Perfil

A casa às costas

“Gostava de tomar cerveja com amigos. Um dia, prometi: ‘Vou parar’. Dei 10 passos e o Braga liga a perguntar se queria jogar a Champions”

Artur Moraes explica como se tornou guarda-redes por ter levantando uma mão, por acaso. Natural do interior de São Paulo, desde criança tinha o sonho de jogar na Europa e descreve a importante passagem pelo Cruzeiro, onde foi campeão brasileiro, e as dificuldades por que passou em Itália, primeiro no Siena, depois no Cesena e também na Roma, de onde saiu para uma época inédita no SC Braga, que veio mudar a sua vida. Pelo meio conta episódios pessoais que nunca tinha revelado. Esta entrevista, que agora republicamos, foi das mais lidas da Tribuna Expresso em 2022

Alexandra Simões de Abreu

NUNO BOTELHO

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Nasceu no Leme, interior de São Paulo. Qual é a sua primeira memória de infância?
O apartamento onde morava no Brasil, em Campinas, e jogar à bola com os meus amigos.

O que faziam os seus pais?
O meu pai, Luís Eduardo, era chefe de armazém de uma grande marca de pneus, em São Paulo. Uma das lembranças que tenho é do meu pai acordar muito cedo, sair de casa e só voltar à noite. Quando ele chegava, por volta das sete e quarenta e cinco da noite, eu tinha de estar de banho tomado, pronto para ir jantar. Sempre. Às vezes, eu estava a jogar à bola na rua e era uma correria na hora em que eu via o autocarro dele chegar. Corria para casa para tomar banho rápido, para estar pronto [risos]. A minha mãe, Marta Elisa, ficou comigo em casa e com o meu irmão, Fábio, três anos mais novo, que é hoje advogado, tributarista. Mais à frente, a minha mãe foi trabalhar na escola onde eu estudei até aos 16, 17 anos.

Em que trabalhava a sua mãe?
Era professora de ensino religioso, depois foi coordenadora de pastoral.

Quando era criança e jogava à bola na rua, já escolhia a baliza?
Não, o futebol de rua não tinha muita posição, era livre, às vezes tinha guarda-redes, às vezes não tinha.

Tinha ídolos ou algum clube pelo qual torcia?
Grande parte da minha família era adepta do Corinthians e eu gostava muito do guarda-redes deles, da altura, o Ronaldo. Era um pouco fantasista, espalhafatoso e quando eu ia para a baliza brincar, sentia-me o Ronaldo.

Gostava da escola?
Não, odiava. Mas em casa tinha o acordo que para jogar futebol tinha de ir bem na escola, senão a minha mãe não me deixava ir aos treinos. A minha mãe teve várias brigas com os treinadores porque eles queriam que eu fosse treinar e ela dizia que não, batia o pé e não me deixava treinar. Depois vinha o meu pai e amaciava as coisas. Os treinadores diziam que a minha mãe era “louca”, porque eu ia ser jogador de futebol e que não precisava de estudar. Mas a minha mãe: “Não, ele vai estudar”. Minha mãe, mais do que o meu pai, sempre foi muito incisiva nos estudos.

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