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A casa às costas

“Se sou uma das melhores jogadoras portuguesas acho justo eu ser a mais bem paga no meio”

Jéssica Silva completa este domingo 28 anos. A avançada que assinou com o Benfica até 2025, conta nesta segunda parte do Casa às Costas como evoluiu no Lyon, explica porque foi depois jogar para os EUA, antes de vir pela primeira vez como profissional para Portugal. Sempre de sorriso no rosto, fala das lesões em momentos cruciais, do futebol que encontrou cá, da seleção feminina, do assédio sexual e da polémica à volta de Ronaldo. Desvenda um pouco o que espera do futuro e confessa que está prestes a comprar casa e que quer muito ser mãe

Alexandra Simões de Abreu

TIAGO MIRANDA

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Foi para o Lyon, na França, em 2019/20. Gostou dos franceses?
Os franceses não são fixes, mas as minhas colegas eram. Éramos muitas internacionais no clube e foi muito bem recebida, por todas.

Ficou a viver sozinha?
Fui para lá com o meu namorado, mas acabámos passados dois meses e fiquei sozinha.

Sabia falar francês?
Não, detestava o francês, mas aprendi.

As condições do Lyon eram muito superiores às que teve no Levante, na Espanha?
Sim, tanto ao nível de relvados, como balneário, a própria dinâmica do clube era diferente. Senti-me ainda mais jogadora, só o facto de treinar diariamente num relvado era do outro mundo. No Lyon tínhamos um cozinheiro só para nós, para as equipas profissionais masculinas e femininas. Nós comíamos muito perto dos homens, havia uma interação incrível, depois havia uma cozinha só para as equipas de formação. E depois tinha um salário que nunca tinha tido até então.

O futebol na França é muito diferente do espanhol e do português?
Sem dúvida. Para já há muito mais competitividade. E não falo só do futebol ou do campeonato. A equipa por si só é super competitiva, muito evoluída e isso puxou por mim, tornei-me muito melhor jogadora, através do treino, porque no primeiro ano efetivamente não joguei quase nada.

Custava-lhe muito ficar no banco?
Custava-me mais quando eu percebia que o treinador podia ter apostado mais em mim. A direção do Lyon e a equipa técnica mudaram e o treinador que me quis lá foi embora. Sabia que ia ter mais dificuldade. Mas estava feliz porque sentia que evoluía enquanto jogadora. Eu chegava à seleção e sentia-me uma jogadora completamente diferente, muito mais rápida, mais inteligente.

A equipa técnica da seleção reconhecia-lhe essa evolução?
A equipa técnica e as minhas colegas. Eu gostava de treinar contra a Matilde Fidalgo que era mais rápida e de repente eu estou a dar arrancadas e a Matilde não me apanhava. Eu jogava contra a Ana Borges, que é lateral, e de repente era muito superior a ela. Eu conseguia perceber que, mesmo sem estar a jogar no Lyon, estava a evoluir e isso dava-me uma motivação extra. E o facto de estar com aquelas jogadoras e sentir o apoio delas, para mim era fantástico, porque elas percebiam ser doloroso para mim estar ali e o treinador não me dar oportunidade. Era uma opção dele. Mas senti que crescia e que mais tarde ou mais cedo ele ia ter de reconhecer.

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