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A casa às costas

“Na Coreia vi pessoas que nem para nadar no mar tiravam a máscara. Às seis da tarde tocava uma sirene e todos tinham de sair da água”

A jogar no Torreense, Renato Santos, de 31 anos, quer demonstrar que tem capacidade de voltar à I Liga portuguesa, mas um regresso a Espanha, onde tem casa, em Málaga, também não está fora dos planos. Com passagens pela Grécia e Coreia do Sul, onde encontrou homens e mulheres muito bonitos, com caras que parecem de porcelana, o extremo também jogou no Algeciras numa altura em que, confessa, tomou más decisões

Alexandra Simões de Abreu

NUNO BOTELHO

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Vão os três para Málaga em 2018. Como foi a adaptação a Espanha?
Fui logo surpreendido ainda no aeroporto, porque fui com o empresário para assinar o contrato e ele não me falou, mas também não sei se estava à espera ou não, da comunicação social que ia estar no aeroporto, um pouco à imagem a que assistimos aqui quando chega um jogador para o Benfica, o Sporting ou o FC Porto. Foi esse tipo de receção que tive no aeroporto de Málaga. Fiquei bastante surpreendido, porque era II liga espanhola. Lembro-me de pensar: “Isto é a sério”. Fui muito bem recebido pelas pessoas do clube. Senti que fui para outro nível. O historial do Málaga de Liga dos Campeões e tudo isso, notava-se que estava incutido nas pessoas e isso faz com que o clube seja maior, há uma grandeza e uma exigência muito grandes.

Foi isso que sentiu também durante a época ou percebeu que o clube desmoronava?
Não sentimos isso nessa época, porque eles mantiveram muitos jogadores da I Liga. As expectativas de subida de divisão eram elevadas.

O futebol praticado na II liga espanhola estava ao nível da nossa I Liga ou era inferior?
No geral, existe mais competitividade, não existe muita diferença entre os clubes. É muito difícil jogar na liga espanhola por os clubes serem muito idênticos. Um Málaga, um Granada, um Saragoça, esse tipo de clubes, podia jogar contra o último que iria ter dificuldades. Em Portugal, sabemos a priori que os três grandes, se jogarem contra o último classificado, o prognóstico do jogo é sempre a vitória. Lá não é assim, tornando o campeonato muito intenso e muito apetecível. Têm estádios muito bons, grandes, os adeptos vão bastante ao estádio. Em casa, no Málaga, tínhamos uma média de 18.000 espetadores. Recordo-me de jogos com 24.000 pessoas, o que para uma II liga é surpreendente.

O ambiente no balneário era idêntico ao português?
Diferente pela questão da língua, eles falam muito rápido. Quando cheguei, havia brincadeiras entre colegas que eu às vezes não consegui entender, não percebia. Eu tinha de dizer-lhes para falarem mais devagar para os poder entender; ainda por cima na Andaluzia “comem” as palavras e eles próprios o admitem. Mas o ambiente era muito bom. Estava com jogadores que tinham muita experiência na I Liga espanhola e isso foi bom.

Sentiu algum tipo de xenofobia da parte dos espanhóis?
Nunca senti nada disso no Málaga. Fui muito bem recebido, as pessoas do clube eram muito atenciosas, qualquer coisa que precisasse, ajudaram-me em tudo. Mas percebo o que quer dizer com a xenofobia, por os espanhóis serem muito patriotas, eles acham que são autossuficientes e bons em muitas coisas. Por exemplo, a questão do inglês, eles não praticam porque acham que não é necessário. É a cultura deles. Senti em algumas situações que eles não se esforçam para nos entender, enquanto nós portugueses temos essa facilidade. É algo cultural, nosso, tentamos fazer-nos entender e entender o outro. Mas eles têm mesmo dificuldade em mudar a forma de falar, não é só a questão de não quererem.

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