundo porque chegamos no verão, havia muita família, era só jantares, churrascos, praia, não havia escola, só brincadeira com os primos e estava sempre toda a gente feliz. Achávamos que era o ano todo assim, em Portugal [risos]. Com o avançar dos anos é que percebemos que só apanhámos a fase boa de Portugal.
O que dizia querer ser quando fosse grande?
Não me lembro muito bem. Se calhar veterinário porque eu gostava muito de animais.
Gostava da escola?
Não. Não era bom aluno, só gostava de lá ir para brincar.
Faltava às aulas para ir jogar à bola?
Faltava, sim, mas eu não jogava à bola, jogava basquetebol. Comecei a jogar futebol muito mais tarde. O primeiro desporto que pratiquei foi basquetebol. Depois o clube de basquete da minha cidade fechou e tive de encontrar outra opção. Dois dos meus amigos foram para o futebol e eu disse que também ia. Comecei a jogar futebol assim. Tinha uns 14 anos. A partir daí foi tudo muito rápido. Primeiro estive num clube de uma aldeia perto de Tours. Havia um programa de deteção para selecionar os melhores jogadores e fazer uma equipa da região. E no primeiro ano entrei nessa equipa.