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A casa às costas

“O Real Madrid queria ficar comigo, mas o presidente do Estrela pediu muito dinheiro. Eu era um miúdo, convenceram-me a ir para o Valencia”

Serão poucos os que se lembram da jovem promessa do Estrela da Amadora, João Moreira, mas o avançado que esta semana completa 37 anos, foi cobiçado pelo Benfica, o FC Porto e até Real Madrid. A imaturidade e a falta de apoio levaram-no a passar ao lado de uma carreira ao mais alto nível. Foi comprado pelo Valencia, mas só lá jogou na equipa B, jogando também II Liga portuguesa. Voltou ao Estrela onde não lhe pagaram e acabou a circular por clubes da II e III divisão espanhola, até mudar o rumo da carreira, com a ida para o Brunei. Na segunda parte falamos dessa e de outras aventuras na Nova Zelândia, Malta e África do Sul

Alexandra Simões de Abreu

Adam Davy - EMPICS

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Nasceu em Lisboa. Comece por apresentar a família.
Sou filho de dois cabo-verdianos, Moisés Moreira e Emília Barros. A minha mãe era empregada doméstica e o meu pai sempre foi cabeleireiro, até hoje. Tenho um irmão mais velho três anos, o Nelson, e da parte do pai ainda tenho duas irmãs mais novas. Os meus pais separaram-se eu tinha 11 anos, mas sempre se deram bem, são amigos até hoje, consigo tê-los juntos em videochamadas.

Cresceu onde?
Sou do bairro Casal dos Machados, entre Moscavide e os Olivais.

Deu muitas dores de cabeça em casa?
Não, eu era o calminho, o meu irmão é que era o líder da festa [risos].

Gostava da escola?
Eu era bom estudante, mas depois comecei a ter interesse pelo futebol e chegou aquele momento em que nos afastamos dos estudos. Mas a minha mãe diz que eu gostava da escola.

O que queria ser quando fosse grande?
Bombeiro [risos]. Sempre tive essa panca, mas não faço a mínima ideia de onde surgiu, se foi de algum brinquedo ou desenho animado.

Recorda-se como e quando surgiu o interesse pelo futebol?
Na verdade, não tinha muito interesse pelo futebol. O meu irmão jogava no Olivais e Moscavide, estava perto de ficar no Sporting, e ele é que disse para eu ir com ele treinar nas escolinhas do Sporting. Fui, fiz uns treinos e gostaram. Mas não tinha possibilidades de ir para lá, era muito complicado, era pequeno, o dinheiro não abundava e os treinos do meu irmão eram a horas diferentes das minhas. Devia ter uns nove ou dez anos. No ano seguinte o meu irmão regressou ao Olivais e Moscavide e mais uma vez veio chatear-me: "O meu amigo é treinador dos infantis e quer ver-te". Lá fui às captações e foi aí que começou o meu percurso.

Antes disso jogava apenas no recreio e no bairro?
No bairro havia uns torneios de futebol de salão e era pelo futebol de salão que eu tinha verdadeiro interesse naquela idade. Jogávamos muito futebol de salão, era isso que me mantinha ligado ao futebol. Foi o meu irmão que me levou para o futebol de 11.

Torcia por algum clube?
A minha mãe diz que era por todos, era pelo que ganhava [risos].

Tinha ídolos?
Sempre tive um, o Ronaldo, o Fenómeno.

O que mais guarda na memória da vida no bairro?
A amizade e a paz. Ainda tenho os mesmos amigos de infância e estamos em contacto permanente, o que é muito bom.

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