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A casa às costas

“No Olhanense tínhamos salários em atraso. Cheguei a fazer comida para levar a dois colegas. Um partiu um dente e não podia ir ao dentista”

Com 41 anos, Rafael Bracali já ultrapassou o pai na longevidade como guarda-redes. Tem contrato até final da época com o Boavista e já prepara o futuro em várias frentes, todas relacionadas com o futebol. Nesta segunda parte do Casa às Costas, o brasileiro conta como viveu a época em que foi campeão pelo FC Porto e explica como acabou emprestado ao Olhanense. Após dois anos na Grécia pensou em regressar ao Brasil e fixar-se por lá, mas um convite do FC Arouca mudou-lhe os planos e o rumo da vida que agora, garante, passa apenas por Portugal

Alexandra Simões de Abreu

Rui Duarte Silva

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Quando chegou ao FC Porto, vindo do Nacional, que principais diferenças notou?
O Nacional teve um avanço muito grande em resultados desportivos dentro do campo, mas fora dele, quando cheguei, ainda havia muita coisa para crescer, eles tinham muita dificuldade. Quando cheguei no Futebol Clube do Porto a preocupação do jogador era apenas treinar e jogar. Tanto que no fim do primeiro ano, em que fomos campeões nacionais, a sensação que tive, com os jogadores que lá estavam e ganhavam sempre, é que a emoção não era a mesma. Foi mais um, ganhou-se mais um, porque eles ganhavam quase sempre tudo. Tive a sensação de um título pouco comemorado por ser mais um título. Mas é um clube grande, com uma estrutura completamente diferente do Nacional.

O ambiente no balneário também era muito diferente?
Sim, tinha grandes jogadores de seleções, da seleção do Uruguai, da Colômbia, de Portugal, havia um conjunto de craques. O Helton também era da seleção brasileira, o Hulk ainda não tinha ido à seleção, mas foi logo a seguir, o Kléber esteve na seleção sub-21 do Brasil, havia ali muita estrela no balneário. Eu cheguei no FC Porto com 30 anos, eles foram meus adversários durante algum tempo, quando passei para o lado deles estava curioso por ver como era o seu comportamento, como treinavam, como se preparavam. Nunca tinha atingido aquele patamar, nunca tinha estado com aquele nível de jogadores, queria aprender com eles, porque se eram os campeões, eram os melhores e devemos aprender com os melhores.

Daquilo que observou, o que aprendeu, o que o entusiasmou e o que o desiludiu?
O que me desiludiu foi, mais uma vez, o treino específico de guarda-redes. Imaginava que ia dar um passo que ainda não tinha dado na minha carreira, que ia aprender coisas ou corrigir erros. Fui com uma expectativa muito grande de evolução. Pensava, se calhar vou jogar numa equipa em que a bola vem ainda menos, vou ter de jogar mais adiantado, tenho de preparar-me também para esse tipo de situação. Mas a minha maior desilusão foi com o treino específico de guarda redes.

O treinador dos guarda-redes era o holandês Wil Coort?
Exatamente. Quando cheguei no FC Porto, estavam na baliza o Helton e o Beto, que depois saiu emprestado, e fiquei eu, o Helton e o Kadú.

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    A casa às costas

    Apesar de ser filho de peixe, Rafael Bracali só começou a navegar nas redes da baliza na adolescência. As conversas que ouvia em casa entre o pai e a mãe, a pressão que indiretamente sentia, fizeram com que se dedicasse primeiro ao futsal, como fixo. Um dia acabou por experimentar o futebol de 11 e, pouco depois, a baliza, por um acaso. O pai quis treiná-lo, com tudo o que isso tem de bom e de mau, como explica nesta primeira parte do Casa às Costas. Veio para o Nacional da Madeira à espera de aprender e evoluir muito mais, mas a realidade trocou-lhe as voltas e teve de fazer por si, até alcançar a cobiça dos três grandes. Foi o FC Porto quem o convenceu, mas sobre a passagem pelo Dragão falamos na segunda parte