Nasceu onde e é filho de quem?
Nasci na Suíça, em Roveredo, na parte italiana da Suíça. Os meus pais são emigrantes, ainda hoje trabalham na Suíça, mas estão quase a regressar com a reforma.
Trabalham no quê?
O meu pai sempre trabalhou na área da construção civil e a minha mãe nas limpezas e como baby-sitter.
Tem irmãos?
Tenho um irmão mais velho oito anos.
Ficou na Suíça até que idade?
Até aos dois anos, depois os meus pais regressaram a Portugal, a Vieira do Minho, de onde é toda a família.
A paixão pelo futebol vem desde criança?
Sim, estava sempre com a bola debaixo do braço e jogava até às tantas na rua e na escola também. Uma vez na escola pedi à professora para ir à casa de banho, tinha oito ou dez anos, e a professora Manuela, que curiosamente é sogra do meu irmão, deixou-me ir. Eu queria era jogar futebol. Como demorei muito ela saiu da aula para ir buscar-me e estava eu a jogar à bola, não tinha ido à casa de banho [risos].
Não gostava da escola?
Gostava. Gostava de lá estar porque ir para a escola também tinha esse lado dos intervalos e de jogar à bola com os amigos. Também fazíamos outro tipo de brincadeiras, lembro-me de na altura haver os Tazos e jogávamos muito isso.
Sempre disse querer ser jogador de futebol?
Sim, sempre tive o sonho de ser jogador de futebol. O meu pai foi guarda-redes, no Vieira do Minho. Lembro-me de uma situação em que a equipa dele perdeu 12-0 num jogo e, mesmo assim, ele foi o melhor em campo. Quando ele conta essa história, parto-me a rir. Depois partiu o braço e a partir daí teve muitas dificuldades, infelizmente não conseguiu singrar. O meu irmão, Romeu Ribeiro, também sempre esteve ligado ao futebol, quando eu era muito miúdo, ele estava no Benfica, fez a formação toda lá, estreou-se pela equipa principal com 18 ou 19 anos, na Champions League. Eu via aquilo como um grande exemplo e já tinha essa vontade em mim.

Em criança, já com o equipamento do Benfica
D.R.
Sabe porque é que os seus pais deram-lhe o nome Yuri?
Havia um jogador que se chamava Yuri, os meus pais gostaram do nome e deram-me o mesmo.
Quem eram os seus ídolos?
Quando eu era pequenino olhava muito para o Coentrão, naquela altura que ele jogava no Benfica.
E torcia por que clube?
Sempre gostei muito do Inter. Jogava PlayStation contra o meu irmão e a equipa que mais gostava era a do Inter, aquela equipa do Adriano, do Zanetti, do Materazzi, do Cambiasso. E torcia pelo Benfica.
Com quantos anos é que começou a jogar num clube de futebol e como foi lá parar?
Os meus pais sempre me deixaram ser aquilo que quisesse, eu fiz a trajetória praticamente igual ao meu irmão, pisei os passos que ele pisou. Por isso comecei com mais ou menos sete anos, na escola de futebol "Os Craques". O meu irmão já tinha estado com eles no Vieira, no clube, ainda “Os Craques” não tinha sido formado. Fui progredindo e com 13 anos surgiu o interesse do SC Braga.
Nessa altura os seus pais continuavam em Portugal?
Até eu ir para Braga, sim. Quando fui para o SC Braga o meu pai foi novamente para a Suíça trabalhar, as condições não eram boas em Vieira, havia muita gente que lhe devia dinheiro e ele foi obrigado a emigrar outra vez.
Foi viver sozinho para Braga?
Não, havia uma carrinha que vinha diariamente buscar-me e a mais três colegas, andávamos todos na mesma escola. Era um pouco desgastante, havia alturas em que só tinha aulas de manhã, mas outras vezes tinha aulas todo o dia e só saía às seis e meia, íamos logo treinar para Braga e só chegava a casa às dez e meia ou onze da noite. Mas, quando se faz as coisas com paixão isso também acaba por passar ao lado.

Com o irmão, Romeu Ribeiro
D.R.
Foi muito difícil sair da realidade de “Os Craques” e passar logo para o SC Braga?
O difícil foi que eu estava habituado a jogar futebol de sete e, quando cheguei ao SC Braga, há a alteração para futebol de 11, num campo maior e mais tempo de jogo. Mas é aquele processo natural que todos os jogadores passam. A dificuldade maior era ter de conciliar com os estudos, porque os meus pais sempre o exigiram, e muito bem. Não tinha muito tempo para estudar.
Algum treinador ou algum colega que o tenha marcado mais em Braga?
Os treinadores que apanhei marcaram-me todos. Mas neste caso lembro-me do mister Tonau [António Dias da Silva] e do mister Pedro Duarte, dois treinadores que me ajudaram muito. O mister Tonau foi o primeiro que me adaptou a defesa esquerdo, foi com ele que comecei a jogar a defesa esquerdo.
Até aí jogava em que posição?
No futebol de sete jogava muito a extremo esquerdo e no meio campo também, mas era um futebol diferente em que eu fazia muita diferença, marcava muitos golos. No futebol de 11 comecei a jogar mais atrás, a defesa esquerdo e gostava. Aliás, até tenho uma história engraçada. Quando fui para o Braga, no dia anterior a ter de apresentar-me, caí de bicicleta e cheguei ao SC Braga cheio de Betadine na cara [risos]. Doía-me muito o pulso também, porque caí e bati numa parede. Dormi cheio de dores nessa noite, mas eu não podia perder aquele treino, era o primeiro, e fui na mesma, cheio de dores. No primeiro lance do treino, caí e parti o pulso. Como já estava cheio de dores se calhar até já estava partido, mas mal caí parti o pulso e parei três semanas. Entretanto, um colega, o Rui Gomes, fez essas três semanas a defesa esquerdo e quando eu regressei fiz uma semana de treinos e joguei logo a defesa esquerdo. Ele ficou chateado, ainda hoje quando falamos disso, gozamos um com o outro.

Yuri chegou à equipa B do Benfica com 18 anos
D.R.
Entretanto, surgiu o interesse do Benfica. Através de quem?
O meu treinador no “Os Craques” também trabalhava para o Benfica. O interesse começou a surgir principalmente no 2.º ano, durante o campeonato comecei a fazer muita diferença. Lembro-me que fizemos um torneio em Lisboa, em que jogámos contra o Benfica, ganhámos na final, eu tenho um lance em que passo por toda a gente, foi um jogo em que fiz muita diferença. Entretanto, fui a Lisboa fazer uns treinos com o Benfica e quiseram que eu assinasse. No SC Braga queriam que eu assinasse também contrato de formação, mas como eu sabia que ia para o Benfica, não assinei e colocaram-me um bocado de parte. Ainda fiquei uns quatro, cinco meses sem treinar, mas era novo, tinha 14, 15 anos e isso acabou por não me afetar, até porque desde muito cedo fui sempre muito forte mentalmente. Fui para o Benfica e entrei logo para a equipa dos mais velhos. Era suposto ir para os juvenis B, mas fui logo para os A.
Quando foi para Lisboa ficou a viver onde e com quem?
Fui para o Centro de Estágio do Benfica onde fiquei até aos 18 anos.
Foi muito difícil sair de casa?
A primeira e segunda semanas foram muito difíceis. Lembro-me que foram os meus pais quem me levaram, ainda parámos em Fátima, quando chegamos ao centro de estágio, o senhor Sérgio, que era quem tomava conta de nós com o senhor João, veio buscar-me à receção e há aquele corte de ligação quando ele diz: “Agora vens comigo”. Olhas para os teus pais e é complicado.
À noite a almofada ficou muito molhada?
Provavelmente.
Ficou no quarto com quem?
O primeiro com quem fiquei foi com o Kévin Oliveira. Depois fiquei com o Rui Gomes, que chegou mais tarde.
Como foram as primeiras sensações no Benfica? Havia muita diferença para o SC Braga?
Havia. O SC Braga está cada vez melhor e tem cada vez melhores condições, dá para ver isso, mas na altura o Benfica era muito superior. No centro de estágio tinha tudo do melhor. Tinha campos de treino incríveis, senti logo a grandiosidade do clube. Estava noutro patamar.
Quem foi o seu primeiro treinador no Benfica?
O mister Renato Paiva, uma pessoa por quem tenho muita admiração. Ajudou muito na minha evolução. Fui logo para a equipa dos mais velhos, se a qualidade dos da minha idade no Benfica já era muito boa, então dos mais velhos ainda era maior. Lembro-me que quando cheguei senti que tinha muito a trabalhar, muito para melhorar, senti essa diferença mesmo nos treinos, que estava um bocado abaixo dos outros.

A cumprimentar os adeptos na bancada
D.R.
Nunca teve vontade de desistir?
Não, antes pelo contrário, olhava para aquilo como um desafio. Não joguei até janeiro, mais ou menos, era suplente. Os meus primeiros quatro, cinco meses foram de adaptação, mas quando me adaptei “explodi”. A partir de janeiro tivemos a fase final, fomos campeões e lembro-me que comecei a fazer a diferença.
Estava na adolescência, nunca lhe subiu à cabeça o facto de ser jogador do Benfica?
Não. Mantive sempre os pés na terra. Julgo que foi em janeiro que assinei contrato profissional, eu e mais nove ou dez jogadores. A geração de 97 tinha muita qualidade. Mas nunca me subiu à cabeça. Venho de uma vila, neste caso de Vieira do Minho, onde gostava de jogar futebol na rua com os meus amigos, e eu trazia a humildade da minha vila de Vieira do Minho. Quando cheguei ao Benfica, onde se tem tudo, não falta nada e é um clube gigante, eu levei as minhas essências, as minhas raízes e nunca me esqueci de onde vinha.
Quanto ganhou no seu primeiro ordenado?
300€, se não me engano.
O que fez ao dinheiro?
Para ser sincero, eu vivia no centro de estágio tinha tudo, por isso só gastava quando ia para a escola. Muitas vezes não tomávamos o pequeno-almoço no centro de estágio para poder acordar um bocado mais tarde, mas antes de irmos para as aulas parávamos todos num café e comprávamos o pequeno-almoço.
Não havia nada que quisesse muito comprar ou juntar para comprar?
Sempre fui muito cuidadoso. Gostava de guardar algum dinheiro. Lembro-me que às vezes saímos um grupo de cinco ou seis para ir ver os jogos da equipa A e em vez de irmos logo para o estádio, naquela hora antes do jogo, íamos para o Colombo comer ou fazer umas compras. Depois, quando assinei o primeiro contrato profissional, passei a ganhar talvez 1000€ e tentava guardar todos os meses 500€.
Recorda-se da primeira saída à noite?
Recordo, devia ter uns 16 anos. Mas nunca fui muito de sair à noite, não bebia álcool e também não gostava muito de sair, sempre fui mais de ficar por casa. A primeira saída à noite acho que nem foi em Lisboa, talvez tenha sido num momento qualquer quando fui ao norte e fui com amigos meus. Nunca sai à noite em Lisboa.

Yuri com os pais nos festejos do título de campeão nacional de 2018/19
D.R.
Entretanto, passou para a equipa B.
Quando me estreei na equipa B era júnior de 1.º ano, tinha 18 anos e acho que foi a última ou na penúltima jornada contra o Vitória de Guimarães.
Estava muito nervoso?
Não muito. Depois no meu 2.º ano de júnior comecei a jogar na equipa B. No meu 1.º ano dividia a posição com o Rebocho e vivia com ele, o Raphael Guzzo e com o João Lima num apartamento ao lado da academia. Foi fantástico porque dávamo-nos todos muito bem, estávamos sempre a brincar.
Conte uma ou duas brincadeiras que fizeram.
Há uma história muito engraçada. Nós temos um amigo, o Artur, que é cabeleireiro e há uma altura que ele vem jogar PlayStation connosco. Estava a jogar com o Guzzo e fizeram uma aposta, aquele que perdesse o jogo tinha de ir a correr nu pelo Seixal e tinha de ser gravado. O Artur perdeu e começou a dizer: “Ah, eu não vou andar aqui a correr nu”. Começou a gozar e foi-se embora. Ficamos todos a olhar uns para os outros. Nós tínhamos um terraço gigante no prédio e havia umas três caixas de ovos no frigorífico. Cada um pegou numa, começámos a correr lá para cima. Assim que ele saiu do prédio, começámos a atirar os ovos [risos]. Só me lembro dele a correr, a dizer que tínhamos sujado os ténis novos. Não nos falou durante duas semanas [risos]. Às vezes, fazíamos dessas, íamos atirar ovos pela janela e era muito divertido ver as pessoas a olhar para as árvores a tentar perceber de onde vinham [risos].
Como foi a adaptação à escola, no Seixal?
Quando comecei a jogar mais pela equipa B, os treinos eram de manhã, começou a ser um pouco mais difícil. Fui estudar à noite numa escola secundária da Amora mas, para ser sincero, era muito difícil. Acabei por deixar os estudos, concluí o 10.º ano, mas agora estou a terminar o 12.º ano online.

Yuri mostra o cartão de sócio do Benfica
D.R.
Quando foi chamado, e por quem, à equipa principal do Benfica?
A primeira vez que fui treinar à equipa principal foi com o mister Jorge Jesus. Devia ter uns 17 anos. Acabou por ser bom porque estás a treinar com jogadores de alta qualidade. Lembro-me que estava habituado a receber a bola e a ter tempo para pensar e ali não havia tempo para pensar e obriga-te a evoluir, a pensar mais rápido.
Ficou com as orelhas a arder por ouvir do Jorge Jesus?
Com os jogadores que não faziam parte da equipa principal ele era mais tranquilo do que com os que faziam parte do plantel. Aí notava-se que havia uma exigência 100 vezes maior. Quando era um jogador da formação que ia lá, para ser sincero, no meu caso, nunca levei nenhuma dura dele.
Quando começou a ser chamado com mais regularidade?
Já foi com o mister Rui Vitória, foi aí que me estreei, num jogo contra o Real Massamá para a Taça.
Nessa altura já lhe tremeram as pernas?
Sim, aí estava muito nervoso, era o meu primeiro jogo, foi também assim uma chamada repentina. Começas a pensar naquilo tudo que está para trás, desde o momento em que chegaste ao Benfica. Mas foi incrível.
Nessa época em que foi chamado pelo Rui Vitória, fez apenas dois jogos.
Sim, contra o Real Massamá e se não me engano contra o Vizela, em casa, foi o meu primeiro jogo no Estádio da Luz. Foi um jogo de Taça de Portugal e o outro da Taça da Liga.
Gostou de trabalhar com Rui Vitória?
Gostei muito dele e de toda a equipa técnica, eram todos pessoas extraordinárias, das melhores pessoas que encontrei no futebol. O mister foi o primeiro treinador que apostou em mim, acreditou em mim. Depois da minha época no Rio Ave, foi com ele também que regressei ao Benfica, e por isso tenho muito respeito e apreço por ele.
Quando foi emprestado ao Rio Ave ainda fez pré-época com o Benfica?
Não, eu fui para o Mundial de sub-20 e já sabia do interesse do Rio Ave.

Rúben Dias, Yuri Ribeiro e Diogo Gonçalves, em representação da seleção sub-21
D.R.
Ficou triste e sentiu-se frustrado por não fazer parte dos planos do Benfica?
Triste não, fiquei um bocado frustrado porque pensei que ia fazer a pré-época. Mas ao mesmo tempo também pensava que era I Liga, eu precisava de jogar e o Rio Ave também contava com uma excelente equipa para eu poder evoluir. Era um regresso ao norte, o que acabava por ser bom porque ia estar mais perto da minha família, por isso encarei positivamente.
Foi viver para onde e com quem?
No primeiro mês, ia e vinha todos os dias de Vieira do Minho, era mais ou menos uma hora de viagem. Depois arranjei casa em Vila do Conde e adorei lá viver.
Sozinho?
Não, eu estava à procura de casa, entretanto com o decorrer da pré-época, comecei a ganhar ligação com alguns jogadores e em conversa com o Francisco Geraldes resolvemos dividir um apartamento, para os custos serem menores. Nesse ano vivi com o Francisco Geraldes.
Ele foi um bom companheiro de casa?
Foi muito engraçado, gosto muito dele mesmo. Foi muito engraçado viver com ele, porque ele tem uma pancada gigante.
Que tipo de pancada?
Tivemos muitas histórias... Assim, de repente, lembro-me de uma vez que ia para sair de casa e quando cheguei ao carro, ele tinha posto o carro dele literalmente a um centímetro do meu [risos]. Fazia de propósito. Outra: eu ia muitas vezes para Vieira do Minho, mas voltava na véspera do treino para não ter de acordar muito cedo. Chegava às onze e meia a casa e ia dormir. E há um dia em que entrei em casa, a tentar não fazer barulho, e entrei na sala e estavam sete pessoas que eu não conhecia de lado nenhum. Queres ver que entrei na casa errada? [risos]. Quando fui ver, o Chico estava a dormir, e nem me tinha avisado que estavam lá aqueles amigos dele. Sei lá, há tantas histórias com ele.
Conte mais uma.
Sei lá. Ele tinha coisas. Houve uma altura em que ele andava a ter aulas de piano, mas não tocava nada e eu fartava-me de gozar com ele. Queria aprender tudo, queria aprender piano, depois viola, depois queria ler não sei o quê, era muito engraçado. Lembro-me de um jogo da Taça de Portugal, que ganhámos, o jogo foi às três da tarde, chegámos a casa por volta das sete horas, ele vira-se para mim: “Vou fazer surf, queres vir?". Eu nem sabia que ele fazia surf [risos]. É uma figura e muito boa pessoa.

Yuri foi emprestado pelo Benfica ao Rio Ave, em 2017/18
D.R.
Sai do Benfica para o Rio Ave, sentiu que andou para trás?
Não. Senti que andei para a frente, porque no fundo eu estava na equipa B do Benfica e ia começar a jogar na I Liga. O Rio Ave apostava em jogadores novos, naquela posição já tinham vindo alguns jogadores a evoluir bastante, como o Rafa Soares, e eu olhava isso como uma coisa positiva, sabia que podia evoluir muito.
Qual foi o seu jogo de estreia na I Liga?
Foi contra o Belenenses, em casa. Ganhámos, mas não foi um jogo muito bem conseguido da minha parte, estava muito a jogar pelo seguro, naquela, deixa ver o que vai dar. Foi um jogo simples da minha parte, um jogo inteligente, digamos assim.
O Miguel Cardoso é muito diferente do Rui Vitória?
Adorei o mister Miguel Cardoso. Tenho pena que depois dessa época não tenha continuado o seu trajeto, porque tem tudo para ser um treinador de elite, acho que ainda tem muito para mostrar. Foi dos treinadores de que mais gostei, gosta de jogar futebol positivo, faz evoluir muito o jogador, por isso estou sempre a acompanhar e ansioso que ele comece um novo projeto porque ele merece.
Com quem dividia a posição no Rio Ave?
Com o Bruno Teles, uma excelente pessoa também. Comecei nesse jogo com o Belenenses, depois contra o Boavista faço um jogo incrível, faço duas assistências para golo e a seguir tenho uma pequena lesão na coxa e parei duas, três semanas, até falhei um ou dois jogos da seleção sub-21. Quando regressei, o Bruno estava muito bem, estávamos a ganhar e fiquei ainda uns cinco, seis jogos no banco, mas depois houve uma altura em que comecei a jogar e a partir daí explodi.
No final da época pensava regressar ao Benfica?
Sim, queria muito voltar ao Benfica, sempre foi o meu clube e continuava ligado ao Benfica. A primeira coisa que quis saber foi se o clube queria contar comigo. Toda a gente queria.

Yuri (à esquerda) durante um jogo pelo Rio Ave
D.R.
E que tal essa primeira época no plantel principal do Benfica?
Foi muito difícil. Dividi o lugar com o Grimaldo, que fez a melhor época dele no Benfica. Este ano está novamente a fazer uma época excelente, mas aquela época foi a melhor época dele. Eu não tive muito tempo de jogo no campeonato, joguei Taça e Liga Europa.
Como se lida com o facto de estar a ver um colega a jogar muito bem e perceber que dificilmente consegue “roubar-lhe” o lugar?
Como disse, sempre fui muito forte mentalmente, automotivo-me muito facilmente. Lembro-me de numa fase inicial pensar: “Tenho de trabalhar, vou continuar, vou manter a forma, a oportunidade vai chegar a qualquer momento”. Só que a oportunidade não ia surgindo e, quando as tive, chegaram numas alturas um bocado estranhas.
Pode explicar melhor o que quer dizer?
Por exemplo, o meu primeiro jogo, a minha oportunidade surgiu no regresso de um estágio de seleção, em que fiz uma viagem de cinco ou seis horas de avião. Cheguei, fiz recuperação, no dia a seguir vamos para estágio, em Coimbra, de autocarro, e eu jogo. Ou seja, após um jogo de seleção, joguei 90 minutos, passado dois dias. Até me lembro de fazer assistência para o Jonas. A minha segunda oportunidade foi quando fomos jogar ao Aves e eu tive uma gastroenterite. Foi depois do Natal, cheguei a Lisboa, tenho uma gastroenterite, passo a noite toda no hospital a apanhar soro, cheguei a casa às quatro da manhã e fui treinar às nove. Viajámos nesse dia para a Vila das Aves, eu estava a tomar comprimidos e joguei no dia seguinte, outra vez 90 minutos. Acabei por não jogar muito, mantive-me sempre forte mentalmente, mas depois, e isso trago também como uma aprendizagem, houve uma altura em que caí um bocado.
Refletia-se nos treinos?
Nos treinos não, mas tive ali alguns jogos em que reconheço que não me apresentei a um nível tão bom. Mas levo como uma aprendizagem na minha carreira, porque tanto no futebol, como na vida, temos de saber viver com esses momentos menos bons e essa é a diferença de quem sabe os ultrapassar e quem não sabe. Eu soube. Mas como não jogava muito, mais ou menos em janeiro estive quase para sair, tinha algumas ofertas de Espanha.
De onde?
Falava-se do Celta de Vigo, que era onde estava o mister Miguel Cardoso, tinham-me falado disso.
Quem era o seu empresário?
Era a Gestifute. Mas os clubes não chegaram a acordo, só estava o Grimaldo e o Benfica queria que eu ficasse. Fiquei, mas houve ali umas alturas em que fui um bocado abaixo mentalmente. Serviu de aprendizagem. Continuei a fazer o meu trabalho e bem, isso nunca ninguém pode apontar.
Quando Rui Vitória saiu e entrou Bruno Lage teve esperança de jogar mais?
Eu reconhecia que o colega da minha posição estava muito bem e que seria difícil. Agora, quando há uma mudança de treinador, todos os jogadores pensam: é um novo começo. Eu tinha os pés assentes na terra e reconhecia que o Grimaldo estava a fazer um bom trabalho, cabia-me estar sempre por trás dele a mostrar ao treinador que era uma opção válida.
O Bruno Lage teve alguma conversa consigo?
Não, basicamente as conversas todas que tínhamos era para manter o trabalho, que neste caso a opção era o Grimaldo. Se eu estivesse no lugar do treinador, faria exatamente o mesmo, ele estava bem, por isso não havia razões para mudar. Eu estava por trás do Grimaldo e ele sabia que não podia facilitar. Se ele faz uma época tão boa é porque também tem um colega de posição que está a puxar por ele e que o obriga a não facilitar porque está sempre à perna.

Com o amigo Francisco Geraldes
D.R.
Sente que acabou por não vingar no Benfica por culpa de um companheiro que estava em muito boa forma, a jogar muito bem, e por isso teve azar?
Eu penso de outra maneira, penso no lado positivo que é: acabei por ser campeão no Benfica.
Mas não jogou no campeonato.
Não, não joguei. Quando cheguei ao Benfica com 15 anos, se me dissessem que dali a sete ou oito anos ia ser campeão pela equipa principal do Benfica, não ia acreditar. Apesar de não ter jogado, eu penso, estive lá o ano todo. E acabámos por ser campeões, estávamos a sete ou mais pontos do primeiro e mesmo assim ganhámos o título.
Teve uma conversa com o Bruno Lage na véspera do último jogo. Que lhe disse ele?
Ele apenas quis manter as coisas iguais. Nós precisávamos ganhar, era o último jogo, e na opinião dele a outra equipa podia ver como facilitismo ele meter-me.
Uma coisa era ser titular, outra era jogar um ou dois minutos para poder ter o título no currículo. Não o confrontou com isso?
Disse-lhe que me sentia campeão na mesma, pouco me interessava se entrava 30 segundos ou um minuto em jogo para ser campeão, aquilo que mais queria era que a equipa fosse campeã. Eu sei que todos os capitães falaram com ele sobre isso, falaram mais do que uma vez, mas foi a opção dele.
Acha que foi uma teimosia?
Sim, acho que sim, mas eu respeito a decisão dos treinadores.
Ficou com alguma mágoa?
Fiquei, como é óbvio. Depois, quando fomos campeões, ele estendeu-me a mão e eu nem o cumprimentei. Foi uma coisa do momento. Hoje, se o visse, falaria com ele sem problema nenhum, mas isto faz parte do futebol. Eu não guardo mágoas, nem guardo rancores porque não faz parte da minha pessoa. Mas o futebol é o momento e no momento o que me passou pela cabeça foi nem cumprimentá-lo.
Tinha renovado contrato com o Benfica, entretanto, certo?
Sim, quando regressei do Rio Ave renovei até 2023.
Então quando chegou o final dessa época, quais eram os cenários que passavam pela sua cabeça?
Eu queria sair, para poder jogar mais e aí surgiu a hipótese do Nottingham.