Nasceu em Cabo Verde. Descendente de quem?
Nasci no Tarrafal, ilha de Santiago. A minha mãe, Faustina Sanchez, era doméstica. O meu pai, Pedro Soares, emigrou para Portugal muito cedo, antes de 1975. Primeiro começou a trabalhar na construção civil, depois mudou-se para a Siderurgia Nacional. Eu vim para Portugal com cinco anos.
Recorda-se dos primeiros anos em Cabo Verde?
Muito pouco. Tenho memória de andar na rua a brincar descalço, só de cuecas [risos].
Tem irmãos?
Somos sete no total, eu sou o caçula. Quatro homens e três mulheres, todos do mesmo pai e mãe.
Veio viver para onde?
Para a zona antiga da Amora, ao pé do rio.
Foi um choque muito grande a mudança da ilha de Santiago para a Amora?
O meu pai deixou a minha mãe e filhos em Cabo Verde e pouco a pouco trouxe a família. Houve uma altura em que a minha mãe veio, eu fiquei com as minhas irmãs mais velhas. Os últimos a vir para Portugal fui eu e o meu irmão antes de mim. Claro que foi um choque de realidades. Não conhecíamos nada, só víamos pela televisão e naquela idade não tínhamos noção das coisas. Mas foi uma felicidade enorme reencontrar toda a família.
O que mais estranhou quando cá chegou?
As luzes [risos]. Muita luz. Em África não há muita luz artificial, por isso, foi das coisas que mais me marcaram. Era tudo muito iluminado.
Continuou a poder brincar na rua?
Sim, era uma zona muito familiar, já conheciam os meus pais, dava para passar muito tempo na rua, claro que não andava com tanta liberdade como em Cabo Verde. Mas era um miúdo muito tranquilo, muito calmo.
Da escola, gostava?
O suficiente. Aprendia com facilidade, não era muito dedicado e hoje arrependo-me. Fui um aluno normal.